- AS ELEIÇÕES DE 2026por blogdototonho
Tudo leva a crer que o processo eleitoral brasileiro, em 2026, especialmente se houver segundo turno, terá episódios semelhantes aqueles acontecidos nas últimas eleições francesas e outras democracias europeias.
Ante a ameaça da vitória da ultra direita de caráter fascista, liberais, social-democratas, socialistas e comunistas abandonaram momentaneamente diferenças ideológicas e programáticas e se uniram para ganhar as eleições.
Na França, apenas formalizaram um grande acordo, costurado as pressas entre as principais forças políticas do país, com Macron na presidência. Mesmo em crise, a Democracia Liberal encontrou, a sua maneira, instrumentos para se defender, objetivando escapar da ascensão do reacionarismo ao principal poder da República.
A esperança de todos os que prezam a Democracia é que o sistema político brasileiro e suas instituições resistam aos virulentos ataques perpetrados de forma contínua, que visam colocar o Brasil sob regime autoritário.
Mais uma vez o povo será resistência.
- SÃO PEDRO DA ALDEIApor blogdototonho
São Pedro D’Aldeia – Sérgio Quissak.
- PEQUENAS DOSESpor blogdototonho
Cabo Frio Educada
A secretaria de meio-ambiente, leia-se Jailton Dias Nogueira, lançou nessa quarta-feira, 9, no Convento de Nossa Senhora dos Anjos, o Programa Cabo Frio Educada. O prefeito Serginho Azevedo e o secretário estadual do meio ambiente, Bernardo Rossi, estiveram presentes no evento.
Apoio social e político
Não é fácil educar e realizar ações permanentes de preservação ambiental contra interesses de toda ordem, que adoram passar por cima das leis ambientais. Por essas e muitas outras o trabalho de Jailton Dias, Mauro Bernardo e Marcella Santanna tem que ser aplaudido pela sociedade e apoiado pelo meio político.
Coleta de lixo
Pelo volume constante de despejos de toda sorte de traquitanas e restos de obras em áreas de preservação talvez seja necessária a criação de um crupo dentro da COMSERCAF voltado apenas para essas áreas. Quem sabe assim a limpeza das áreas determinadas como de preservação possa ser feita com maior rapidez e eficiência.
Bandeira Azul
A Praia do Peró em Cabo Frio foi a primeira praia da Região dos Lagos a receber o selo da Bandeira Azul, obedecendo a inúmeros itens, que são renovados anualmente. O selo Bandeira Azul, segundo seus defensores, qualifica uma praia dentro de inúmeros critérios, entre os quais a qualidade da água. Como então praias lagunares, na Região dos Lagos, estariam recebendo a Bandeira Azul? Mudaram os critérios?
A Guarda e as Escolas
As escolas públicas de Cabo Frio precisam muito da Guarda Municipal para guarnecer as unidades escolares contra furtos e dar as comunidades a sensação de segurança. A Guarda é também importante para orientar alunos, pais e responsáveis em relação ao trânsito, sempre perigoso.
Cidade sem “rambos”
Cabo Frio deve prescindir dos “rambos” tão presentes em todos os cantos, em especial no centro, fazendo a segurança do comércio local, geralmente armados: aumentando a sensação de insegurança pública dos cidadãos. A segurança que as empresas divulgam não acontece na prática, o gelo continua pingando.
O Botafogo!
Apesar de ser o primeiro eliminado entre os brasileiros, na Copa Mundial de Futebol de Clubes, nos EUA, o Botafogo foi, até aqui, o único a fazer gol e ganhar do Paris Saint Germain (PSG). O clube francês mostra como a imigração impacta para melhor o futebol. Pena que, mesmo no futebol, o preconceito contra os imigrantes continua grande.
O Cacique resiste
Apesar de ter sido frustrado em seu projeto de Conselho para tutorar o trabalho do prefeito Serginho Azevedo (PL), o ex-prefeito Alair Corrêa continua presente e apoiando politicamente o governo. Com óculos da ” Jovem Guarda” de lentes espelhadas, estreando nova cobertura capilar contra os raios solares, o veterano cacique político resiste e tenta continuar a ser presença importante no cenário político do município.
100 anos de O Globo
Há alguns anos O Globo fazendo autopromoção lançou o bordão “O Globo, o jornal mais vendido do país”. Ao ver aquilo o jornalista Hélio Fernandes, proprietário da Tribuna da Imprensa, ferrenho adversário de Roberto Marinho fez um contra bordão “É mesmo, O Globo é o jornal que mais se vende no Brasil”. Resultado: A Família Marinho mudou o bordão para “O Globo, o jornal de maior circulação no país”.
E as calçadas?
O projeto de “requalificação” do centro da cidade não pode se limitar ao sonho dos motoristas de ter vias públicas com asfalto de primeira qualidade, sem buracos. Tão importante quanto são as calçadas, que, em Cabo Frio, são péssimas, mal cuidadas, cheias de altos e baixos e com buracos. As calçadas de Cabo Frio fazem a alegria das clínicas ortopédicas.
GM & PM
Tanto a Guarda Municipal como a Polícia Militar tem o hábito de se juntar em pequenos grupos para conversar. Até aí, tudo bem, mas ao menos poderiam não ficar de costas para a rua e com as caras enterradas no celular, praticamente sem olhar o entorno. A simples presença não basta. É importante estar atento.
- ABC DO NORDESTE FLAGELADOpor blogdototonho
A – Ai, como é duro viver
nos Estados do Nordeste
quando o nosso Pai Celeste
não manda a nuvem chover.
É bem triste a gente ver
findar o mês de janeiro
depois findar fevereiro
e março também passar,
sem o inverno começar
no Nordeste brasileiro.B – Berra o gado impaciente
reclamando o verde pasto,
desfigurado e arrasto,
com o olhar de penitente;
o fazendeiro, descrente,
um jeito não pode dar,
o sol ardente a queimar
e o vento forte soprando,
a gente fica pensando
que o mundo vai se acabar.C – Caminhando pelo espaço,
como os trapos de um lençol,
pras bandas do pôr do sol,
as nuvens vão em fracasso:
aqui e ali um pedaço
vagando… sempre vagando,
quem estiver reparando
faz logo a comparação
de umas pastas de algodão
que o vento vai carregando.D – De manhã, bem de manhã,
vem da montanha um agouro
de gargalhada e de choro
da feia e triste cauã:
um bando de ribançã
pelo espaço a se perder,
pra de fome não morrer,
vai atrás de outro lugar,
e ali só há de voltar,
um dia, quando chover.E – Em tudo se vê mudança
quem repara vê até
que o camaleão que é
verde da cor da esperança,
com o flagelo que avança,
muda logo de feição.
O verde camaleão
perde a sua cor bonita
fica de forma esquisita
que causa admiração.F – Foge o prazer da floresta
o bonito sabiá,
quando flagelo não há
cantando se manifesta.
Durante o inverno faz festa
gorjeando por esporte,
mas não chovendo é sem sorte,
fica sem graça e calado
o cantor mais afamado
dos passarinhos do norte.G – Geme de dor, se aquebranta
e dali desaparece,
o sabiá só parece
que com a seca se encanta.
Se outro pássaro canta,
o coitado não responde;
ele vai não sei pra onde,
pois quando o inverno não vem
com o desgosto que tem
o pobrezinho se esconde.H – Horroroso, feio e mau
de lá de dentro das grotas,
manda suas feias notas
o tristonho bacurau.
Canta o João corta-pau
o seu poema funério,
é muito triste o mistério
de uma seca no sertão;
a gente tem impressão
que o mundo é um cemitério.I – Ilusão, prazer, amor,
a gente sente fugir,
tudo parece carpir
tristeza, saudade e dor.
Nas horas de mais calor,
se escuta pra todo lado
o toque desafinado
da gaita da seriema
acompanhando o cinema
no Nordeste flagelado.J – Já falei sobre a desgraça
dos animais do Nordeste;
com a seca vem a peste
e a vida fica sem graça.
Quanto mais dia se passa
mais a dor se multiplica;
a mata que já foi rica,
de tristeza geme e chora.
Preciso dizer agora
o povo como é que fica.L – Lamento desconsolado
o coitado camponês
porque tanto esforço fez,
mas não lucrou seu roçado.
Num banco velho, sentado,
olhando o filho inocente
e a mulher bem paciente,
cozinha lá no fogão
o derradeiro feijão
que ele guardou pra semente.M – Minha boa companheira,
diz ele, vamos embora,
e depressa, sem demora
vende a sua cartucheira.
Vende a faca, a roçadeira,
machado, foice e facão;
vende a pobre habitação,
galinha, cabra e suíno
e viajam sem destino
em cima de um caminhão.N – Naquele duro transporte
sai aquela pobre gente,
agüentando paciente
o rigor da triste sorte.
Levando a saudade forte
de seu povo e seu lugar,
sem um nem outro falar,
vão pensando em sua vida,
deixando a terra querida,
para nunca mais voltar.O – Outro tem opinião
de deixar mãe, deixar pai,
porém para o Sul não vai,
procura outra direção.
Vai bater no Maranhão
onde nunca falta inverno;
outro com grande consterno
deixa o casebre e a mobília
e leva a sua família
pra construção do governo.P – Porém lá na construção,
o seu viver é grosseiro
trabalhando o dia inteiro
de picareta na mão.
Pra sua manutenção
chegando dia marcado
em vez do seu ordenado
dentro da repartição,
recebe triste ração,
farinha e feijão furado.Q – Quem quer ver o sofrimento,
quando há seca no sertão,
procura uma construção
e entra no fornecimento.
Pois, dentro dele o alimento
que o pobre tem a comer,
a barriga pode encher,
porém falta a substância,
e com esta circunstância,
começa o povo a morrer.R – Raquítica, pálida e doente
fica a pobre criatura
e a boca da sepultura
vai engolindo o inocente.
Meu Jesus! Meu Pai Clemente,
que da humanidade é dono,
desça de seu alto trono,
da sua corte celeste
e venha ver seu Nordeste
como ele está no abandono.S – Sofre o casado e o solteiro
sofre o velho, sofre o moço,
não tem janta, nem almoço,
não tem roupa nem dinheiro.
Também sofre o fazendeiro
que de rico perde o nome,
o desgosto lhe consome,
vendo o urubu esfomeado,
puxando a pele do gado
que morreu de sede e fome.T – Tudo sofre e não resiste
este fardo tão pesado,
no Nordeste flagelado
em tudo a tristeza existe.
Mas a tristeza mais triste
que faz tudo entristecer,
é a mãe chorosa, a gemer,
lágrimas dos olhos correndo,
vendo seu filho dizendo:
mamãe, eu quero morrer!U – Um é ver, outro é contar
quem for reparar de perto
aquele mundo deserto,
dá vontade de chorar.
Ali só fica a teimar
o juazeiro copado,
o resto é tudo pelado
da chapada ao tabuleiro
onde o famoso vaqueiro
cantava tangendo o gado.V – Vivendo em grande maltrato,
a abelha zumbindo voa,
sem direção, sempre à toa,
por causa do desacato.
À procura de um regato,
de um jardim ou de um pomar
sem um momento parar,
vagando constantemente,
sem encontrar, a inocente,
uma flor para pousar.X – Xexéu, pássaro que mora
na grande árvore copada,
vendo a floresta arrasada,
bate as asas, vai embora.
Somente o saguim demora,
pulando a fazer careta;
na mata tingida e preta,
tudo é aflição e pranto;
só por milagre de um santo,
se encontra uma borboleta.Z – Zangado contra o sertão
dardeja o sol inclemente,
cada dia mais ardente
tostando a face do chão.
E, mostrando compaixão
lá do infinito estrelado,
pura, limpa, sem pecado
de noite a lua derrama
um banho de luz no drama
do Nordeste flagelado.Posso dizer que cantei
aquilo que observei;
tenho certeza que dei
aprovada relação.
Tudo é tristeza e amargura,
indigência e desventura.
– Veja, leitor, quanto é dura
a seca no meu sertão.Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva) – 1909/2002).
- Ai! SE SÊSSE!por blogdototonho
Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!Zé da Luz (Severino de Andrade Silva) – 1904/1965.
- QUE BRASIL VAI EMERGIR EM 2026?por blogdototonho
O país assistiu na presidência de Jair Bolsonaro um governo inteiramente desconectado da realidade internacional, adotando posições na política externa de claro isolacionismo e recusando o multilateralismo.
Aliado de políticos como Victor Orban, na Hungria, que embora esteja na União Europeia, mantém políticas econômicas e sociais, de viés fortemente autoritárias, rejeitadas pelo Bloco Europeu. Não é por acaso que, em determinado momento o ex-presidente chegou a se “abrigar” na embaixada desse país, do leste europeu.
A eleição de Lula trouxe o país, novamente ao cenário internacional, defendendo o enraizamento das relações e organizações multilaterais, como o Mercosul, Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização dos Estados Americanos (OEA), o BRICS, entre outros.
No plano interno o Governo Lula é definido por José Dirceu, como de centro-direita, o governo possível, dentro de um quadro político difícil, particularmente dentro do Congresso Nacional. O crescente poder conservador tem imposto ao governo algumas derrotas sensíveis e impedido o avanço em áreas importantes como a diminuição da desigualdade social.
De qualquer maneira, aguardemos 2026, que deve confrontar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
São dois projetos absolutamente diferentes, que a população terá a escolher.
- BÚZIOSpor blogdototonho
Búzios – Sérgio Quissak
- PEQUENAS DOSESpor blogdototonho
Trânsito: perigo para crianças e pais
O prefeito Serginho Azevedo (PL) ficou chocado com o perigo para os alunos diante da intensa movimentação de veículos junto as escolas: o perigo é grande e diário, principalmente nas horas de entrada e saída dos turnos das escolas e acidentes podem acontecer para as crianças e seus pais e responsáveis.
Guarda Civil Municipal – 1
O prefeito sugeriu a instalação de radares e de quebra-molas, o que é bom, mas a presença de um Guarda Municipal, orientando o trânsito e a travessia dos estudantes e suas mães e avós, funcionaria bem melhor. A imagem do Guarda Municipal, armado apenas com um apito, levando crianças pelas mãos para o outro lado da via pública, seria belo exemplo de cidadania.
Guarda Civil Municipal – 2
Cabo Frio não precisa de “rambos”, já temos muitos, armados e dispostos a enfrentar o crime: enxugam gelo e as páginas policiais da mídia estão aí, diariamente para atestar. Reféns de um modelo, que, até o momento não fez a violência e o crime recuarem sequer um milímetro. Ao contrário, cada vez a insegurança pública é maior. A pergunta é: quem se beneficia desse modelo?
Guarda Civil Municipal – 3
Cabo Frio precisa de uma Guarda Civil Municipal, bem treinada, que sabe da importância dos conceitos de cidadania, em especial os direitos da pessoa humana. Guarda que defenda o patrimônio público, prestando serviços e ajuda aos cidadãos, principalmente crianças e idosos.
Bom combate
Bastante respeitável, difícil, embora complicado o trabalho de combate ao desmatamento e aos loteamentos ilegais desenvolvido pela secretaria municipal de meio-ambiente e clima. Leia-se Jailton Dias Nogueira, Marcella Santanna e o subtenente Mauro Bernardo. Exige respeito da sociedade e apoio político do governo.
Ampliação da requalificação
O tempo instável e chuvoso tem atrapalhado as obras de “requalificação do centro da cidade”, como diz o prefeito Serginho Azevedo (PL). Segundo alguns “czares” do governo municipal e da Câmara o prefeito tem recebido inúmeros pedidos, em especial da classe média, para ampliar o programa de requalificação, porque os buracos estão em toda parte.
Capital Inicial
O Moto Rock 2025 vai ser aberto pela banda Capital Inicial, uma das mais importantes do cenário do rock brasileiro. O espetáculo acontece a partir das 21 horas, nessa sexta-feira, 11, na Praia do Forte, mais conhecida pelos antigos como Praia da Barra. Segundo fontes do Palácio Tiradentes, o prefeito Serginho Azevedo (PL), para alívio dos roqueiros, não pretende cantar novamente.
Bandeira Azul?
Como distribuir títulos de Bandeira Azul para praias da Laguna de Araruama, sabendo o estado de suas águas? Essa é uma das muitas perguntas. sem respostas plauzíveis, que a sociedade organizada ou não, faz a concessão desses títulos, que na Região dos Lagos tiveram início na famosa Praia do Peró, em Cabo Frio.
Os Motoqueiros
Os motoqueiros e não os motociclistas continuam aprontando no trânsito de Cabo Frio e Região dos Lagos. Os motoqueiros cometem todos os tipos de infrações, ferindo o Código Nacional de Trânsito, de trás pra frente e de ponta a cabeça, como diriam os paulistas. Até agora, as blitz não conseguiram dar conta do recado.
Qualidade de vida
Pescadores e moradores do tradicional bairro da Praia do Siqueira esperam que este seja o último Festival do Camarão com o lodaçal poluído, na orla da Laguna de Araruama. O programa de limpeza do lodo e a construção da estação terciária para tratamento do esgoto representarão, se concluidos em tempo hábil, grande avanço civilizatório, com melhora acentuada da qualidade de vida.
