BLOG DO TOTONHO

  • IMAGENS DE CABO FRIO – LUCIANO BARBOSA

    1 – Célula Mater

    2 – Charitas

    3 – Charitas

    4 – Igreja de São Benedito

    5 – Ponte Márcio Corrêa

    Imagens de Cabo Frio – LUCIANO BARBOSA

  • PEQUENAS DOSES

    Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal

    Desenvolvimento Moderado – A recente análise elaborada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) aponta que, ainda com evolução nos indicadores de Educação, Saúde e Emprego & Renda, as cidades apresentam desenvolvimento moderado, assim como a maioria dos municípios da Região dos Lagos.

    Resultados – Os resultados classificam a Região dos Lagos e Baixada Litorânea com o terceiro maior IFDM do estado do Rio de Janeiro, com a pontuação de 0,6434, ficando 3,4% acima da média dos municípios do estado fluminense (0,6224). Sob a ótica das vertentes, em apenas uma, a região ficou abaixo da média do estado do Rio: IFDM Educação (0,5949 ponto, 1,2% abaixo da média Rio). O indicador com melhor desempenho na região, foi o IFDM Emprego & Renda (0,7049), ficando 6,6% acima da média do estado, seguido pelo IFDM Saúde (0,6304), 4,5% acima da média.

    São Pedro é exceção – A exceção é São Pedro da Aldeia, que teve baixo desenvolvimento. A análise tem como base dados oficiais referentes ao ano de 2023 e faz comparativo com os dados de 2013. Esta edição do IFDM analisou 5.550 municípios brasileiros, que respondem por 99,96% da população.

    Repetindo a história

    A ação do Ministério Público em Saquarema demonstra que os políticos locais, os novos “sultões” dos royalties do petróleo, não aprenderam nada com as experiências vividas por outros municípios na Região dos Lagos, que hoje empobreceram e estão endividados. São histórias repetidas dos “novos ricos”.

    Preservação ambiental no Foguete

    A Secretaria de Meio Ambiente, leia-se Jaílton Dias Nogueira fiscalizou na segunda-feira possíveis irregularidades relacionadas ao uso de trailers e motorhomes na Praia do Foguete (Bairro Miguel Couto). A fiscalização foi iniciada a partir de denúncias feitas pela Associação de Moradores do Foguete. As denúncias incluem a realização de churrascos na restinga, descarte de esgoto inadequado e estacionamento em cima da vegetação.

    Região dos Lagos no 3º Congresso Multidimensional no Rio

    A conhecida voz do rádio Iva Maria Carvalhaes (naturopata e terapeuta integrativa cabo-friense), estará palestrando e realizando vivência sobre o poder curativo do som, no 3º Congresso Multidimensional acontece dias 17 e 18 de maio, no Hotel Reale Brisa, Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

    O Evento

    O evento, em sua terceira edição tem como tema “O Futuro Chegou“. As vagas são limitadas. Informações: site: https://congressomultidimensional.com.br ou  entrar em contato com: Iva Maria (telzap 22999083807) e Leandra Soares (telzap 22 98824-2468), e ter acesso a descontos especiais. 

    Aniversário & Memória

    Na quarta feira, 14, o prefeito José Bonifácio Ferreira Novellino, estaria completando 80 anos de uma bela história de vida. A missa em sua memória vai ser realizada na Matriz Histórica de Nossa Senhora da Assumpção às 19 horas.

  • A CULTURA POPULAR MOVIMENTA CABO FRIO!

