Categorias
Artigo

O MISTÉRIO DA “ÁRVORE DA AMIZADE”.

Em pleno coração da praça histórica da cidade, alvo de piadas, uma muda de árvore, na realidade, um galho mal ajambrado, era chamado pomposamente de “árvore da amizade”.

Doado por alguma instituição benemerente a muda era plantada e replantada a cada nova cerimônia, que acontecia anualmente, no “Dia da Árvore”, sob os auspícios de algum político, em geral, o prefeito da vez.

Eram convocados os escoteiros, as crianças e adolescentes das escolas com bandeirinhas do Brasil nas mãos e a tradicional “furiosa”, que soltava aquele “dobrado” enquanto alguma figura pública e grotesca se agachava para plantar a futura árvore.

O problema é que a muda, garbosamente chamada “árvore da amizade” nunca vingou. Não crescia e florescia como tantas outras, o que fez surgir o boato que a muda não pegava pra valer, porque tinha sido plantada e regada pelas mãos dos políticos “seca pimenteira”, principais alvos das fofocas da terra. O fato é que plantada, aquela coisa mirrada ia fenecendo até que morria de vez e para o ano seguinte tinha que se arrumar outro galho ou coisa parecida.

Em discurso enfezado, um vereador exigiu que o prefeito determinasse ao chefe da “briosa” guarda municipal que vigiasse a recém-nascida para que pudesse atingir a adolescência e por fim a maturidade. O inventivo vereador, de espírito udenista, fã ardoroso de Carlos Lacerda, estava convencido que a muda era sabotada pelos comunistas para apoquentar o prefeito, membro da Arena, partido do coração dos militares. “Trata-se da mais pura subversão”, enfatizou aos berros, do alto da tribuna da câmara, mais vermelho que a bandeira do “partidão”, contra quem ele tanto praguejava.

De nada adiantou. Plantava-se a árvore, ou melhor, o galho, sob os acordes dos dobrados da “furiosa”, discursos empolgados de “dessa vez vai”, rezas pressurosas, algumas contritas, da legião das “filhas de Maria”. Em horários diferentes, para não dar confusão no pedaço, um renomado pai de santo e um pastor interessado numa candidatura a vereador, também deixavam suas preces. Entretanto, todo o aparato militar, político-religioso não surtiu efeito.

A “árvore da amizade” nunca vingou.

Tempos mais tarde sucessivos prefeitos foram transformando a praça em cemitérios de concreto onde não há lugar para árvores de espécie alguma, muito menos a da “amizade”.

LOPES DA GUIA

Compartilhe este Post com seus amigos:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *