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A MULHER NA RUA

 Outro dia vi uma mulher na rua, vestida com uma roupa simples, longa, que cobria todo o seu corpo, mas ao olhá-la nos olhos, vi sua alma nua.

Tinha um desespero no olhar, um cansaço, um pavor não sei de quê, da morte ou da vida, quem sabe…

Andava rápido, como quem foge de alguém ou de si mesma, sem se dar conta disso.

O seu corpo balançava e arqueava, frágil, tenso, como quem cansou de resistir, mas se mantém de pé, por hábito.

As mãos longas e os braços finos, seguravam não sei o que, um fio invisível talvez, débil ligação com a vida.

Boca, lábios e voz, juntos num murmúrio confuso e lamentoso, fragmentos de um grito que nunca saiu, mas que se recusa a silenciar.

Cada ruga, cada marca naquele rosto tinha o trecho de um poema, mas ela olhava e só via rabiscos, borrões e manchas escuras.

Tudo nela era terna poesia, escrita com a viceralidade de uma vida inteira   de dor e amor, de risos e lagrimas, mas ela não sabia ler.

Ana Tavares de Mello

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