- DUNAS & FORTE SÃO MATHEUS – LUCIANO BARBOSApor blogdototonho
Dunas & Forte São Matheus – LUCIANO BARBOSA.
- PEQUENAS DOSESpor blogdototonho
O novo sistema de estacionamento
O novo sistema de estacionamento apresentado pela Prefeitura atende a uma antiga reivindicação dos empresários do centro da cidade, reverberadas em algumas reuniões da ACIA ao longo dos últimos anos. O empresariado junto com o poder público precisa criar eventos, que atraiam consumidores para o centro comercial. A mudança nas regras de estacionamento por si só não resolve o problema, que é bem mais profundo.
Indigência
Hoje, o comércio do centro atrai muito pouco e não se percebe ações da ACIA e outras associações para mudar esse quadro cinzento. Basta ver o Dia das Mães e o Natal, em total indigência. No Natal, se não houvesse a bela árvore plantada pelo SESC na Praça Porto Rocha, não haveria nada que lembrasse a importância da data. Talvez se animem em finados.
Conexões
O Centro possui numerosas atrações, de imenso valor histórico, cultural e religioso. O problema é que esses bens não falam entre si, não são conectadas através de políticas integradas do Turismo/Cultura/Meio ambiente. A conexão seria extremamente benéfica ao comércio e serviços da região.
Conexões 2
Essa conexão poderia começar entre duas joias: o Museu de Arte Religiosa e Tradicional (MART), que funciona no prédio do Convento de Nossa Senhora dos Anjos (século XVII) e as exposições de artes plásticas contemporâneas, no Palácio das Águias. Não esquecer, que na Rua Jonas Garcia, antiga Rua da Praia, está uma das entradas do Palácio das Águias, justamente em frente ao terminal aquaviário, que liga o Centro ao Polo de Moda Praia da Gamboa.
Esbanjamento
O esbanjamento e irresponsabilidade gerados pela abundância dos royalties do petróleo geraram o deslocamento dos investimentos: tudo se concentrou no poder público municipal. Ora, os “sheiks do petróleo” adoraram, porque puderam ampliar o poder dentro da cidade e até nos municípios, que consideravam satélites. Um deles chegou a sonhar com o governo do estado.
Choque de realidade
Um choque de realidade provocado pelo declínio da produção dos poços de petróleo da Bacia de Campos, mostrou aos esbanjadores que o petróleo não é uma fonte energética eterna e inesgotável. Deveriam saber, porque esses dados primários estavam em qualquer livreto de Ciências, no Ensino Fundamental. Não sabiam, porque não interessava saber e tinham raiva de quem sabia. Deu no que deu!
Um pouco tarde …
Foi um pouco tarde para a cidade, porque ao aprenderem, se é que realmente aprenderam, já tinham gasto quase todos os royalties com maquiagens e políticas eleitoreiras, sem investimentos fundamentais em infraestrutura. Hoje, com os royalties cada vez mais restritos, o município tem dívidas que ultrapassam 1 bilhão de reais.
Alternativa é o planejamento
Cabo Frio agora sofre e busca alternativas para se reinventar sob a ótica econômica e financeira. O pior é que ainda tem que ouvir conselhos dos “sheiks” e “sultões” aposentados pelos tribunais e quem sabe pelos eleitores. Nunca é tarde para repensar e começar a planejar as próximas décadas levando em conta nossos filhos, netos e bisnetos.
Aniversário & Memória
Na quarta feira, 14, o prefeito José Bonifácio Ferreira Novellino, estaria completando 80 anos de uma bela história de vida. A missa em sua memória vai ser realizada na Matriz Histórica de Nossa Senhora da Assumpção às 19 horas.
- BREVE RELATO SOBRE PAULO FREIREpor blogdototonho
No último dia 2 de maio completaram-se 28 anos da morte de Paulo Freire, o educador e filósofo pernambucano, que se vivo fosse, faria 103 anos nesta data. É necessário ressaltar que as muitas fake news bolsonaristas que associam Paulo Freire e seu método de alfabetização as notas do Pisa são simplesmente mentirosas. Nunca o método de Paulo Freire foi adotado pelo governo federal. Só em um curto período de tempo no Rio Grande do Norte, em 1963 e logo a seguir em Pernambuco, tentou-se implantar um plano nacional da educação no curto governo João Goulart.
Em 1964, meses depois de iniciada a implantação do Plano, o golpe militar extinguiu esse esforço. Freire foi encarcerado como subversivo por 70 dias. Em seguida passou por um breve exílio na Bolívia e trabalhou no Chile por cinco anos para o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. Ficou no exílio até 1979, onde trabalhou em vários países e publicou a maioria de seus livros.
Quando o PT venceu as eleições municipais paulistanas de 1988, iniciando-se a gestão de Luiza Erundina (1989-1993), Freire foi nomeado secretário de Educação da cidade de São Paulo. Exerceu esse cargo de 1989 a 1991. Dentre as marcas de sua passagem pela Secretaria Municipal de Educação estão a criação do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), um modelo de programa público de apoio a salas comunitárias de educação de jovens e adultos, aumento do salário dos professores, criação dos Conselhos Escolares para que as comunidades participassem das decisões, entre outras ações. Exerceu o cargo por dois anos. Sua morte ocorreu em 1997.
O método de alfabetização “freiriano” é utilizado em diversos países do mundo e tem cursos sobre ele em Harvard, Oxford, Princeton e em inúmeras outras importantes e destacadas universidades do mundo. Mas no Brasil seu método nunca foi utilizado. Portanto, ele nada tem a ver com a péssima avaliação brasileira no Pisa.
Paulo Freire é o intelectual brasileiro com maior número de títulos de professor “honoris causa” em universidades pelo mundo, incluindo as conceituadas, Harvard, Oxford e Cambridge. Apesar de todos estes títulos ele não era um “academicista”. Defendia que o saber do mundo precedia o saber acadêmico. Preconizava que se ensina e se aprende ao mesmo tempo no ofício de educar, tendo em vista toda a diversidade de saberes que norteiam o processo educacional.
Em seu livro Pedagogia do Oprimido, Freire coloca o papel da educação como um ato político, que liberta os indivíduos por meio da consciência crítica, que emerge da educação como prática de liberdade. É preciso ler e conhecer para não falar ou escrever coisas equivocadas e desconectadas com a verdade. Como os críticos bolsonaristas não leem nada, bostejam nas redes sociais, expressando suas mentiras, suas convicções idiotas e seus inconformismos com a grandeza do educador brasileiro. A “práxis freiriana” vive!!
Claudio Leitão é economista e professor de História.
- UMA SENHORApor blogdototonho
Dona Quinota não se importava com a aspereza do ano inteiro. Com ela era ali no duro — trabalho, trabalho e mais trabalho. O ordenado das empregadas, na verdade, era uma pouca-vergonha que a polícia devia pôr um paradeiro. Não punha. Vivia metida com a maldita da política. Falta duma boa revolução!… Ah, se ela fosse homem!… Enquanto a revolução não vinha para botar tudo nos eixos, obrigando-a a endireitar as empregadas, fazia de criada — cozinhava, varria, cosia. Encerava a casa também, aos sábados, depois que disseram pelo rádio ser higiênico e muito econômico.
— Econômico? Então se encera mesmo.
O marido, que já estava acostumado àquelas resoluções, largou no melhor pedaço o segundo volume de Os Miseráveis, meteu sobre o pijama a gabardine cheirando a gasolina na gola e foi telefonar para a loja de ferragens, pedindo duas latas de cera — da boa, vê lá! — chorando um abatimentozinho na escova e na palha de aço: está ouvindo, Seu Fernandes?
Estava sempre para tudo que, graças a Deus, era mulher forte. Saíra à mãe, que também o fora, morrendo velha de desastre, desastre doméstico, uma chaleira de água fervendo para o escalda-pé do marido, um coronel reformado, que lhe virou por cima do corpo.
Nunca se queixava da vida. Não ia à cidade passear, as suas compras eram em regra feitas pelo marido, precisava que a fita fosse muito falada para ela se abalar até ao cinema do bairro, onde cochilava a bom cochilar; contavam-se os domingos em que ia à missa, não fazia visitas, nem recebia. Não reclamava o trabalho que lhe davam os filhos, três desmazelados que andavam na escola pública, Elcio, Élcia e Elcina, respectivamente quinze, quatorze e treze anos, o que atesta bem a força do marido e dá ideia o que seria depois de dez anos de casada, se depois da Elcina não tomasse as devidas precauções.
— Não se esqueçam de dar lembranças à Dona Margarida — aconselhava na hora da saída, enquanto punha nas bolsas as bananas e o pão com manteiga da merenda. Dona Margarida fora sua amiga no colégio das Irmãs, uma bicha no francês, cearense, um talento! Mandar lembranças para ela equivalia a dizer: Olha que são meus filhos,Margarida; os filhos da tua amiga Quinota…
E os exames estavam perto, com prêmios de cadernetas da Caixa Econômica dados pelo prefeito, ridicularizados pelos jornais oposicionistas, elogiados pelos do governo — a Folha dizia que era um gesto de Mecenas, mas enfim fartamente anunciados em todos os jornais para incentivo da meninada estudiosa. Ela queria ser mordida por um macaco se não arranjasse três cadernetas para casa. Os filhos é que não faziam fé. Bordava para fora, cuidava do Joli, o bichano para sujar a casa era um desespero, e sobrava tempo ainda para ter ciúmes do marido com as vizinhas, principalmente Dona Consuelo, uma descarada, é certo, mas muito chique, confessava. Chegando o carnaval, tirava a forra.
As economias acumuladas saíam do Banco Popular juntas com os juros. Não ficava nada. Metia-se numa fantasia de baiana e inundava a capota do automóvel com seus oitenta e cinco quilos honestíssimos. As meninas iam de baianas também, menos saias, mais berloques, e o menino de pierrô, cada ano de uma cor, porque não é para outra coisa que o dono do Tinto! gasta aquele dinheirão em anúncios. Tirava do cabide a casaca do casamento, dezesseis anos por isso (como o tempo corre!), dava um jeito nas manchas: — No automóvel, ninguém repara, meu filho — dizia com um sorriso, ora para a casaca, ora para o marido, que se traduzia: lembras-te? Ele, então, com uma faixa vermelha na cintura, brincos em forma de argola, pendentes das orelhas demasiadas, enfiava na cabeça um turbante de seda branca com pérolas em profusão, e ia em pé, no carro, de rajá diplomata. No terceiro dia, graças a Deus não choveu em nenhum dos três, perguntava para o marido: — Quanto temos ainda?
Ele remexia a carteira (bolso de casaca é o tipo da coisa encrencada!), fura-bolos trabalhava passado na língua, e cantava a quantia:
— Duzentos e oitenta.
— E os oitocentos do automóvel?
— Já estão fora.
— Ah! Bem… — Para fazer contas no ar era um assombro: … pode gastar mais cento e cinquenta.
O resto ficava para gastar depois do carnaval — mas entrava na verba dele — com o fígado do marido, porque depois da pândega (a experiência de Dona Quinota é que falava) Seu Juca tinha rebordosas, vômitos biliosos, uma dor do lado danada, de tanta canseira, tanta serpentina e tanta cerveja gelada.
Não faz mal. Não fazia não. A vida era aquilo mesmo: três dias — falava. Maspensava: por ano. Podia dizer, mas não dizia. Deixava ficar lá dentro. O “lá dentro” de Dona Quinota era uma coisa complicada, complícadíssima, que ninguém compreendia.
Só ela mesma e o marido, às vezes. Desciam do automóvel à porta de casa, quando o vizinho veio vindo com o rancho da filharada.
— Brincaram muito? — fez Seu Adalberto, com um jeito de despeitado. — Assim, assim…
Dona Quinota dizia aquele “assim-assim” de propósito. Que lhe importava os outros saberem se ela tinha gozado ou não? Quem gozava era ela. Mas gostava de ficar deliciando-se por dentro com a inveja dos vizinhos: assim, assim… Ah! Ah! Ah! Seu Adalberto exultava:
— E isso mesmo. Faz-se despesas enormes (e Dona Quinota sorria) e não se diverte nada. (Dona Quinota olhava para o céu.) É sempre assim. Pois olhe: nós fomos a pé mesmo. Estivemos ali na Avenida na esquina do Derbi, apreciamos o baile do Clube Naval, muita fantasia rica, muita, vimos perfeitamente as sociedades, tomamos refrescos, brincamos à grande. Não foi? As mocinhas fizeram que sim, humilhadas, mas os guris foram sinceros: — Aquele carro do girassol que rodava, hem, papai! Seu Adalberto corrigiu logo: — Girassol, não, Artur; crisântemo.
Depois que corrigiu, ficou azul, sem saber ao certo se era crisântemo ou crisantemo — quer ver que eu disse besteira?
Seu Juca não havia meio de encontrar o raio da chave. Esses bolsos de casaca!…
— O ano que vem — Dona Quinota falou firme — nós iremos também a pé.
O marido até se virou. Ficou olhando, espantado. Que diabo é isto? — ia perguntando. Por um triz que não perguntou. Mas ficou assim… Compreendeu?
Parece… Esta Quinota!…
Foi quando Seu Adalberto, evidentemente mortificado, se refez e sentenciou como experiente na matéria, apesar de nunca ter entrado num automóvel pelo carnaval: é melhor mesmo.