- ANTOLOGIA “POESIA E LIBERDADE”por blogdototonho
É com grande alegria que apresento mais esta antologia da qual participo no Portal Ornitorrincobala: “Poesia e Liberdade“.
O Portal Ornitorrincobala é organizado por Jiddu Saldanha, um grande multiartista que viveu alguns anos aqui em Cabo Frio e que há quase dois anos vive em São João Del Rey (MG).
Essa é a sétima antologia digital do portal, e reúne 25 poetas que versam sobre a liberdade, tanto em relação ao que representa a sua essência, como também na forma da expressão poética.
Eu participo com meus poemas “Liberdade” e “Liberdade poética”.
A antologia está disponível para download gratuito. Para isso, clique no link: https://ornitorrincobala.com/antologias/?fbclid=IwY2xjawLZBxhleHRuA2FlbQIxMABicmlkETF5djg2eERhTXZkQkxYaEZ2AR4F_5m-SogGNdwKpSUe6CXp7YOC28RafXZEf-Tl1FqESygHVGt1JJ9SxFKNxg_aem_-bFrBwnnnimsuDi66uCqMwLuciana G. Rugani
Uma experimentadora da arte - HISTÓRIA ESTRANHApor blogdototonho
Um homem vem caminhando por um parque quando de repente se vê com sete anos de idade. Está com quarenta, quarenta e poucos. De repente dá com ele mesmo chutando uma bola perto de um banco onde está a sua babá fazendo tricô. Não tem a menor dúvida de que é ele mesmo. Reconhece a sua própria cara, reconhece o banco e a babá.
Tem uma vaga lembrança daquela cena. Um dia ele estava jogando bola no parque quando de repente aproximou-se um homem e… O homem aproxima- se dele mesmo. Ajoelha-se, põe as mãos nos seus ombros e olha nos seus olhos. Seus olhos se enchem de lágrimas. Sente uma coisa no peito. Que coisa é a vida. Que coisa pior ainda é o tempo.
Como eu era inocente. Como meus olhos eram limpos. O homem tenta dizer alguma coisa, mas não encontra o que dizer. Apenas abraça a si mesmo, longamente. Depois sai caminhando, chorando, sem olhar para trás.
O garoto fica olhando para a sua figura que se afasta. Também se reconheceu. E fica pensando, aborrecido: quando eu tiver quarenta, quarenta e poucos anos, como eu vou ser sentimental!
Vivendo e…
Eu sabia fazer pipa e hoje não sei mais. Duvido que se hoje pegasse uma bola de gude conseguisse equilibrá-la na dobra do dedo indicador sobre a unha do polegar, quanto mais jogá-la com a precisão que tinha quando era garoto. Outra coisa: acabo de procurar no dicionário, pela primeira vez, o significado da palavra “gude”.
Quando era garoto nunca pensei nisso, eu sabia o que era gude. Gude era gude.
Juntando-se as duas mãos de um determinado jeito, com os polegares para dentro, e assoprando pelo buraquinho, tirava-se um silvo bonito que inclusive variava de tom conforme o posicionamento das mãos. Hoje não sei mais que jeito é esse. Eu sabia a fórmula de fazer cola caseira. Algo envolvendo farinha e água e muita confusão na cozinha, de onde éramos expulsos sob ameaças. Hoje não sei mais. A gente começava a contar depois de ver um relâmpago e o número a que chegasse quando ouvia a trovoada, multiplicado por outro número, dava a distância exata do relâmpago. Não me lembro mais dos números.
Ainda no terreno dos sons: tinha uma folha que a gente dobrava e, se ela rachasse de um certo jeito, dava um razoável pistom em miniatura. Nunca mais encontrei a tal folha. E espremendo-se a mão entre o braço e o corpo, claro, tinha-se o chamado trombone axilar, que muito perturbava os mais velhos. Não consigo mais tirar o mesmo som. É verdade que não tenho tentado com muito empenho, ainda mais com o país na situação em que está. Lembro o orgulho com que consegui, pela primeira vez, cuspir corretamente pelo espaço adequado entre os dentes de cima e a ponta da língua de modo que o cuspe ganhasse distância e pudesse ser mirado. Com prática, conseguia-se controlar a trajetória elíptica da cusparada com uma mínima margem de erro. Era puro instinto. Hoje o mesmo feito requereria complicados cálculos de balística, e eu provavelmente só acertaria a frente da minha camisa. Outra habilidade perdida.
Na verdade, deve-se revisar aquela antiga frase. É vivendo e desaprendendo. Não falo daquelas coisas que deixamos de fazer porque não temos mais as condições físicas e a coragem de antigamente, como subir em bonde andando – mesmo porque não há mais bondes andando. Falo da sabedoria desperdiçada, das artes que nos abandonaram.
Algumas até úteis. Quem nunca desejou ainda ter o cuspe certeiro de garoto para acertar em algum alvo contemporâneo, bem no olho, e depois sair correndo? Eu já.
Luis Fernando Veríssimo
- 2025, PREÂMBULO DE 2026por blogdototonho
Estamos em 2025, mas todo o processo político e eleitoral trabalha e objetiva 2026. Não é apenas realidade de Cabo Frio, com 220 mil habitantes, o maior e mais importante município da Região dos Lagos, mas de todo o Estado do Rio de Janeiro. Então, todos devemos, como cidadãos-eleitores e contribuintes ficar atentos a todas essas movimentações, pois elas irão definir a conjuntura do próximo ano, que será, como tudo leva a crer, decisivo para a República Brasileira.
Os seguidos embates entre o Congresso Nacional, especialmente a Câmara de Deputados Federais e o Poder Executivo, fazem parte desse processo tão polarizado da História recente da Nova República, inaugurada ao fim da ditadura civil-militar, em 1985 e da promulgação da exemplar Constituição Cidadã, de 1988.
Não foi por acaso que o grande brasileiro, Ulisses Guimarães, ficou marcado na História como Presidente da Constituinte.
Viva a Democracia!
- CANAL DO ITAJURUpor blogdototonho
Canal do Itajuru – Cabo Frio – RJ – 2020 – Antônio José Christovão.
- PEQUENAS DOSESpor blogdototonho
Everaldo, o pastor em disputa
As redes sociais da Internet, sempre tão rápidas para informações no mínimo incompletas, acabam de noticiar que o Pastor Everaldo é uma figura importante na disputa para o governo do estado, em 2026. Segundo a notícia, estaria sendo disputado por Eduardo Paes (PSD) e Rodrigo Bacellar (PL).
É esse mesmo?
O Pastor Everaldo, atual vice-presidente nacional do Podemos (foi filiado também ao PSC) já esteve preso por determinação do STJ (Superior Tribunal de Justiça), acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, na gestão do então governador Wilson Witzel, afastado do cargo pela Assembleia Legislativa (ALERJ).
Tremores de baixa intensidade
As articulações para o processo eleitoral de 2026 estão em andamento e já causam não terremotos, mas tremores de baixa intensidade na Escala Richter. Exemplo, o confronto entre Washington Reis e o presidente da Assembleia Legislativa (ALERJ) e candidato ao governo do estado, Rodrigo Bacellar (PL).
O PT em Cabo Frio
Diego Zeidan, leia-se Washington Quaquá (prefeito de Maricá), foi eleito em 1º turno, novo presidente do PT, no Estado do Rio, ultrapassando 60% dos votos. Em Cabo Frio, sem a participação de Ricardo Cardoso, que desistiu da reeleição, a disputa vai para o 2º turno entre Diego da Silva e Zelder Reis.
Disputas nos bastidores
Todas essas manobras políticas, inclusive o PED, dentro do PT, no Estado do Rio, estão inseridas nas disputas travadas nos bastidores, que antecedem formalmente o processo eleitoral, de 2026. No final das contas o choque vai se dar entre o prefeito do Rio, Eduardo Paes e o presidente da ALERJ, Rodrigo Bacellar.
Como solucionar o imbróglio?
Muita gente se pergunta como vão se comportar os vereadores, que até aqui parecem responder ao comando político absoluto do prefeito Serginho Azevedo (PL). Afinal, os vereadores tem a tradição de se transformarem em cabos eleitorais de candidatos, que, nem sempre coincidem com os candidatos do prefeito. Como Serginho Azevedo (PL) pretende solucionar o imbróglio?
Perde & Ganha
Os vereadores permanecerão na base parlamentar mesmo tendo candidatos a Câmara Federal e a Assembleia Legislativa diferentes dos candidatos do prefeito Serginho Azevedo (PL)? Perderão contratos? Deixarão de indicar obras em seus redutos eleitorais? Perguntas que só terão respostas definitivas, em 2026.