    Nos dias 20, 21 e 22 de maio, o Museu de Arte Religiosa e Tradicional (Mart), localizado no Largo de Santo Antônio, em Cabo Frio, irá realizar um grande evento de Folclore e Cultura Popular. O 1º Festival Mestres do Povo vai promover estreias de filmes, o lançamento de um catálogo sobre a obra de mestres populares e uma exposição: “Ricardo do Carmo – 40 anos de Folclore”, com fotos, imagens e documentos produzidos pelo folclorista. Durante o festival, estudiosos e pesquisadores de cinco estados brasileiros estarão dividindo seu conhecimento com o público local. Num momento especial de intercâmbio cultural, iremos conhecer e ouvir Daliana Cascudo, neta de Câmara Cascudo e Presidente da Fundação Câmara Cascudo. Outro convidado aguardado é Irineu Fontes, secretário-executivo de Cultura de Sergipe e criador da Lei Mestres dos Mestres. A lei estabelece uma ajuda financeira para os mestres de saberes notórios reconhecidos pela comunidade. Grupos folclóricos famosos como “Os Parafusos”, de Lagarto (Sergipe), e o “Sorriso Feliz”, de Cabo Frio, vão fazer a festa do povo. Vale a pena conferir!

  • NOIVA DA MORTE

    Era o único varão numa família de mulheres. E, desde garoto, ouvia dizer:
    — Alipinho não casa! Nós não deixamos Alipinho casar…
    O Alipinho era ele. Cresceu num ambiente de absoluta predominância feminina, cercado de mulheres por todos os lados. Foi tiranizado, ferozmente, pela mãe, irmãs, tias e primas. Quase não saía de casa, quase não ia à rua. A parentela vivia no terror de outros meninos; fazia advertências: “Você não brinca com aquele menino, não. Ele diz nome feio, meu filho.” E o Alipinho, desde os quatro anos, sabia que dizer palavrão é pecado, que “Papai do Céu não gosta”. De vez em quando, o pai, vendo o garoto estiolar-se entre saias, explodia:
    — Ora, bolas! Vocês estão pensando o quê? O Alipinho é homem! — E enchia a boca, com a palavra: — Homem!
    Mas as mulheres, inclusive a mãe, se atiravam em pânico, numa pavorosa
    histeria coletiva. Agarravam-se ao menino, absorviam o menino: a mãe, em crise, frenética, berrava: “O filho é meu!” E atirava à cara do marido o grande argumento:
    — Fui eu quem teve as dores! Eu!…
    O marido, mascando o charuto apagado, sentia-se impotente diante dessa
    conspiração feminina. Saía, furioso, batendo com as portas e uivando: “Vão pro diabo que as carregue!” Na ausência dele, rosnava-se, pelos cantos: “Homem mau!”

    A Flor

    Enfim, o pai de Alipinho caiu de cama. E o engraçado é que, desde o primeiro momento, não teve dúvidas. Convocou a mulher, as filhas, o próprio Alipinho, e disse, sem dramaticidade, com ar apenas informativo: “Pessoal, eu vou morrer.” Houve protestos e choradeira, mas ele insistiu, sóbrio e digno: “Estou liquidado.” E, de fato, o médico mandou fazer vários exames e constatou-se apenas isto: “Câncer.” Aventurou-se, a medo, com pudor, a pergunta: “Quantos meses de vida?” Resposta: “Três.” Houve a dor necessária e compreensível. E mais do que isso: o espanto, o
    medo. Realmente, a morte datada impressiona e assusta muito mais. Havia,
    também, de uma maneira inconfessada, um sentimento de alívio. Com a morte do pai, que a ciência prometia, a educação de Alipinho deixava de ser um problema agudo e desesperador. O pai exigia, para o filho, uma educação de homem; dizia mesmo: “Quero que meu filho beba, fume, diga palavrões!” Já a mãe, com o apoio compacto das filhas, sonhava com um Alipinho doce, respeitador, doméstico. Anunciava, francamente: “Se meu filho chegasse tarde em casa, eu morria do coração!”
    O pai morreu no fim dos três meses. Antes, porém, acusou a mulher: “Você é uma criminosa. Você está transformando meu filho num maricas. Escreve o que eu vou dizer: meu filho vai ser um degenerado.” Ela ouviu tudo isso, sem protesto, por se tratar de um moribundo; mas trançou os dedos, em figa. Quando voltou do cemitério, não pôde evitar um suspiro de alívio. Ia poder, enfim, educar o filho à sua maneira. Alipinho estava, na época, com 13 anos e era, realmente, uma flor.