A tribo sumiu pela porta do 37. A maçaneta fechou por dentro. Torreco, torreco. Agora foi a chave — duas voltas. O pigarro do seu Adalberto, ainda com o acento do crisântemo a fuzilar-lhe na cabeça, veio até cá fora se misturar com um resto de choro, pandeiro e chocalhos, do bonde que passava mais longe. Passos apressados no fundo da rua. O burro do inglês estava na janela do apartamento fumando para a lua. Dona Quinota ficou olhando-o um pouco, depois cerrou a porta bem e fixou o marido que dava por falta dum brinco: Que cretinos!Seu Juca parou no meio do corredor, cara de ressaca, pernas abertas, o turbante nas mãos e esperou mais. Mas Dona Quinota era hermética. O resto ficou lá dentro onde ninguém ia buscar, porque o marido, o único interessado na ocasião, mais morto do que vivo, preferiu tirar o colarinho e a casaca. Dona Quinota atirou-se na cama escangalhada e feliz, só acordando na quarta-feira de cinzas ao meio-dia.
Quando o resto da família se levantou, o almoço (feito por ela) já estava na mesa, e Dona Quinota se desesperava porque tinha lido no Jornal do Brasil que foram os Fenianos que pegaram o primeiro prêmio, quando todo mundo viu perfeitamente que só o carro-chefe dos Democráticos…
Marques Rebelo – 1907/1973.
- BOCA DA BARRA – CABO FRIO/RJ – LUCIANO BARBOSApor blogdototonho
Boca da Barra – Cabo Frio/RJ – LUCIANO BARBOSA
- PEQUENAS DOSESpor blogdototonho
O Estacionamento
A proposta de solução para o estacionamento no centro da cidade feita pela Prefeitura teve grande repercussão, na medida em que afeta o cotidiano dos trabalhadores. O próprio prefeito Serginho Azevedo (PL) veio a público explicar o sistema adotado e reconheceu que o governo não se comunicou bem com a sociedade. Agora é colocar em funcionamento, corrigir possíveis problemas e se não der certo buscar novas soluções.
A Comunicação
Serginho Azevedo (PL), desde o início, tem se colocado como o principal instrumento de comunicação do seu governo. Não é uma tarefa fácil, porque além de promover e defender o governo trás o desgaste, também em caráter pessoal. É uma ação que mais tarde poderá ser avaliada em sua repercussão política e eleitoral.
O Esvaziamento
São vários as razões do esvaziamento econômico/financeiro do centro da cidade, que não pode ser explicado apenas pelas dificuldades de estacionamento. A primeira delas pela falta de representatividade das lideranças locais, que não conseguem produzir projetos de recuperação da área comercial, sem investimentos e clamando única e exclusivamente por uma solução milagrosa do poder público.
Onde estão os projetos?
A solução para deter o esvaziamento e levantar a área passa por projetos e eventos conjuntos do poder público em parceria com a iniciativa privada. Vai exigir mudanças no urbanismo, no paisagismo e também na política de eventos, tornando a região do centro novamente atrativa para a população da cidade e visitantes.
Palácio das Águias e os Eventos
O Blog acredita que eventos de boa qualidade associados a rápida e simples recuperação paisagística possam ser o ponto de partida para a recuperação do centro da cidade. A programação do Palácio das Águias, centro de artes plásticas, pode se conectar com a área comercial e se tornar o indutor desse processo.
Atrações Históricas e Culturais
O centro tem o acesso aquaviário para o polo de moda praia na Gamboa, está praticamente ao lado da Fonte do Itajuru, o Charitas, a Matriz de Nossa Senhora da Assumpção, o Palácio das Águias, o Convento de Nossa senhora dos Anjos (Museu de Arte Religiosa e Tradicional) e a Capela de Nossa Senhora da Guia.
Conexões
Todas essas atrações, de imenso valor histórico, cultural e religioso tem que ser conectadas por corredores culturais através de horários de visitação e agências de turismo receptivo. Sem falar na beleza do Canal do Itajuru, que liga a Lagoa de Araruama ao Oceano Atlântico. Com tudo isso, não vale entregar a uma linha de turismo tipicamente predatória.
Mais do Canhão
A pesquisadora e historiadora Rose Fernandes, que está publicando, com recursos próprios toda a obra de Teixeira e Sousa, gravou essa semana com o jornalismo da TV Record. Assunto: o badalado canhão que foi sequestrado do Forte São Matheus por estudantes de Nova Friburgo e que acaba de retornar a casa. A matéria vai ao ar nessa segunda-feira às 12 horas.
- NÃO ESQUEÇAM DE GAZApor blogdototonho
- O VITRALpor blogdototonho
Desde muito, ela sabia que o aniversário, este ano, seria num domingo. Mas só quando faltavam quatro ou seis semanas, começara a ver na coincidência uma promessa de alegrias incomuns e convidara o esposo a tirarem um retrato. Acreditava que este haveria de apreender seu júbilo, do mesmo modo que o da Primeira Comunhão retivera para sempre os cânticos. — Ora… Temos tantos… — respondera o homem. Se tivéssemos filhos… Aí, bem. Mas nós dois! Para que retratos? Dois velhos! A mão esquerda, erguida, com o indicador e o médio afastados, parecia fazer da solidão uma coisa tangível — e ela se reconhecera com tristeza no dedo menor, mais fino e recurvo. Prendera grampos aos cabelos negros, lisos, partidos ao meio, e levantara-se. — Está bem. Você não quer…
(A voz nasalada, contida, era um velho sinal de desgosto.) — Suas tolices, Matilde… Quando é isso?
Como se a ideia a envergonhasse, ela inclinara a cabeça:
— Em setembro — dissera. No dia vinte e quatro. Cai num domingo e eu…
— Ah! Uma comemoração — interrompera o esposo. Vinte anos de casamento…
Um retrato ameno e primaveril. Como nós.
Na véspera do aniversário, ao deitar-se, ela ainda lembrara essas palavras; mas purificara-se da ironia e as repetira em segredo, sentindo-se reconduzida ao estado de espírito que lhe advinha na infância, em noites semelhantes: um oscilar entre a espera de alegrias e o receio de não as obter. Agora, ali estava o domingo, claro e tépido, com réstias de sol no mosaico, no leito, nas paredes, mas não com as alegrias sonhadas, sem o que tudo o mais se tornava inexpressivo.
— Se você não quiser, eu não faço questão do retrato — disse ela. Foi tolice.
— O fotógrafo já deve estar esperando. Por que não muda o penteado? Ainda há tempo.
— Não. Vou assim mesmo.
Abriu a porta, saíram. Flutuavam raras nuvens brancas; as folhas das aglaias tinham um brilho fosco. Ela deu o braço ao marido e sentiu, com espanto, uma anunciação de alegrias no ar, como se algo em seu íntimo aguardasse aquele gesto. Seguiram. Soprou um vento brusco, uma janela se abriu, o sol flamejou nos vidros. Uma voz forte de mulher principiou a cantar, extinguiu-se, a música de um acordeão despontou indecisa, cresceu. E quando o sino da Matriz começou a vibrar, com uma paz inabalável e sóbria, ela verificou, exultante, que o retrato não ficaria vazio: a insubstancial riqueza daqueles minutos o animaria para sempre.