Desvio de função
A Guarda Municipal está sempre presente nas alterações de trânsito promovidas nos eventos ou obras realizadas pela Prefeitura. Até aí, tudo bem. Entretanto, alguém precisa avisar aos guardas, que eles estão nos locais a trabalho e não para se reunirem em grupos, conversando fiado ou falando ao celular.
Morro da Guia
O famoso Morro da Guia tem uma vista panorâmica da cidade. Sem dúvida, uma das paisagens mais lindas do Canal do Itajuru, mas de conservação e segurança precárias e de difícil acesso. Não são questões fáceis de resolver, mas pela importância do local (Capela de Nossa Senhora da Guia) vale conversa séria com o IPHAN/IBRAM.
O Turismo
O empresariado ligado ao turismo, direta e indiretamente, em particular ao denominado ‘Turismo Rodoviário’ continua a tentar ampliar seu diálogo com as autoridades municipais do setor e o próprio prefeito, Serginho Azevedo (PL). Os empresários acreditam que os números coletados no setor de serviços contribuirão para que as conversas sejam ampliadas.
- O POBRE QUE GANHOU NO BICHO GRAÇAS A NOSSA SENHORApor blogdototonho
Outro orientalismo na vida — inclusive na mística do brasileiro não só de Recife como do Brasil inteiro — parece que é o jogo do bicho. Diz-se que foi o barão de Drummond que o inventou. Mas em 1900 já havia quem sustentasse que não: que o jogo do bicho, em vez de inventado por brasileiro, fora adaptado ao Brasil, de modelo ou exemplo oriental. “A suposta e portentosa criação do finado barão de Drummond” — escrevia o Jornal pequeno, do Recife, em sua edição de 4 de setembro daquele ano: o primeiro ano de um novo século ou assim comemorado na capital de Pernambuco como noutras capitais, inclusive Londres — “o jogo dos bichos, hoje inveterado para sempre, talvez, em todas as classes da sociedade carioca e de quase todo o Brasil, não é positivamente uma criação, mas uma adaptação consciente ou inconsciente do que se pratica há longos anos na Cochinchina”. E para prová-lo, citava recente livro de um Pierre Nicolas no qual se descrevia velho jogo oriental com 36 bichos, evidentemente pai ou avô do jogo brasileiro.
Contou-me há anos o falecido mestre-cuca José Pedro, filho de célebre capoeira do Poço da Panela e que morreu senhor todo-poderoso do forno e do fogão de uma toca de solteirões perto da Casa-Forte — que no seu tempo de menino — “menino, não, moleque”, teria corrigido José Maria de Albuquerque e Melo, como de uma feita corrigiu, na presença do irmão, Manuel Caetano, o próprio José Patrocínio — conhecera um homem que se libertara da mais triste e feia pobreza, jogando um dia no bicho. Mas jogando no bicho na certeza de ganhar, desde que a própria Nossa Senhora do Carmo, sua madrinha, lhe aparecera nas nuvens e lhe indicara o bicho exato em que devia jogar.
O pobre do recifense já não sabia o que fazer para dar de comer à mulher e a não sei quantos filhos pequenos, todos a crescerem nus e barrigudinhos num mucambo da ilha do Joaneiro. Uma tarde de domingo estava ele a pensar na vida, estirado numa velha cama de vento, não dentro do mucambo mas ao ar livre. Céu aberto. Pensava na vida e ao mesmo tempo se distraía vendo passar as nuvens quase todas parecidas com carneirinhos, outras só com flocos de algodão. Mas nem cogitava o homem de jogo de bicho. Nem era jogador. Raramente arriscava um tostãozinho em jogo ou cachaça. Tampouco estava pensando na madrinha, que era Nossa Senhora do Carmo, à qual muito já tinha rezado para o livrar de pobreza tão negra; mas em vão. A madrinha parecia só ouvir as rezas dos afilhados ricos, dos filhos de comendadores, das moças elegantes que a enchiam de joias de ouro e se esmeravam em enfeitar os altares da igreja do Convento do Carmo, de flores raras.
De repente, porém, o pobre que — garantia José Pedro — “não estava dormindo” pois “pobre não sabe dormir de dia”, vê umas nuvens muito brancas se abrirem; e aparecer, no azul-celeste, como iluminada por muita luz elétrica, sua madrinha. Aparece a santa em toda sua glória e aponta com o dedo luminoso para uma nuvem que, também de repente, toma a forma de um bicho: a forma clara de um bicho que já não me lembro qual foi. Nem está vivo o bom do José Pedro para me refrescar a memória.
O recifense pobre esfregou os olhos: não era sonho. A santa lá estava e a nuvem com forma de bicho, também. Gritou então o afilhado de Nossa Senhora do Carmo pela mulher. Que corresse! Que viesse ver! Assombramento! Milagre! Pulou da cama. Mas nisso a santa se sumiu. A nuvem em forma de bicho foi tomando outro aspecto. O céu voltou a ser o mesmo céu recifensemente azul, sem outra iluminação que a do sol de fim de tarde. O recifense é que não cabia em si de assombrado e de contente. Era um sinal do céu para que ele se livrasse da pobreza.
Foi a um compadre e pediu dinheiro emprestado. O compadre fez cara feia mas acabou cedendo, impressionado de algum modo com a história da santa: conto de fada que, na boca de um homem que ele sabia sério e bom e não um falastrão qualquer, dava o que pensar.
Na segunda-feira, o afilhado da santa madrugou junto à banca do melhor bicheiro da Encruzilhada naquela época. Fez jogo completo. Carregou na centena. Aventurou alguma coisa no milhar. E de tarde, por mais estranho que pareça, era um triunfador completo. Ganhara em tudo. Estava cheio de “louras”, como então ainda se dizia.
Garantia-me José Pedro, que conhecia o “calso” em todas as suas minúcias, que tudo se passara assim. Que de mucambo da ilha de Joaneiro o pobre, de repente enriquecido graças a Nossa Senhora do Carmo, passara a morar em chalé da Torre, com os filhos em colégio de padre e a mulher com dente de ouro e chapéu de pluma, passeando na rua Nova e tomando sorvete no Café Rui.
Gilberto Freyre – 1900/1987.
- O ANIMAL DOS MOTÉISpor blogdototonho
Deitamos ouvindo Roberto Carlos, a voz dos motéis, “por que me arrasto a seus pés?”. Porque sexo é isso mesmo. Essa gana de rastejar com Roberto, no coito dos motéis. Ele diz: esse motel já foi bom, e eu olho o banheiro, caixa amplificadora de fibroplast, as toalhas embaladas em sacos plásticos, os lençóis castanhos com ramagens duvidosas entre encardido e vestígios de cor, os três espelhos redondos, montados em curvim (um em frente ao outro, no meio a cama, o terceiro no teto, sobre a cama), claro que para transformar-nos numa espécie de confuso coquetel de siris assados: pernas, braços, carnes vivas, canteiro de patas, antenas, pelos moventes, espiando de esguelha uma outra hidra em perspectiva no espelho da frente, de trás, de cima, de baixo, devassados, misturados, confundidos, a 850,00 a diária, porque (e então eu sei porque) todos os motéis é sempre o mesmo motel, o animal mitológico, a quimera que se arrasta interminávelmente na madrugada ao som de Roberto Carlos.
Apoiada nos cotovelos, a cabeça dela surge no horizonte do espelho. A brasa do cigarro, no ponto quase central da bola ensombrecida, como o primeiro sol de um universo, sopra a fumaça:
— Você já leu Hemingway?
— O que?
— Perguntei se você já leu…
— É importante? Ele soergue-se ligeiramente.
— Fatos. Parece que ele só se preocupa com os fatos, no princípio. Naquele conto do toureiro, não lembro o título. Começa que o sujeito bate na porta do patrão, quer voltar às corridas, o patrão não está interessado, diz: só nas noturnas, 300 pesos, discutem o salário. Muito seco, direto. De repente, o patrão olha bem na cara do toureiro e pensa: é assim que todos morrem. E pronto. Eis a cabeça do monstro, a cutilada na boca do estômago, Hemingway nos pega despre…
— E o cara? Morre? reprime um bocejo.
— A morte só o rodeia. Toda a tourada. Ele a persegue. Ela o arranha e o abandona. Mas ele volta a provocá-la. Como um cego. Ou um tolo. É inútil. Duas vezes entre os chifres do touro. Debaixo das patas dos cavalos. A espada se parte. Não acerta — o que é muito simples para um veterano — o local exato no dorso do animal, do diâmetro de uma moeda de prata. A morte apenas o maltrata, como se estivesse brincando, como se ele não a merecesse, como…
— Mas ele morre ou o quê?
—Não sei, o picador,
— Como não sabe? Então esse Hemingway é…
— Precisaria ler a estória
— Certo. Você já me contou.
A brasa desaparece no espelho, se apaga. É como uma sina, ela pensa, contemplar esta cabeça com fria ternura ou recorrer mais para trás, para uma piedade distante detonada pelo álcool, pela solidão, aquele sanduíche cinzento de noites de leitura e insônia e cigarros, como uma única noite boreal, amanhecer e crepúsculo, luz intermediária e intermitência de néon, de café, de galeria, de esperar sem mais esperar, suplicar, implorar por aquilo que sequer tem nome. O toureiro não merecia a morte. É como uma sina. Rastejar com Roberto: “você é mais que um problema / é uma loucura qualquer”, porque ele sabe de uma porção de coisas sem saber, coisas que eu ignoro. Lembra a Maga, uma personagem de Cortázar que, por sinal, ignora Hemingway e este, claro, além de vocês e todos, todos nós, amantes e condenados e Roberto.
Um touro espreita no fundo dos olhos dele: duas faíscas cúmplices transmitem a ordem ao dedo áspero que vadiamente começa a percorrer a coxa, queimado cilindro macio de luz negra. O dedo vai subindo, pincelando as penugens invisíveis — há partículas fosforescentes na superfície da pele — o dedo, e então são os dedos, vão se abrindo, agarrando, numa fofa mordida, a região dos pelos, capturando os lábios, separando-os com delicadeza: o indicador resvala pela fresta úmida. Imobiliza-o um instante lá dentro e então o leva à boca. A cabeça está inclinada sobre seu ventre, mas ela sabe que ele sorrí: um garoto mergulhando o pão na panela e experimentando o molho. Olha-a, a mão agora pousada no seio, o tato pegajoso, feito clara de ovo.
— Você complica tudo. As faíscas divertidas, perversas. Como se fosse possível o amor, como se fosse muito fácil, muito simples. Possível. Fácil. Simples. Do diâmetro de uma moeda de prata. Uma fresta úmida. O ponto exato. Amor.
— Nunca estive na Espanha, ou no México. Ela acende outro cigarro.
— Ou aqui. Está precisando de um homem.
— Já pensei nisso. Aliás, não faço outra coisa.
— Pergunto se você já fez algo à respeito.
— Sinceramente…
— Por você mesma. Imagina que eu sou um idiota. Sei o que está pensando. Essa estória de toureiros fodidos e do tal Hemingway. Muito complicado, não acha?
— Então, nada de romance?
— As mulheres não mudam…
— Nem os homens. É bobagem. Penso: sinto-os pulsar aqui dentro, cegos, surdos, solitariamente, me tocando até à loucura, me penetrando até à loucura. Certo, o prazer também é meu, mas duplamente solitário, uma tarefa que cumprimos tão distraidamente, tão alheiamente como um violino que se tocasse a si próprio num dormitório de quartel, tarefa da qual só poderia, só deveria, nascer amor e música, no entanto…
— Roberto Carlos, aponta o alto-falante.
— Não estou falando de fundo musical, e depois isso é outra estória (“por que me arrasto?”).
— Está querendo dizer que eu só me masturbo?
— Que nós.
— Isso. Que nós.
— Também não sente assim?
— Sei lá. Às vezes…
— É isso.
— O que quer? É bom pra mim, bom pra você…
— Exato. Bom-mim, bom-você, um em Guadalupe, outro no Japão, se fodendo por controle remoto.
— Garota engraçada, você. Vamos beber? Fisgou o cardápio na mesinha.
A brasa inflamou-se novamente no espelho: uma erupção solar. Mas este já é um outro capitulo: agora beber, começar a beber e ladeira abaixo.
— Vodca. Quero vodca.
— Pura? O telefone suspenso na pergunta, a expressão surpresa.
— Não. Com gelo.
Pousa o fone no gancho. Fita-a intrigado, ajustando o travesseiro.
O corpo enorme, em potente repouso, não faz parte do rosto. Coça os cabelinhos do peito. Ela está enrodilhada ao pé da cama (como se camas redondas tivessem alguma referência. São como o universo, não há direção, norte, sul, direita, esquerda, em cima, embaixo, esses caras são mesmo diabólicos, Deus é diabólico, ou seremos nós que…)
Ele se inclina, acariciando-lhe as ancas dobradas, avaliando-as no espelho às suas costas, as nádegas projetando aquele invisível biquíni de sol. Afaga-lhe o rosto, os cabelos, hesitando, ganhando tempo, subornando, com medo de falar:
— Bebe sempre vodca pura?
— As bandejas passeiam no pátio repletas de coquetéis de frutas, martinis doces…
— O que há de errado?
— Para as garotas boazinhas.
— E você? Não é? O dedo contorna os lábios: vai me calar, me silenciar com esse beijo, entupir-me com essa língua, porque esses encontros são acidentes vertiginosos cujo resultado é o titã de mil olhos, mil bocas famintas que murmuram te amo, te amo, e que respondem te amo, te amo, zumbindo num cercado de mentiras ciciantes de sons no espelho, dimensão da penumbra da vida, caixa de música abafando um só tema a repetir te amo, te amo, perseguindo o elo de uma cadeia prisioneira que nos abandona assim que sai da nossa boca, e a sua repetição implica na perseguição eterna daquilo que já esteve atrás da boca, do travesseiro. Ao formularmos com os lábios o rolo doce da língua e da saliva, saltamos à frente do tempo e imediatamente já nos sentimos abandonados por esse pássaro fugidio, que se debate te amo, te amo, ato irrefletido de cuspir, separar as coxas e tomar a primeira estocada, recuar, avançar, senti-lo rígido como um cilindro de aço vivo e então capturá-lo, mas, de leve, uns cinco centímetros, não mais, de repente, sugá-lo todo para dentro, frente a frente, de cócoras, como crianças agachadas brincando com bolinhas de gude, hipnotizadas pelo movimento das bolinhas que rolam, evoluem, param, prosseguem — o entrechoque das bolinhas liquidas — nova fisgada, novo recuo de quadris; as bocas navegando nas bocas, no rio das bocas, no mar das bocas, nas cavernas dos dentes e da língua, na correnteza das bocas, gargantas, ventres molhados e, lá embaixo, o borbulhar estourando as margens que recuam, cedem, enquanto ele bombeia, macho e terno, e bate e bate, martela o limite viscoso, implorando para nascer de novo, e combate e se estimula e a maltrata porque ela uiva, sussurra obscenidades — as primeiras palavras que um homem escuta, e as últimas — evoluindo, insuportável, maldita, insuportável, adorável, não é mais prazer, não é mais dor e é o milagre, a vertiginosa erupção, um terremoto visto ao longe e o centro de um furacão, assistir uma catástrofe atômica e, ao mesmo tempo, estar no centro dela, como Deus, como Deus, como Deus.
Depois do violento crepitar frio, o movimento cessa e então voltar a ouvir o vento se lastimando nas marquises dos edifícios, nas estruturas de aço da cidade industrial mais próxima e, não fosse o vento, poder ouvir até a nós mesmos (que é a última coisa que gostaríamos de ouvir na freqüência dos motéis), por isso, nosso ego logrado retorna, monstro rugidor e oceânico, às cavernas interiores, lá se aferrolhando.
Lá em cima, no espelho, duas, quatro, seis, oito larvas rotas, libertas do emaranhado.
Termina a cerveja e dá-lhe uma palmada na coxa:
— Vamos (“pensando bem, amanhã eu nem vou trabalhar / e além do mais…”)
— Ainda tem vodca. Ela aponta um dedo preguiçoso para o copo dois terços vazio.
— Fica pra outra vez, já veste a camisa.
Márcia Denser – 1949/2024.
- INVERNO NA PRAIA DO FORTEpor blogdototonho
Inverno na Praia do Forte – Cabo Frio/RJ – João Félix.
- PEQUENAS DOSESpor blogdototonho
Em prantos por Israel?
Diante de um vídeo em que um grupo de evangélicos brasileiros, certamente de denominação neopentecostal, chorava por Israel, um atento observador e leitor do Blog do Totonho, escreveu: “Essa gente merece amor, acolhimento e tarja preta.“ Cid Nogueira Filho.
Aiatolá Kamenei, em Cabo Frio
Receoso das seguidas ameaças de Donald Trump. o líder supremo do Irã, Aaiatolá Kamenei, não fez por menos e abrigou-se em Cabo Frio. Em meio as reuniões do BRICS, que aconteciam no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, o Aiatolá saboreava um Cohiba legítimo e degustava algumas doses de Stolichnaya, a clássica vodka russa. Gentileza do presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel e Putin, respectivamente.