    Último Desejo

    Mas o que ninguém sabia era de uma conversa que, antes de morrer, o pai de Alipinho tivera com o dr. Assunção, médico da família. Já com o pé na sepultura, o moribundo dispensou-se de quaisquer cerimônias ou hipocrisias: disse o diabo.
    Começou assim:
    — Doutor, vou lhe fazer um último pedido.
    — Pois não.
    O outro, no seu fôlego curto, ofegava: “É o seguinte: o senhor sabe que a cretina da minha mulher…”
    Ao ouvir a expressão “cretina”, o médico pigarreou; mas o doente prosseguiu: “… a cretina da minha mulher o respeita muito, ouve muito o que o senhor diz.” O médico admitiu: “Mais ou menos.” Continuou o doente: “Pois bem. Quando chegar a época, eu queria que o senhor usasse a sua influência e fizesse meu filho casar.” O moribundo encarou o médico: “É meu último desejo, doutor. Eu lhe peço por tudo…” E numa derradeira irritação terrena, o infeliz ainda chamou o filho de “essa
    besta” e a mulher de “débil mental”. Dr. Assunção balbuciou:
    — Pois não. Prometo.
    — Jura?
    — Juro. Farei o que estiver ao alcance. Pode ficar descansado.
    No fundo o médico gostou de ser o depositário de um “último desejo”. Lera, não sei onde, que “a um morto não se recusa nada”. Em casa, com a mulher, dr. Assunção contou o caso e, dissimulando a vaidade, suspirou:
    — Um abacaxi tremendo!

    O Abacaxi

    Dr. Assunção julgava-se muito hábil e, piscando o olho, soprou para a esposa: “Neste caso, tenho que ser maquiavélico…” Sintoma do seu maquiavelismo foram os meios insidiosos que adotou para realizar seus desígnios. Ia à casa do Alipinho com mais frequência e opinava sobre tudo, inclusive sobre o preço do feijão. Queria ter uma participação cada vez maior na vida da família, familiarizar-se com os assuntos da casa. Um belo dia, começou de maneira indireta: “O casamento é uma
    necessidade social e natural.” A própria frase o encantou pela sonoridade. Virou-se para a mãe do Alipinho e fez a interpelação cordial: “A senhora não acha?” Esperou a concordância, mas a outra contra-atacou: “Ah, não. Eu não acho.” O médico espantou-se: “Como?” Ela esclareceu:
    — Eu acho o seguinte: a mulher deve casar… O homem, não.
    — Ora veja!
    Ela teimou dardejando um olhar para o Alipinho: “Só a mulher precisa casar.” Um pouco desconcertado, o dr. Assunção resolveu ser hábil: protelou o assunto. Em casa, com a mulher, numa autossatisfação profunda, admitiu:
    — Eu sou maquiavélico! Eu sou maquiavélico!
    Mas o fato é que se apaixonara pela missão que, inicialmente, ele próprio achara um “abacaxi temendo”. Interessara a mulher na causa; e ela o estimulava: “Olha, Fulano, tu não podes fracassar.” Ele dava garantias:
    — Deixa por minha conta.

