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DESENVOLVIMENTO E DESIGUALDADE SOCIAL

Cláudio Leitão (*)

Estas duas variáveis econômicas deveriam caminhar no sentido de que quando aumenta a primeira, inversamente, diminui a segunda. Este deveria ser o raciocínio lógico, entretanto, pesquisando dados da ONU sobre esta relação no mundo, nota-se uma inversão desta suposta lógica. Segundo dados da Organização das Nações Unidas, em 1992, os 20% mais ricos detinham 82% da riqueza mundial. Em 2022, a situação piora e os 11% mais ricos detém 85% de toda a riqueza produzida. Na outra ponta, os 50% mais pobres detém apenas 1% desta riqueza.

O modelo capitalista como modo de produção é altamente eficiente na geração de riquezas, mas também é extremamente injusto na forma de distribuir esta riqueza nos diversos segmentos produtivos. Estes dados mostram que o desenvolvimento e o aumento da geração de riquezas numa estrutura capitalista não significam, necessariamente, redução da desigualdade social, pelo contrário, em alguns países, inclusive no Brasil, gerou aumento da concentração de renda. Isso também acontece de forma evidente em nosso município, onde um modelo perdulário e pouco distributivo é aplicado há décadas.

Isso torna também o modelo uma insuperável fábrica de gerar pobreza. Segundo a própria ONU, 180 milhões de pessoas passam fome em toda a América Latina. São dados alarmantes. Numa sociedade capitalista o grau de pobreza é medido pela falta de capacidade de consumo, mas acredito que pobreza não é apenas perder o poder de compra, é também, não ter políticas públicas de saúde e educação adequadas, é não ter emprego, não ter água e esgoto encanados, não ter acesso à cultura, transporte e políticas firmes da área de habitação popular. Não ter um teto é não ter esperança.

Ao longo dos últimos 60 anos, o país experimentou vários ciclos de desenvolvimento, mas não conseguiram reduzir de forma significativa o fosso social entre ricos e pobres. Os sucessivos governos conseguiram tímidos avanços na redução da pobreza, mas são resultados muito abaixo das nossas possibilidades. O atual salário mínimo brasileiro (R$ 1.412,00), cerca de U$ 285,00 dólares é menor que o uruguaio, o paraguaio (isso dói) e o chileno, isso para ficarmos apenas na América Latina. O festejado “Bolsa Família”, pérola do assistencialismo dos governos FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro representa, atualmente, 0,4% do Orçamento Geral da União, enquanto os gastos com o pagamento e rolagem da dívida pública representam cerca de 46% deste mesmo Orçamento.

Esta “realidade orçamentária” agrada apenas ao mercado. A população, principalmente os mais pobres, paga isso com seu suor, trabalho e lágrimas. O Brasil é apenas mais um país dentro deste contexto. Num futuro próximo essa “bolha“ tende a explodir e será necessário pensar e definir um novo modelo de desenvolvimento que não contenha as contradições deste capitalismo periférico e subserviente aos interesses do mercado e que já dura mais de 500 anos.

Antes de terminar, sem fazer nenhum revisionismo do “socialismo real”, quero dizer que não estou aqui defendendo o modelo que retrata o antigo regime soviético de Stalin, nem o chinês de Mao, nem o cubano de Fidel, nem o de Chaves na Venezuela, nem o do coreano Jong e outros similares, que resultaram em experiências socialistas degeneradas por lideranças que negaram o verdadeiro sentido de um socialismo libertário. Muitos avanços sociais foram obtidos, mas a falta de um processo de liberdade democrática mais ampla, “fecharam portas” e permitiu que as críticas e a propaganda tendenciosa e negativa de conservadores e liberais da extrema direita prosperassem na mente de milhares de pessoas em todo o mundo, que passaram a confundir os conceitos marxistas de socialismo e comunismo.

As ideias de Marx, Engels, Rosa Luxemburgo, Lênin, Trotsky, Gramsci, Harvey e outros, continuam atuais, desde que tenhamos a capacidade de fazer esta releitura com a ótica dos novos tempos. Precisamos adaptá-las e reinventa-las dentro deste novo tempo, e assim permitir a continuidade do sonho e da utopia de um novo mundo, onde o capital humano prevaleça sobre o capital financeiro.

Claudio Leitão é economista, professor de história e pré-candidato a vereador pelo PSOL.

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