Putin, medinho de ser preso no Brasil
Seguindo a velha e manjada linha editorial do Departamento de Estado dos EUA, o Jornal Nacional teve a parcimônia de afirmar, que a ausência de Putin, na cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, se deu, porque existe um mandado de prisão contra ele expedido pelo Tribunal Internacional de Haia. Ora, será que alguém no Brasil ou em qualquer lugar do planeta teria a coragem de prender o presidente da Rússia, detentora do maior arsenal de ogivas nucleares do mundo? As Organizações Globo imaginam que os brasileiros são todos otários.
Moto Rock 2025
Após o Festival do Camarão e a restabelecida Expo Gospel, liderada Pastor Samuel Gonçalves, a Prefeitura de Cabo Frio dá início na próxima quinta-feira, 10, ao Moto Rock de 2025. O evento atrai motociclistas, prometendo muita música de boa qualidade, principalmente rock. O governo do prefeito Serginho Azevedo (PL) não tem economizado nos eventos.
Que coisa!
Inicialmente, surgiu o Projeto Bandeira Azul, que se desenvolveu na Praia do Peró, em Cabo Frio e que anda se espalhando por praias na Laguna de Araruama, cuja qualidade da água é no mínimo duvidosa. Que o diga a Prolagos. Por último vejo que em Búzios aparece a “certificação internacional Green Key Brasil”. Que coisa!
Que Coisa! 2
Na Região dos Lagos das antigas, antes até de surgir o nome Região dos Lagos, quem avaliava a qualidade da água e tinha credibilidade pra isso era o pescador. Hoje, quando a qualidade da água é sofrível, a baneabilidade tem que ser atestada por orgãos estaduais, nacionais e até internacionais.
Arquivo Público
O jornalista e sociólogo, José Correia Baptista tem, de longa data, o projeto de criação do Arquivo Público Municipal, que, infelizmente não conseguiu sensibilizar nenhum governo para realizá-lo. A sua implementação seria da maior importância para a preservação da história do município.
- NOIVA PARA SEMPREpor blogdototonho
Quando as duas moças subiram, para dormir, eram quase 11 horas. O pai, fumando de piteira, ainda ouviu o jornal falado. Findo este, convocou a mulher:
– Vem cá, Rosinha, vem cá.
A mulher veio, bocejando. E ele:
– Senta aí. Vamos bater um papinho.
Colocou outro cigarro na piteira, sem pressa. Riscou o fósforo, tragou e expeliu a fumaça. Novo bocejo de d. Rosinha. Dr. Maciel inclinou-se; baixou a voz:
– Como é esse negócio?
– Que negócio? E o marido:
– Desse rapaz. Maurício frequenta nossa casa há quantos meses, mais ou menos?
– Seis.
– Pois é. Seis meses. E, até agora, nem eu, nem você sabemos a quem ele prefere, se Dorinha, se Elena. Como é isso? Não está direito!
– Paciência. Protestou:
– Alto lá! Paciência, uma ova! Você se esquece que está em jogo a felicidade de nossas filhas? Maurício trata as duas da mesma maneira. E se ambas gostarem dele? Já imaginaste o angu de caroço, o bode?
Pela primeira vez, d. Rosinha, que era curta de ideias, considerou a hipótese.
Alarmou-se:
– É mesmo!
Dr. Maciel andava de um lado para outro, preocupadíssimo. Exagerava:
– Eu já estou vendo minhas filhas se devorando por causa do mesmo homem!
Deus me livre!
As duas irmãs
Nem dr. Maciel, nem d. Rosinha dormiram direito nessa noite. Quanto a d. Rosinha, acresce que, além das apreensões maternais, teve de resolver o problema das pulgas, que se mostravam particularmente ferozes. Por fim, Dr. Maciel decidiu: “Amanhã eu vou falar com esse cara.” E de fato, no dia seguinte, ligou, à tarde, para o emprego de Maurício e o requisitou: “Passa por aqui, já.” Dez minutos depois, encontravam-se. Dr. Maciel foi objetivo:
– Você está, todos os dias, em minha casa. Isso nos dá muito prazer, claro. Ao mesmo tempo precisamos considerar a situação de minhas filhas. São novas, são bonitas.
– Perfeitamente.
Dr. Maciel pigarreia e continua:
– Por outro lado, você não é nenhum Boris Karloff, nenhum Frankenstein. Pode impressionar, qualquer mulher, inclusive minhas filhas. E é natural que eu, como pai, queira saber o seguinte: qual das duas você prefere? Dorinha ou Elena?
– Não sei.
– Como?
Maurício ergue-se. Vai até a janela. Volta. Senta-se. Passa o lenço no suor da testa. Repete:
– Ainda não sei. Porque são duas meninas tão formidáveis que, francamente, não sei como escolher e…
Engasgou-se. Durante alguns momentos, olharam-se, em silêncio. Dr. Maciel levantou-se. Foi sóbrio e definitivo:
– Sinto muito, mas dou-lhe 24 horas para você se decidir. Ou uma ou outra. Do contrário, você deve se afastar da minha casa.
Desespero
Maurício saiu dali tonto. Pensou, quebrou a cabeça, sem achar uma solução. Em desespero de causa, partiu para a casa do Alípio, que era seu maior amigo e confidente. Entrou e foi dizendo: “Vim descalçar contigo uma bota daquelas!” Contou para o outro o ultimatum feroz que recebera; e dizia:
– Estou apaixonado. Apaixonadíssimo. Mas não sei por quem.
– Sossega!
Pôs, dramático, a mão no peito:
– Sob minha palavra de honra! Tanto pode ser Elena, como Dorinha! Alípio pigarreou:
– Ou as duas.
– Como?
Alípio acendeu um cigarro e insistiu na tese:
– Sim, senhor! As duas, por que não? Ou tu pensas que não se pode amar duas, três, quatro, até cinco mulheres, ao mesmo tempo?
– Não brinca, que o negócio é sério, sério pra chuchu!
Conversaram uns quarenta minutos, estudando todas as possibilidades. No fim, jocoso, Alípio sugeria:
– Tira par ou ímpar.
Maurício ergueu-se, amargurado; admitiu: “Aqui, entre nós, se fosse coisa que eu pudesse, te juro que me casava com as duas.” Despediu-se. Alípio veio trazê-lo até a porta. Perguntou:
– Queres que eu banque o profeta?
– Mete lá.
Alípio baixou a voz:
– De qualquer maneira, ficarás com as duas. Uma será a tua esposa. E a outra dará em cima de ti, mais cedo ou mais tarde. Toma nota.
Escolha
No dia seguinte, Maurício comparecia ao escritório do velho. Ainda não se decidira. E só quando apertou a mão de Dr. Maciel é que disse o primeiro nome que lhe ocorreu:
– Elena.
Dr. Maciel esfregou as mãos:
– Ótimo. Ótimo!
Mas já o rapaz experimentava uma surda nostalgia de Dorinha, como se a tivesse perdido para sempre. De noite, foi visitar a família da pequena. Sentia-se noivo para todos os efeitos. E um sintoma da nova situação foi a ausência de Dorinha. Teve vontade de perguntar por ela, de chamá-la, mas um escrúpulo o travou. Houve um momento, em que, na sua euforia, Elena o levou para a janela. Pôs-lhe a mão no braço:
– Só quero uma coisa de ti. E ele:
– Fala.
Sem desfitá-lo, quase sem mover os lábios, Elena suspirou:
– Se tiveres de me trair, algum dia, escolha qualquer mulher. Menos uma: Dorinha.
Vestido de noiva
Dois dias depois, Elena descobria, numa página de revista, um fabuloso figurino de noiva. Andou mostrando aquilo a parentes e vizinhos. Pedia o parecer de todos: “Não é lindo?” Só não pediu a opinião de Dorinha. Por sua vez, esta calava, retraía- se, numa espécie de pudor diante da felicidade que arrebatava a irmã. Mas Elena não perdia tempo. Num instante, arranjou costureira, comprou metros e metros de fazenda, numa alegria de todos os segundos, de todos os minutos. Dorinha quase não abria a boca. Emagrecera, tornara-se mais fina e mais frágil, e tinha, quase sempre, um olhar de sonho. Um dia, o pai faz a pergunta imprudente: “Mas que ar é esse, minha filha?” Ela o emudeceu, dizendo apenas isto:
– Não me pergunte nada, meu pai. Eu não quero, nem devo falar.
Só na véspera do casamento é que, com um misterioso sorriso, diria: “Quem sabe se eu também não tenho meu vestido de noiva?” Na manhã do dia, Dorinha chama o pai. Foi suscinta: “Eu não vou a este casamento. E não me pergunte por quê.” Dr. Maciel teve bastante tato para não insistir. Ao meio-dia, houve o casamento do civil; às cinco horas, no religioso. Depois, uma breve reunião na casa dos pais da noiva. E, às nove horas partem os dois para uma pequena casa, lírica e discreta, na Tijuca.
Primeira noite
Lá passariam a lua de mel. Pela manhã, a família fora fazer uma revisão na casa, colocando lacinhos de fita nas chaves, nos trincos, flores nos jarros. Segundo d. Rosinha, tudo estava um “brinco”, uma “teteia”, etc., etc. A caminho da nova residência, Elena tinha saudades do fabuloso vestido de noiva, que não usaria, nunca mais. No fundo, gostaria de ser uma noiva mais ou menos eterna. Finalmente, chegam. Descem. De braço, entram. No meio do jardim, ele a carrega no colo. Há um beijo selvagem. Estão na varanda e Maurício abre a porta. Novo e mais desesperado beijo. Ele a carrega, outra vez. E, assim, entra no quarto, ainda escuro. Aninhada nos braços do ser amado, Elena acende a luz e… O primeiro grito partiu da noiva. Havia alguém no leito nupcial. Uma mulher, vestida de noiva, antecipara-se. Estava deitada, ali. Cortara os pulsos, morrera docemente, com os braços em cruz. Era Dorinha. E na parede estava escrito a lápis, com a letra da que morrera, aquela maldição: “Nem meu, nem teu.” Elena gritava, enlouquecida. Vizinhos e transeuntes invadiram a casa.
Horas depois houve autópsia. Depois, por vontade da família, Dorinha foi vestida como para um fantástico casamento. Enterrada de branco. Noiva para sempre.
Nelson Rodrigues – 1912/1980.
- PECADORApor blogdototonho
Quando viu o Chagas, no meio da rua, abriu os braços, numa efusão tremenda. Dando-lhe grandes e cordialíssimas palmadas nas costas, indagava, aos berros: “Como vai essa lua de mel?” O outro respondeu, na alegria do encontro inesperado: “Vai navegando! Vai navegando!” Amigos íntimos, de infância, não se viam desde o casamento de Chagas, dois meses atrás. E veio de Armando a sugestão: “Vamos comemorar o encontro.” Chagas tinha um compromisso para daí a pouco, mas o outro travou-lhe o braço; só faltou arrastá-lo:
– Deixa de ser besta! Vamos embora! Eu pago!
Chagas acabou aceitando. Entraram no primeiro café, abancaram-se numa mesa do fundo e pediram chope. E, então, no terceiro ou quarto copo, o Chagas, lambendo os beiços, começou:
– Sabe que foi um alto negócio eu ter te encontrado? — acrescentou, suspirando: — Estou numa situação dramática. Precisava me abrir com alguém, de confiança, fazer uma autêntica confissão!
Armando fincou os dois cotovelos na mesa, na expectativa de grandes confidências. Animou o amigo: “Mete lá!” Chagas pigarreou, lutando contra um derradeiro escrúpulo; baixou a voz: “Imagina tu a calamidade: arranjei uma pequena e…” O amigo o interrompeu, assombrado.
– Arranjaste uma pequena como? Conta este negócio direito. Não estás em plena lua de mel? Casadinho de fresco?
– Pois é, estou.
Armando deu um murro na mesa:
– Então, parei contigo! Isso é uma sujeira, que diabo! O fim do mundo!
Chagas, lambendo a espuma do chope, e fazendo uma patética autocrítica, concordava em que era uma sujeira, um papel vergonhoso. Gemia, desarvorado: “Caso sério!” E, então, após se saturar de chope, já com a sensibilidade moral embotada, Armando quis saber que tal a Fulana: “É boa?” Resposta frenética: “Espetacular!” E, na hora de pagar a despesa, o atribulado Armando desabafou: “Preciso chutar a cara.” Ao que o outro, num riso pesado e sórdido de ébrio, respondeu:
– Manda pra mim! Manda pra mim!
Grande ideia
No dia seguinte, à tarde, o Chagas irrompia pelo escritório do Armando. Logo de entrada foi avisando: “Olha: jantas hoje com a gente.” Armando que, na véspera, já faltara a um compromisso, quis resistir: “Hoje não posso. Fica para outro dia.” Mas o Chagas tiranizava, desde os tempos da meninice, aquele amigo:
– Pode, como não? Já avisei à minha mulher. Quero te apresentar à minha cunhada.
O outro, vencido, coçava a cabeça: “Você é de amargar, hein?” Foram, juntos, de táxi: e, no caminho, Chagas trovejou: “Você é uma besta!”
– Por quê?
– Evidente! Um sujeito, da tua idade, devia estar arquicasado! O casamento é a grande solução! Estás perdendo tempo e bancando o palhaço!
Armando riu, meio cético:
– Às vezes.
– Sempre! Sempre! É outra coisa! Falo de cadeira!
Quando chegaram na casa do Chagas, este foi enfático. Apresentou Armando à esposa nos seguintes termos:
– Tomem nota: este é o melhor sujeito do mundo. Por esse cara, ponho a minha mão no fogo.
Confiança
Desde o primeiro momento, Armando se sentiu, ali, como em sua casa. Criou-se instantaneamente entre ele e Dora (esposa de Chagas) e Lucila (cunhada) uma intimidade cheia de confiança, quase terna. Dora foi dizendo: “Meu marido só fala em você.” Ao apresentar Lucila, Chagas diria:
– É ou não é um biju? E Armando:
– Lógico!
Depois do jantar e do cafezinho, Chagas arrastou a mulher para o corredor:
“Que tal o Armando?” Dora admitiu: “Simpático.” E Chagas, num entusiasmo total:
– Não te disse? Batata! E olha: sujeito decentíssimo. Não vejo partido melhor pra tua irmã. Um achado!
Mas a mulher, reticente, sugeriu uma hipótese possível: “E se ela não gostar?” O outro protestou, veemente: “Ora essa! Não gostar por quê? Vai gostar sim! Aposto contigo!” Quando os dois voltaram, encontraram Armando e Lucila entretidos numa conversa imensa. Chagas piscou o olho para a mulher, como quem diz: “Tiro e queda!”
O romance
Foi um romance meio a muque. Todos os dias Chagas telefonava para o amigo: “Contamos contigo para o jantar.” E Armando, sem forças para resistir, dizia: “Não quero abusar. Tua mulher pode não gostar.” Chagas exagerava: “Vai te catar, vai. Pois se ela e minha cunhada fazem questão!” De vez em quando, inventava: “Olha: Lucila acaba de me telefonar perguntando se não ias lá hoje. Eu disse que sim.” E, um dia, Lucila, enfezada, foi ao escritório do cunhado. Interpelou-o, violenta: “Que negócio é esse?” Ele, pálido, perguntou: “Como?” E a pequena veemente: “O que é que você está tramando?”
– Eu?
– Você, sim! Ora veja! Afinal, quem é que escolhe o meu marido, hein? Você ou eu mesma? Que graça!
Chegara o momento de uma explicação que não podia ser mais adiada. E, então, com o máximo de autocontrole, ele fechou a porta à chave e veio se sentar ao lado da moça. Usou a sua voz mais doce e foi, de fato, de uma ternura cheia de humildade.
Começou assim:– Presta atenção: não percebeste, ainda, que teu casamento é um grande golpe, um golpe espetacular? Pensa um pouco, pensa!
Ela o interrompeu, agressiva: “Ora, não amola! Golpe como?” Chagas desenvolveu o seu raciocínio: “Mas evidente! Mais cedo ou mais tarde você teria de casar. Não é mesmo? E é melhor que seja com o Armando, que é um bom sujeito, em vez de ser com um cafajeste.” Ela, pensativa, não sabia o que dizer. Fez a pergunta: “Isso não é um chute que você está me dando?” Chagas dramatizou:
– Pelo amor de Deus! Não faça esse juízo de mim! — baixou a voz: — Tu sabes, não sabes? Que és tudo para mim? — repetiu, com os olhos marejados: — Tudo!
Amor
Sem querer, sem sentir, Armando foi envolvido. Houve um momento em que, desconcertado, procurou o Chagas. Era uma boa alma, de uma ingenuidade desesperadora. Admite para o outro a sua perplexidade: “Não há dúvida que eu gosto muito de tua cunhada. Mas será isto amor?” Chagas bateu nas costas, cínico:
– Se isso é ou não é amor, só Deus sabe. Mas uma coisa te digo: casamento não tem nada a ver com amor. E nem se deve amar a própria esposa. Não é negócio e só dá dor de cabeça. Compreendeste?