— Manhã linda! — murmurou. Hoje eu queria ser menina.
— Você é.
A afirmativa podia ser uma censura, mas foi como um descobrimento que Matilde a aceitou. Seu coração bateu forte, ela sentiu-se capaz de rir muito, de extensas caminhadas, e lamentou que o marido, circunspecto, mudo, estivesse alheio à sua exultação. Guardaria, assim, através dos anos, uma alegria solitária, da qual Antônio para sempre estaria ausente. Mas quem poderia assegurar, refletiu, que ele era, não um participante de seu júbilo, mas a causa mesma de tudo o que naquele instante sentia; e que, sem ele, o mundo e suas belezas não teriam sentido?
Estas perguntas tinham o peso de afirmativas e ela exclamou que se sentia feliz.
— Aproveite — aconselhou ele. Isso passa.
— Passa. Mas qualquer coisa disto ficará no retrato. Eu sei. As duas sombras, juntas, resvalavam no muro e na calçada, sobre a qual ressoavam seus passos.
— Não é possível guardar a mínima alegria — disse ele. Em coisa alguma. Nenhum vitral retém a claridade.
Cinco meninas apareceram na esquina, os vestidos de cambraia parecendo-lhes comunicar sua leveza, ruidosas, perseguindo-se, entregues à infância e ao domingo, que fluíam com força através delas. Atravessaram a rua, abriram um portão, desapareceram.
Ela apertou o braço do marido e sorriu, a sentir que um júbilo quase angustioso jorrava de seu íntimo. Compreendera que tudo aquilo era inapreensível: enganara-se ou subestimara o instante ao julgar que poderia guardá-lo. “Que este momento me possua, me ilumine e desapareça — pensava. Eu o vivi. Eu o estou vivendo.”
Sentia que a luz do sol a trespassava, como a um vitral.
Osman Lins – 1924/1978.
- A PIRA DA CORRUPÇÃOpor blogdototonho
O Night Club, em São Cristovão, foi dos melhores acontecimentos da noite daquela pequena cidade querendo se transformar em grande: sempre duas bandas de estilos e ritmos diferentes. Lotava os dois andares da casa! Cerveja gelada, batida de limão e cachorro magro acompanhavam aquele “bate-coxa”. Vez por outra, a pedidos, o conjunto lascava o “miudinho”, que é pra quem tem gosto e sabe sambar como Paulinho da Viola e a Velha Guarda da Portela.
Muito duro, sem jeito deixava pra Babade, “amigo de fé, irmão camarada” a tarefa de fazer as firulas com as garotas e porque não com as coroas bem dispostas. Às vezes era tanta firula, que custava aos dois corrida até o ponto de ônibus mais próximo: fazia parte. Por sorte o motorista conhecia aquela dupla de tantos outros carnavais e noitadas.
No final da noite, quando ficava sem um tostão, voltavam pra casa a pé ou encontravam aquela carona piedosa e salvadora. Certas madrugadas, não rolava nada, nem carona e sem dinheiro para o ônibus o jeito era sair se arrastando, do clube até a Padaria de Seu Luiz, no centro da cidade. Um estirão! Valia a pena! A generosidade do português garantia no mínimo aquela média de café, com pão e manteiga na chapa. Quando, por sorte, aparecia o saltitante jornalista do único diário da região, a “saideira”, com mais uma e outra cervejinha, era coisa certa.
Nessa época, o prefeito tinha lançado perto da rodoviária, o Muro do Amor, terreno descampado que tinha uma baita árvore, consultório ao ar livre, onde ele atendia centenas de pessoas diariamente. Hoje é um prédio horrendo, modernoso, entre tantos que aos poucos transformam a cidade em uma miniatura da região metropolitana do Rio de Janeiro.
A política fervia. A população ainda se chocava com as denúncias de corrupção. Navegando na maré, o prefeito criou a “Pira da Corrupção” e anunciou que ali iria queimar e transformar em cinzas toda a corrupção da cidade. A “pira” propriamente dita era um enorme tacho, grande mesmo, que ficava no centro do terreno.
Quando no meio da madrugada a dupla viu aquele tacho iluminado, não resistiu à tentação. Pulou o “Muro do Amor”, tinha meio metro de altura, no máximo, juntou o que restava de forças, derrubou a pesada “pira” do pedestal e saiu correndo pela madrugada.
No dia seguinte, a manchete do único jornal trazia: vândalos derrubaram a “Pira da Corrupção”!
Manoel Lopes da Guia Neto.
- PAISAGENS CABOFRIENSES – JOÃO FÉLIXpor blogdototonho
Paisagens Cabofrienses – JOÃO FÉLIX.
- PEQUENAS DOSESpor blogdototonho
Patrimônio Histórico
Enfim desenrolou o mistério da volta do canhão surrupiado ao Forte São Matheus, em Cabo Frio. Desvendadas as vaidades, aqui e acolá, a secular peça de artilharia merece retornar ao seu lugar de guarda da entrada da barra de acesso a Laguna de Araruama através do Canal do Itajuru. Tomara que o seu retorno seja estímulo para o zelo permanente do patrimônio da cidade, parte de nossa história.
Zelo & Divulgação
O cuidado permanente na conservação dos patrimônios natural e histórico da cidade e sua correta e ampla divulgação contribuirá e muito para o turismo no município. É preciso dar ao turista a sensação de segurança, organização e limpeza ao visitar os pontos mais atraentes da cidade. O Forte São Matheus é um deles.
Zelo & Divulgação 2
O zelo, aliado a criação de eventos de boa qualidade, como os festivais de jazz e blues, em Rio das Ostras e Búzios, direcionado para determinada faixa de público, será capaz de aos poucos descontruir o turismo de massa ou mesmo ordená-lo, com grandes benefícios para a população da cidade como um todo.
Inspeção
O secretário de meio ambiente Jailton Dias Nogueira e Davi Barcelos, secretário de turismo, publicaram nas redes sociais da internet a visita de inspeção que realizaram na Ilha do Japonês. A impressão foi a pior possível: muito lixo e desleixo por parte de todos que frequentam o local e dos que ganham dinheiro por conta dessa linda área lagunar. A promessa é de organização de toda a área. Precisa!
Limpeza urbana
O prefeito Serginho Azevedo (PL) anunciou nova tecnologia para a coleta de lixo e limpeza da cidade, através da Comsercaf. Novo vídeo mostra os funcionários da autarquia sendo treinados com as novas técnicas e aparelhos. A cidade, em todos os seus bairros está precisando bastante de tecnologia, divulgação correta e também mais educação dos cidadãos-contribuintes.
Lodo & Estação de Tratamento
Serginho Azevedo (PL) também anunciou que obteve a licença para a retirada do lodo poluente, na área da Praia do Siqueira. A extração do lodo aliada a aceleração da construção da Estação de Tratamento Terciária será grande ganho não apenas para o bairro, para a Laguna de Araruama e a cidade.
