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MEMÓRIA SALGADA

O dia tão quente que faz
O sol ardente corta
A derme
Os sonhos
A alma
Trabalhar o sal
Sob o sol que vai queimando até queimar
O peito
As costas
As retinas
As narinas
A água virando sal lá na salina
A lágrima escorrendo sob a pele mirrada
O suor que me sai
Das mãos marcadas
Dos descalços e calejados grossos pés
Para ter no fim do mês
Quem sabe
Alguns contos de réis
Queria vida de gente poder levar
Na salina é só puxar, puxar, puxar
Sol já tá caindo do lado de lá
É a hora do fumo tragar
Quem diminui a água do mar para o peixe poder salgar?
Lua surge sob a lagoa
A voz rouca a prece entoa
Minha Nossa Senhora da Conceição,
Escutai esta oração!

Luciana Rocha

Um dos poemas vencedores do Prêmio Teixeira e Souza 2023 de Literatura, inspirado na Canção do Sal, de Milton Nascimento.

Este poema faz parte da Antologia Canção do Sal e outras memórias.

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