Essas ideias, que o desconcertavam pelo cinismo, faziam Armando sofrer. Chagas continuava: “A esposa é a companheira, a sócia.” Em suma: só faltou dizer que só a rua, e não o lar, era compatível com o amor. Mais tarde, com Lucila, Chagas esfregava as mãos de contente: “O Armando está indo que nem um patinho. Não enxerga dois palmos adiante do nariz. Qualquer conversa meio confusa o convence.” Fazia projetos:
– Quando tu casares, eu estarei lá rente que nem pão quente. Acabo sendo o padrinho de vocês.
Olhava a cunhada: “Que vontade de chupar esses peitinhos!”
O padrinho
E, de fato, quando fez o pedido oficial, Armando virou-se para o amigo: “Eu e Lucila fazemos questão que tu sejas o nosso padrinho.” Nessa altura dos acontecimentos, o pobre Armando perdera as dúvidas anteriores. Acreditava-se apaixonado. Uma vez por outra, perguntava ao Chagas:
“E aquele teu caso?” O outro, cheio de si, mentia: “Dei um chute naquela cara.” E ria, piscando o olho:
– Imagina a calamidade — duas luas de mel, ao mesmo tempo. Isola! E tudo correria no melhor dos mundos, se, às vésperas do casamento, Lucila não começasse a ficar triste. Suspirava pelos cantos. E, um dia, a sós com o Chagas, teve uma explosão: “Acho horroroso trair um homem!” Era este, de fato, o seu drama, esta a sua crise. E dizia: “Não sei se terei essa coragem…” Chagas acabou perdendo a paciência; foi até brutal:
– Que tanto escrúpulo é esse? — e completou, incisivo: — Trair o marido não é pior do que trair a irmã!
Lucila, então, num desespero maior, gritou: “O marido não me interessa! O que eu não queria era trair você!”
Agarrou-se a ele; apertou entre suas mãos o rosto do rapaz: “Será que eu te posso trair, meu anjo?” E ele, tocado por esse amor, desorientado, balbuciava:
– É preciso! É preciso! — e argumentou: — É para nosso bem!
As núpcias
Na véspera do casamento, temeroso de que ela fraquejasse, o Chagas sussurrou: “Depois que tiveres um marido, vai ser um chuá pra nós!” Chegou o dia. Muito linda, Lucila casou-se no civil e no religioso. E veio, de noiva, para a casa, no automóvel iluminado, com o comovido Armando. Finalmente, quando se viram sós, na casa silenciosa, e o noivo quis beijá-la, ela se desprendeu, com violência. Recuou gritando:
– Não me toque! Não me toque! — torcendo e destorcendo as mãos, dizia: — Eu quis ser de dois, mas não posso, não está em mim!
Meia hora depois, a chamado do marido, Chagas e Dora compareciam. Lucila, é claro, escondia, ferozmente, a identidade do outro. Trancaram-se as irmãs numa sala. E vendo que não extorquia o nome, Dora deu-se por satisfeita:
– Eu não te condeno! Tua atitude é linda! — repetiu: — Linda!
Nelson Rodrigues – 1912/1980.
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198 respostas em “BLOG DO TOTONHO”
Tirei o domingo pra ficar “futucando” o meu arquivo profissional, e termino sempre atrás de seu Blog Totonho !
E ele, que me coloca sempre a par dessa ilógica velha e repetitiva política de Cabo Frio !
Mas, é o que temos no momento até as eleições chegarem !
Candidato a prefeitura eu já tenho em que …possivelmente devo votar ; já que o meu título ainda é daí !
Para a Câmara : deixa as águas rolarem , porque até lá, muitas águas com certeza, vao rolar !
Abraços Totonho
Tati Bueno
Grande abraço pra você, Tati
Recado : Eita preguiça …
Iniciei ontem um texto pra o seu blog Totonho, mas quando terminei, relendo achei muito ruim !
Porque, com essa turma daí, tenho que tentar, pelo menos,subir alguns degraus pra chegar perto …
Mas vou tentar me reorganizar, emocionalmente, quando esse processo judicial terminar para que eu possa, voltar e matar a saudade grande de minha casa ai no Portinho .
Parece que não: mas confesso : só penso nessa volta e estou realmente vivenciando, momentos de grandes ansiedades, com essa volta tão desejada, programada e, não realizada !
Quero a minha casa de volta, quero regar o meu jardim, distribuir bananas e mangas pros vizinhos e, derrubar
principalmente, aquele muro enorme e sem sentido que construíram lá !
Quero vê o pessoal passando sorrindo, quero deitar na rede
com um livro qualquer nas mãos , receber amigos, limpar a piscina , ouvir música e achar ai a vida maravilhosa …
Abraços Totonho e desculpe pelo desabafo …
Tati
Tati, aqui você fala e escreve quando quiser. Grande beijo!
Deixo de comentar, por me faltar animo, Rugani, como sempre excelente e a politica, cada vez mais triste, abraços em todos!
Boa noite. O PT há muito tempo não tem identidade aqui nesta cidade, infelizmente essa ”direção” não tem e não teve compromisso com a cidade e o partido, então esses ”novos atores” na coligação não muda em nada o atual momento. E o Lindbergh nunca foi ajudado como deveria e merecia por essa ”direção”, nunca vi uma grande movimentação aqui em torno do seu nome. Sou PT há muito tempo, então…….
Com a queda de temperatura associada às chuvas que chegaram intensas, os animos e os fisiologismos, alteram totalmente, o humano! Como sempre, a Ana Maria, nos trouxe a lembranca do nosso dia a dia,be tem mais agora, a ausencia de nossas autoridades com respeito a falta de luz, em diversos municipios do Estado.
Boa noite Totonho, concordo com tudo o que você falou sobre o PT nessas linhas , porém discordo totalmente quando você falou que o pré candidato do PT fortaleceu o partido, o qual chegou de paraquedas e sem nenhuma identidade, não só dividiu, mas também criou debandada geral, ainda mais apoiado por um presidente local que até agora não disse a que veio. Infelizmente , não sei dizer se aqui ele é um natimorto , ou um zumbi. No caso o partido. E a Mag, não está nem para a cidade , pois não a conhece, não tem o umbigo aqui. Uma lástima……..
Não é um comentario, mas,apreender o que o Totonho, trouxe a baila, o que a Rugani se reportou, antes, muito bom recordar as cronicas de Paulo Mendes Campos e o José Carlos de Oliveira, oque.muito nos enriquece! Semana, expressiva, ao recordar a figura de Teixeia de Souza, parabens para os amigos e conterraneos , !
Boa noite meu caro amigo de pré adolescência e daí pra frente,rrrrrsss, Otávio Perelló, muito bom ler suas linhas escritas nesta blog , boa escrita, sucinta, informativa. Fico feliz por você estar aqui. Abraços.
Bom dia. Só uma pergunta para ”esclarecimentos mais claros”, o PT de Cabo Frio pode enquadrar os outros partidos ? Com qual moral? Não move as ”massas” da cidade, não tem liderança popular, não aglutina a militância e nem faz o coração petista ”ferver”. Só dividiram a militância nos últimos seis anos…….estão querendo o que? há, é o horário político…..
No início da matéria pensei estar vendo a foto do Hemingway………..
Sempre muito interessante o blog!
Parabéns
Noto, no seu blog, Totonho, que nada muda em Cabo Frio, a amizade e honras, com uma familia (Bolsonaro )e um lider religioso inexpressivo, ativo pq lhe rende dividendos, fora o aspecto de Lula, viver no seu paraiso! Estamos, a caminho de uma derrocada,não só federal, mas, tambem estadual e municipal. Lembrar, que os Bolsonaros, nunca fizeram na vida e estão ricos, maior exemplo, atual, é o Jair Renan, que nunca acordou e tem um bom capital! E tem mais, não entendo como o Juninho quer se juntar a essa gentalha! Abraços na Rugani e em vc.
Finalmente , conseguir ver a revelação da foto de Evangelos Pagalidis ,a falésia. Com toda a minha idade, não a conhecia, mas, tem a mesma aparencia da falesia do Morro branco, no nordeste!
Hoje o seu blog está imbatível : intercalar velhas matérias políticas, com uma crônica de Rubem Braga musicada pelos dedos mágicos desse violonista : é realmente tudo que precisamos no momento
O resto é lixo !
Tati Bueno
Rubem Braga é imbatível.
Infelizmente, o PT tem um vice presidente, o Quaqua,que não merece nenhum credito! É capaz ate de aderir ao Serginho! Cuidado?