Folclore Político
Linguajar janístico – Há duas pérolas entre as mais citadas, entoadas pelo então professor de português e depois presidente do Brasil, Jânio Quadros. Ao ser questionado por uma jovem jornalista “por que fez isso”, respondeu do alto da sua sabedoria: “Fi-lo porque qui-lo”. Noutra vez lhe perguntaram porque bebia tanto: “Se fosse liquido, bebê-lo-ia. Se fosse sólido, comê-lo-ia”. Os maldosos emendavam, “como não é possível comê-lo-á”, um cacófato que fazia referência ao nome da esposa de Jânio: Eloá Quadros.
Metódico – O ex-vice presidente da República, Marco Maciel era metódico em tudo. Inclusive no casamento. Domingo à noite era sagrado que, depois da missa, seguida de pizza com vinho, era hora de “namorar”. Até que num certo domingo à noite, Maciel recebe um telefonema do ex-ministro chefe, Golbery do Couto e Silva, informando que um avião o aguardava para uma viagem urgente a SP. Maciel vira-se para a esposa, informa que Golbery o havia chamado e sai-se com essa: “Teje namorada!”
Revista O Cruzeiro – O velho Assis Chateaubriand, dono dos diários Associados e da Revista O Cruzeiro, era um craque do ponto de vista editorial. Certa feita pediu a um dos seus fotógrafos que conseguisse uma foto do ex-presidente Juscelino Kubitscheck de “robe de chambre”, fazendo a barba. JK topou a brincadeira e virou capa da revista. Hoje, certamente nossas editorias fotográficas são todas muito menos audaciosas!
O Amigo da Onça – Péricles
- DANÇA DOS VODUNSpor blogdototonho
As vezes me pergunto se os amigos que nos deixaram tem alguma visão, pensamento, ilusão, distinção, noção do que se passa com os amigos que aqui ficaram… O mundo já não é o mesmo que foi… Quem foi esquecido? Quem ainda será? Não acredito em nada que eu não possa saber… Certa vez Darcy disse a Oscar que só ele, que fez sua obra em concreto, iria perdurar mais de mil anos na memória do mundo… O que importa isso para quem já foi? Não sei o que vem depois da memória do ver, do ser, do nada.Sei o que eu vivi… No Maranhão, na Casa das Minas, pude presenciar a dança dos que já partiram… Estavam cobertos, dos pés a cabeça, de belíssimos mistérios indecifráveis… Lembrei-me dos amigos… Salve Nunes Pereira!
José Sette de Barros é cineasta e artista plástico.
- POR UM PÉ DE FEIJÃOpor blogdototonho
Nunca mais haverá no mundo um ano tão bom. Pode até haver anos melhores, mas jamais será a mesma coisa. Parecia que a terra (á nossa terra, feinha, cheia de altos e baixos, esconsos, areia, pedregulho e massapê) estava explodindo em beleza. E nós todos acordávamos cantando, muito antes do sol raiar, passávamos o dia trabalhando e cantando e logo depois do pôr-do-sol desmaiávamos em qualquer canto e adormecíamos, contentes da vida.
Até me esqueci da escola, a coisa que mais gostava. Todos se esqueceram de tudo. Agora dava gosto trabalhar.
Os pés de milho cresciam desembestados, lançavam pendões e espigas imensas. Os pés de feijão explodiam as vagens do nosso sustento, num abrir e fechar de olhos. Toda a plantação parecia nos compreender, parecia compartilhar de um destino comum, uma festa comum, feito gente. O mundo era verde. Que mais podíamos desejar?
E assim foi até a hora de arrancar o feijão e empilhá-lo numa seva tão grande que nós, os meninos, pensávamos que ia tocar nas nuvens. Nossos braços seriam bastantes para bater todo aquele feijão? Papai disse que só íamos ter trabalho daí a uma semana e aí é que ia ser o grande pagode. Era quando a gente ia bater o feijão e iria medi-lo, para saber o resultado exato de toda aquela bonança. Não faltou quem fizesse suas apostas: uns diziam que ia dar trinta sacos, outros achavam que era cinqüenta, outros falavam em oitenta.
No dia seguinte voltei para a escola. Pelo caminho também fazia os meus cálculos. Para mim, todos estavam enganados. Ia ser cem sacos. Daí para mais. Era só o que eu pensava, enquanto explicava à professora por que havia faltado tanto tempo. Ela disse que assim eu ia perder o ano e eu lhe disse que foi assim que ganhei um ano. E quando deu meio-dia e a professora disse que podíamos ir, saí correndo. Corri até ficar com as tripas saindo pela boca, a língua parecendo que ia se arrastar pelo chão. Para quem vem da rua, há uma ladeira muito comprida e só no fim começa a cerca que separa o nosso pasto da estrada. E foi logo ali, bem no comecinho da cerca, que eu vi a maior desgraça do mundo: o feijão havia desaparecido. Em seu lugar, o que havia era uma nuvem preta, subindo do chão para o céu, como um arroto de Satanás na cara de Deus. Dentro da fumaça, uma língua de fogo devorava todo o nosso feijão.
Durante uma eternidade, só se falou nisso: que Deus põe e o diabo dispõe.
E eu vi os olhos da minha mãe ficarem muito esquisitos, vi minha mãe arrancando os cabelos com a mesma força com que antes havia arrancado os pés de feijão:
– Quem será que foi o desgraçado que fez uma coisa dessas? Que infeliz pode ter sido?
E vi os meninos conversarem só com os pensamentos e vi o sofrimento se enrugar na cara chamuscada do meu pai, ele que não dizia nada e de vez em quando levantava o chapéu e coçava a cabeça. E vi a cara de boi capado dos trabalhadores e minha mãe falando, falando, falando e eu achando que era melhor se ela calasse a boca.
À tardinha os meninos saíram para o terreiro e ficaram por ali mesmo, jogados, como uns pintos molhados. A voz da minha mãe continuava balançando as telhas do avarandado. Sentado em seu banco de sempre, meu pai era um mudo. Isso nos atormentava um bocado.
Fui o primeiro a ter coragem de ir até lá. Como a gente podia ver lá de cima, da porta da casa, não havia sobrado nada. Um vento leve soprava as cinzas e era tudo. Quando voltei, papai estava falando.
– Ainda temos um feijãozinho-de-corda no quintal das bananeiras, não temos? Ainda temos o quintal das bananeiras, não temos? Ainda temos o milho para quebrar, despalhar, bater e encher o paiol, não temos? Como se diz, Deus tira os anéis, mas deixa os dedos.
E disse mais:
– Agora não se pensa mais nisso, não se fala mais nisso. Acabou. Então eu pensei: O velho está certo.
Eu já sabia que quando as chuvas voltassem, lá estaria ele, plantando um novo pé de feijão.
Antônio Torres
- OUTONO DE FOTOGRAFIAS – CABO FRIO/RJ – JOÃO FÉLIXpor blogdototonho
Outono de Fotografias – Cabo Frio/RJ – JOÃO FÉLIX.
- PEQUENAS DOSESpor blogdototonho
Resgate & Restauração
1 – O canhão, do século XVII, que foi levado, em 1953, do Forte São Matheus, por um grupo de estudantes de Friburgo, finalmente volta a Cabo Frio. O resgate foi articulado através de uma série de contatos desenvolvidos pelo vice-prefeito Miguel Alencar (União Progressista).
2 – Ainda não foi anunciado pelas autoridades municipais a restauração das históricas peças de artilharia, que se encontram em péssimo estado no interior do Forte São Matheus. Já o Parque do Itajuru está bem cuidado, mas não a Fonte, que é a razão de existir do próprio parque: o estado é lastimável e aguarda restauração prometida há muitos anos.
O Conclave
Começou o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice da Igreja Católica, mantendo a tradição do Vaticano, 133 cardeais vão escolher o novo líder. Os vaticanistas consultados pela mídia esperam que o escolhido mantenha os avanços do Papa Francisco e exerça o diálogo com amplos setores da Igreja.
Ressurgência
A mostra coletiva Ressurgência, no Palácio das Águias, “nasce como um espaço de sublimação e expansão da potência criativa local, trazendo à superfície a produção artística da região reunindo obras de 21 artistas de Cabo Frio e da Região dos Lagos. A exposição reúne diferentes propostas
e linguagens, propondo um mergulho nas possibilidades de construção de memória, regionalidade e pertencimento, dando visibilidade a trajetórias que nutrem, recriam, subvertem e expandem o presente.“A Conferir!
O governo estadual, leia-se Cláudio Castro (PL) está devendo a população do Estado do Rio os oito centros de tecnologia e inovação, que deveriam estar prontos em julho de 2023, inclusive o Centro Tecnológico José Bonifácio, em Cabo Frio. As obras estão dentro do PAC/RJ. com custo superior a 170 milhões, após os aditivos. A Construtora Metropolitana garante que tudo fica pronto e entregue a população no final de 2025. A conferir!
Folclore Político
Pé de valsa – O ex-presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, o JK, além de hábil político era exímio dançarino. E com isso, ia trazendo alegria e intranquilidade nas cidades por onde passava. Por ele as moças suspiravam. Por ele, os maridos renegavam os votos. Coisas da política. E dona Sarah, coitada, que inventou o primeiro comitê feminino para ajudá-lo em suas campanhas, vivia “alquebrada”, tal era o peso da sua infelicidade!
A camisa de JK – Duro e querendo ir a um baile, o ex-presidente Juscelino Kubitschek inventou de vender uma camisa para arrumar dinheiro para as entradas. Lavou, passou, embrulhou bonito e conseguiu a grana. Dia seguinte foi procurado pelo comprador, que reclamou do prejuízo: a camisa tinha rasgado todinha. Ao que JK lhe perguntou: “Mas fez o que a noite inteira com a camisa?” Ao que o comprador lhe respondeu: “Dancei samba, maxixe, mambo, tango e o escambau”. Irritado, JK lhe disse: “Mas meu amigo, essa é uma camisa de tecido fino… só pode dançar valsa!”. Deu as costas e nunca mais falou com o interlocutor.
Itamar Franco – O caso mais vexatório ocorreu com o ex-presidente Itamar Franco, num dos seus dias de presidente. Ele foi passar o carnaval no Rio de Janeiro, recebeu camarote especial, bebeu, brincou a vontade a até arrumou uma namorada para aqueles dias. Lilian Ramos. Apareceram juntos, fotografados de baixo para cima pelos fotógrafos dos jornais brasileiros e internacionais. Que no dia seguinte estamparam as fotos do presidente “alegre”! E a acompanhante “sem calcinha”. Foi um vexame. O assessor de imprensa pediu demissão.
Dona Eloá e a vassoura — Uma das imagens mais marcantes das campanhas eleitorais foi exibida na campanha eleitoral para presidente da república desenvolvida por Jânio Quadros. Na ocasião, por sugestão de sua esposa, Da. Eloá Quadros, foram usadas vassouras como símbolos da campanha. Todo mundo tinha uma em casa. Custo zero. E tema infalível: “Varrer a corrupção”. Deu no que deu.
Observação – O último comício da campanha de Jânio Quadros na eleição de 1960, que o elegeu Presidente da República, foi realizado na Praça Porto Rocha, no centro de Cabo Frio. Na ocasião foi feita farta distribuição das “vassourinhas”, que iriam “varrer a corrupção” no Brasil.
- DIVULGAÇÃOpor blogdototonho
- VISITA À BIENAL MINEIRA DO LIVROpor blogdototonho
Estive na Bienal Mineira do Livro, em Belo Horizonte. A bienal começou no dia 3/5 e vai até o próximo dia 10.
A edição deste ano homenageia o grande escritor mineiro, João Guimarães Rosa. Dela participam mais de 60 editoras e livrarias, 170 autores independentes e 80 quadrinistas, além de vários autores convidados, nacionais e internacionais, como Conceição Evaristo e Fabrício Carpinejar, entre outros. Uma extensa programação que inclui também rodas de conversa, contação de histórias, oficina de escrita e clube de escritores.
Algo que observei, e que gostei de ver, foi a quantidade de ônibus estacionados, outros que chegavam e saíam, com crianças e jovens, estudantes de várias escolas do Município e também de outras cidades de Minas Gerais. Muitos livros infanto-juvenis na exposição e as crianças e jovens encantados com o mundo da literatura e fazendo uso de “vale-livro”, fornecido pelo poder público, por meio da política de incentivo à leitura.Sabemos que as grandes capitais têm seus problemas sociais, principalmente em razão de serem centros atrativos para oportunidades de estudo e trabalho, entre outras necessidades. Mas, para além disso, percebemos uma diferença fundamental no modo de tratar dos problemas quando a cultura e o saber são valores mais consolidados e, portanto, mais valorizados pelo poder público e pela sociedade em geral.
A capital mineira possui cerca de 22 bibliotecas municipais, sendo uma para cada centro cultural da cidade, no total de 17 centros culturais, e em outros espaços do Município. A rede de bibliotecas públicas municipais é gerenciada pela Fundação Municipal de Cultura – FMC e organizada por meio de um sistema informatizado que possibilita que as reservas de livros possam ser feitas pela internet. Em relação a teatros, BH possui cerca de 35 espaços teatrais, sendo que 3 são espaços públicos municipais. A pesquisa intitulada “Cultura das Capitais”, realizada pela empresa de consultoria especializada em cultura, esporte e investimento social, JLeiva Cultura & Esporte, revelou que ler é um hábito comum na Capital e que os moradores, incluindo estudantes, gostam de ler, conforme responderam 61% dos entrevistados. Por esses dados, percebemos uma maior consolidação da cultura e do saber como pilares estruturados, tanto por parte da sociedade como por parte do poder público. Claro que, como eu disse, por ser uma grande cidade e por não estar desvinculada da desigualdade gritante de oportunidades que há na sociedade brasileira, há dificuldades a superar e os números podem não ser suficientes. Entretanto, o primordial, o básico para qualquer sociedade, é ter como certa a posição da cultura como valor essencial. É ter como incontestável a necessidade de espaços culturais em pleno funcionamento, como teatros e bibliotecas.
Na visita à bienal, senti isso quando vi crianças e jovens entusiasmados, participando das brincadeiras propostas e de olhos brilhando ao manusear os livros. Em tempos de tanta força de redes sociais e de tanta anticultura, estar ali, em meio àquele mundo literário e perceber a satisfação e entusiasmo dos presentes, em especial de crianças e jovens, revigorou o meu ânimo e a minha vontade de prosseguir na semeadura de novos horizontes e de insistir na divulgação da importância dos valores culturais.Luciana G. Rugani
Escritora e poeta - NO RESTAURANTE SUBMARINOpor blogdototonho
Jerônimo me liga. Tenho uma grande notícia, diz, a voz estranhamente excitada para quem é, habitualmente, um homem reservado. Uma grande notícia, repete, acrescentando que pelo telefone não dá para dizer. Propõe um almoço conjunto: nós dois, mais Hélio e Sadi. Onde, pergunto, um tanto inquieto. No restaurante submarino, ele responde. Pondero que é meio longe; além disso a época não é muito apropriada para ir ao restaurante submarino; chove e faz frio. Por isso mesmo vamos lá, diz Jerônimo, não quero que nos vejam. Aliás, já telefonei e reservei o restaurante só para nós.
Acabo concordando. Que remédio? Jerônimo é conhecido por sua tenacidade, por sua férrea determinação. Não há o que não consiga, dizem todos.
De carro, dirijo-me para o local onde fica o restaurante submarino. Na estrada, passo por Hélio, que me olha com uma expressão de interrogação. Pelo visto, também ele não sabe do que se trata.
Chego à praia, deixo meu carro no estacionamento. Ali já estão os carros dos outros. Sou o último, como sempre.
Caminho ao longo do antigo cais, na extremidade do qual foi construído o restaurante. Entro no hall, cumprimento o discreto gerente, desço uma escada em caracol. O restaurante propriamente dito fica abaixo do nível do mar. Por suas janelas, escotilhas, melhor dizendo, pode-se apreciar a fauna marítima da região.
Jerônimo e os outros lá estão, numa mesa de canto. Cumprimento-os, tomo assento. Estão falando sobre banalidades. Mas Jerônimo está radiante, vê-se.
Um alto-falante, colocado logo acima de nossas cabeças, range e emite um silvo agudo. — Alô — diz uma voz de homem. — Alô, alô. Testando, testando. Um, dois, três, um, dois, três. Testando, testando.
Uma pausa, e a voz prossegue:
– Senhores, bem-vindos ao restaurante submarino, o único de seu gênero no Brasil. A direção deseja que se sintam como em suas casas. Enquanto saboreiam nossos deliciosos pratos, daremos algumas explicações sobre os seres marinhos que nos rodeiam. Voltaremos em instantes. Por ora, obrigado.
Hélio, que não conhecia o lugar, está maravilhado: que beleza de instalações, diz. Que coisa bem bolada.
– Atenção — o alto-falante, de novo. — Senhores, sua atenção, por favor. Aproxima-se de nós, vindo do sul, um polvo. O polvo, senhores, não é peixe, mas sim molusco. Repito: molusco. E aí está o nosso herói!
Trata-se, com efeito, de um pequeno polvo. Passa lentamente diante de nossa escotilha e desaparece.
Sensacional, brada o entusiasta Hélio. Sensacional, este lugar, Jerônimo! Jerônimo não diz nada; sorri, apenas.
O alto-falante de novo:
– Atenção. Estamos vendo agora um cação. Esse peixe é parente próximo do tubarão, o assassino dos mares.
Vai-se, rápido, o cação.
Chega o garçom, com uma grande travessa. Tomei a liberdade de encomendar para nós, explica Jerônino. Vocês vão gostar. É robalinho. Muito bom. Muito bom, mesmo.
Não gosto de peixe, diz Sadi, preferia camarão. Seu tom tem algo de ressentido; mas já Jerônimo está pedindo ao garçom que providencie camarões. Como não, senhor, diz o homem, e se afasta.
Jerônimo ergue o copo: a nós, diz. Bebemos, e depois o silêncio cai sobre nós, um silêncio que a mim (mas sou meio paranoico) parece opressivo. Inclino-me para Jerônimo:
– Vamos lá, conte o que você tem a nos dizer.
Jerônimo toma mais um gole de vinho. Bom, este vinho, comenta. Limpa os lábios com o guardanapo, olha-nos — sorrindo sempre — e anuncia:
– O homem está liquidado. Cai na semana que vem. E o cargo, é quase certo, será meu. Posso contar com vocês?
Mas você é um gênio, exclama Hélio. Um gênio mesmo, concordo. Só Sadi é que não diz nada. Olha pela escotilha: há um cardume ali. O alto-falante não diz o nome deles mas sou capaz de apostar: são bordalos, também conhecidos como robalinhos. Fitam Sadi com seus olhos inexpressivos.
Moacyr Scliar – 1937/2011.
- A ANGÚSTIA DAS SAVANASpor blogdototonho
Uma das tantas teorias sobre o começo da civilização é a da angústia do pênis exposto. Quando os primeiros hominídeos desceram das árvores e foram viver na savana, uma das conseqüências de andarem eretos e terem que se espichar para pegar as frutas foi que seus órgãos sexuais ficaram expostos ao escrutínio público. Antes de darem às fêmeas, ou aos mulherídios, a chance de organizarem uma sociedade de acordo com a sua observação da novidade e determinarem que os mais potentes teriam o poder — o que inviabilizaria qualquer tipo de hierarquia baseada na inteligência e, principalmente, na antigüidade, além de decretar o fim da linhagem dos pintos pequenos, que nunca se reproduziriam —, os machos tomaram providências, começando por tapar suas vergonhas. A civilização começou pelas calças, ou o que quer que fosse a moda de tapa-sexos nas savanas. E tudo que veio depois — a linguagem, o fogo, a roda, a escrita, a agricultura, a indústria, a ciência, as nações, as guerras, todas as afirmações masculinas que independem do pinto — foi, de um jeito ou de outro, uma extensão das primeiras calças. Um disfarce, um estratagema do macho para roubar da fêmea o seu papel natural de guiar a espécie escolhendo o reprodutor que lhe serve pelas suas credenciais mais evidentes, e não pelas suas poses ou poemas. Toda a nossa cultura misógina vem do pavor da mulher que quer retomar seu poder pré-histórico e, não sendo nem prostituta nem nossa santa mãe, nos tirar as calças. Todo o nosso drama milenar foi resumido num pequeno auto admonitório: Yoko Ono seduzindo John Lennon e desfazendo uma idílica ordem fraternal, quase destruindo um mundo. E o que é a supervalorização da virgindade e a estigmatização civil do adultério, como constam na lei brasileira, senão uma tentativa de garantir que a mulher só descubra o tamanho do pênis do marido quando não pode fazer mais nada a respeito? Continuaríamos vivendo a angústia das savanas.
Independentemente das teorias, a virgindade é um tema para muitas divagações. Ninguém, que eu saiba, ainda examinou a fundo, sem trocadilho, todas as implicações do hímen, inclusive filosóficas. Já vi o hímen — que, salvo grossa desinformação anatômica, não tem qualquer outra função biológica a não ser a de lacre — descrito como a prova de que o Universo é moralista. E, levando-se em conta a dor do defloramento e mais as agruras da ovulação e do parto em comparação com a vida sexual fácil e impune do homem, também é misógino. Mas em comparação com o que a mulher, historicamente, sofreu num mundo dominado por homens e seus terrores, o que ela sofre com a Natureza é pinto. Com trocadilho.
Luís Fernando Veríssimo
- A RESTINGA – CABO FRIO/RJ – JOÃO FÉLIXpor blogdototonho
A Restinga – Cabo Frio/RJ – JOÃO FÉLIX
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192 respostas em “BLOG DO TOTONHO”
Tirei o domingo pra ficar “futucando” o meu arquivo profissional, e termino sempre atrás de seu Blog Totonho !
E ele, que me coloca sempre a par dessa ilógica velha e repetitiva política de Cabo Frio !
Mas, é o que temos no momento até as eleições chegarem !
Candidato a prefeitura eu já tenho em que …possivelmente devo votar ; já que o meu título ainda é daí !
Para a Câmara : deixa as águas rolarem , porque até lá, muitas águas com certeza, vao rolar !
Abraços Totonho
Tati Bueno
Grande abraço pra você, Tati
Recado : Eita preguiça …
Iniciei ontem um texto pra o seu blog Totonho, mas quando terminei, relendo achei muito ruim !
Porque, com essa turma daí, tenho que tentar, pelo menos,subir alguns degraus pra chegar perto …
Mas vou tentar me reorganizar, emocionalmente, quando esse processo judicial terminar para que eu possa, voltar e matar a saudade grande de minha casa ai no Portinho .
Parece que não: mas confesso : só penso nessa volta e estou realmente vivenciando, momentos de grandes ansiedades, com essa volta tão desejada, programada e, não realizada !
Quero a minha casa de volta, quero regar o meu jardim, distribuir bananas e mangas pros vizinhos e, derrubar
principalmente, aquele muro enorme e sem sentido que construíram lá !
Quero vê o pessoal passando sorrindo, quero deitar na rede
com um livro qualquer nas mãos , receber amigos, limpar a piscina , ouvir música e achar ai a vida maravilhosa …
Abraços Totonho e desculpe pelo desabafo …
Tati
Tati, aqui você fala e escreve quando quiser. Grande beijo!
Deixo de comentar, por me faltar animo, Rugani, como sempre excelente e a politica, cada vez mais triste, abraços em todos!
Boa noite. O PT há muito tempo não tem identidade aqui nesta cidade, infelizmente essa ”direção” não tem e não teve compromisso com a cidade e o partido, então esses ”novos atores” na coligação não muda em nada o atual momento. E o Lindbergh nunca foi ajudado como deveria e merecia por essa ”direção”, nunca vi uma grande movimentação aqui em torno do seu nome. Sou PT há muito tempo, então…….
Com a queda de temperatura associada às chuvas que chegaram intensas, os animos e os fisiologismos, alteram totalmente, o humano! Como sempre, a Ana Maria, nos trouxe a lembranca do nosso dia a dia,be tem mais agora, a ausencia de nossas autoridades com respeito a falta de luz, em diversos municipios do Estado.
Boa noite Totonho, concordo com tudo o que você falou sobre o PT nessas linhas , porém discordo totalmente quando você falou que o pré candidato do PT fortaleceu o partido, o qual chegou de paraquedas e sem nenhuma identidade, não só dividiu, mas também criou debandada geral, ainda mais apoiado por um presidente local que até agora não disse a que veio. Infelizmente , não sei dizer se aqui ele é um natimorto , ou um zumbi. No caso o partido. E a Mag, não está nem para a cidade , pois não a conhece, não tem o umbigo aqui. Uma lástima……..
Não é um comentario, mas,apreender o que o Totonho, trouxe a baila, o que a Rugani se reportou, antes, muito bom recordar as cronicas de Paulo Mendes Campos e o José Carlos de Oliveira, oque.muito nos enriquece! Semana, expressiva, ao recordar a figura de Teixeia de Souza, parabens para os amigos e conterraneos , !
Boa noite meu caro amigo de pré adolescência e daí pra frente,rrrrrsss, Otávio Perelló, muito bom ler suas linhas escritas nesta blog , boa escrita, sucinta, informativa. Fico feliz por você estar aqui. Abraços.
Bom dia. Só uma pergunta para ”esclarecimentos mais claros”, o PT de Cabo Frio pode enquadrar os outros partidos ? Com qual moral? Não move as ”massas” da cidade, não tem liderança popular, não aglutina a militância e nem faz o coração petista ”ferver”. Só dividiram a militância nos últimos seis anos…….estão querendo o que? há, é o horário político…..
No início da matéria pensei estar vendo a foto do Hemingway………..
Sempre muito interessante o blog!
Parabéns
Noto, no seu blog, Totonho, que nada muda em Cabo Frio, a amizade e honras, com uma familia (Bolsonaro )e um lider religioso inexpressivo, ativo pq lhe rende dividendos, fora o aspecto de Lula, viver no seu paraiso! Estamos, a caminho de uma derrocada,não só federal, mas, tambem estadual e municipal. Lembrar, que os Bolsonaros, nunca fizeram na vida e estão ricos, maior exemplo, atual, é o Jair Renan, que nunca acordou e tem um bom capital! E tem mais, não entendo como o Juninho quer se juntar a essa gentalha! Abraços na Rugani e em vc.
Finalmente , conseguir ver a revelação da foto de Evangelos Pagalidis ,a falésia. Com toda a minha idade, não a conhecia, mas, tem a mesma aparencia da falesia do Morro branco, no nordeste!
Hoje o seu blog está imbatível : intercalar velhas matérias políticas, com uma crônica de Rubem Braga musicada pelos dedos mágicos desse violonista : é realmente tudo que precisamos no momento
O resto é lixo !
Tati Bueno
Rubem Braga é imbatível.
Infelizmente, o PT tem um vice presidente, o Quaqua,que não merece nenhum credito! É capaz ate de aderir ao Serginho! Cuidado?