    Alipinho

    Enquanto isso, o Alipinho ia crescendo, cada vez mais agarrado às saias da mãe e das irmãs. Evitava companhias masculinas e, a rigor, seu círculo de relações era estritamente feminino. Sentia-se bem lidando com moças e senhoras, merecia delas um tratamento de igual para igual. E ninguém mais fino, mais educado, mais doce. Dizia-se, a seu respeito: “É uma dama!” Quando, certa vez, o dr. Assunção sugeriu que um rapaz “deve ter modos de homem”, houve um alarido de mulheres.
    Frenética, a mãe do Alipinho saltou:
    — Não, senhor! Absolutamente! O homem não precisa ser cafajeste! Pois eu estou muito satisfeita com os modos do meu filho!…
    O Alipinho tinha, então, 18 anos de idade. Depois de alguns dias de confabulação com a mulher, o dr. Assunção achou que era o momento de agir de maneira mais efetiva. Chamou o Alipinho ao consultório e os dois tiveram uma interminável conversa. O médico quis saber se ele tinha tido alguma namorada. Não. Então, o doutor, impressionado, resolveu ser mais objetivo e contundente. Olhou para os lados, baixou a voz e soprou a confidência heroica:
    — Pois, eu, na tua idade, não me escapava nem rato. Dava em cima de tudo quanto era empregada!
    Alipinho voltou para casa atônito. A verdade é que as confidências pessoais do médico lhe haviam embrulhado o estômago. Mas dr. Assunção não perdeu mais tempo. Debatia o assunto matrimonial com a maior veemência. Alegava, polêmico:
    “É uma lei da natureza!” Ao que replicava a mãe do rapaz:— Eu quero que a natureza vá lamber sabão! Ele recorria ao “crescei e multiplicai-vos”. Finalmente, a família capitulou pelo cansaço físico. Chorando, a mãe chamou o Alipinho: “Tu vais casar, meu filho.” Suspirou o rapaz numa
    docilidade de cortar o coração: “A senhora é quem sabe.

    A Pequena

    Começou, então, a procura frenética da namorada. Procura daqui, dali, acabaram descobrindo uma tal Marta, da idade do rapaz. Era namoradeira que Deus te livre, mas dizia-se, com otimismo: “Muda com o casamento.” Quem nadava em ouro e mel era o dr. Assunção. Via, no caso, uma vitória pessoal; invocava o testemunho da esposa: “Viste a minha habilidade?” Ela pasmava de tamanho maquiavelismo. E continuavam os preparativos do casamento. Alipinho olhava, com uma espécie de terror, a noiva, cheia de elã, de apetite vital. Entre os dois, ela era quem tinha a voracidade dos beijos. Ele, emagrecia e, de vez em quando, precisava tomar coramina, por causa das palpitações. Só deu opinião uma vez: na escolha do vestido
    da noiva. Exigiu um modelo de Rainha, de Princesa, de Fada, algo de inimaginável e inesquecível. Três dias antes do casamento, o vestido ficou pronto. Então, sem dizer nada a ninguém, Alipinho foi buscá-lo.
    Carregou o embrulho como uma preciosidade. Saltou do táxi, entrou em casa pelos fundos, sem que ninguém o percebesse. Aliás toda a família, nesse dia, fora para a casa da noiva.

    As Núpcias

    Sozinho, em casa, Alipinho não precisou ter pressa. Tomou um banho, com sabonete espumoso. Depois, perfumou-se com água-de-colônia, diante do espelho. Da água-de-colônia passou ao pó de arroz, ao ruge, ao batom. E, finalmente, pôs o vestido de noiva, inclusive a grinalda, o véu. Apanhou um disco da marcha nupcial, que comprara na véspera, e o colocou na vitrola. Ao mesmo tempo, acionou o dispositivo que faria repetir o disco, indefinidamente. Feito isto, deu todo o volume.
    Horas depois, chega a família. Já a vizinhança estava alucinada com o disco da marcha nupcial. Desligam a vitrola. Uma das irmãs vai ao banheiro e lá vê aquele vulto branco suspenso. Grita, rola em ataque. Todos correm, num atropelo. Inclusive os vizinhos invadem a casa. Vestido de noiva, com véu e grinalda, enforcara-se Alipinho.

    Nelson Rodrigues – 1912/1980.

  • DUNAS & FORTE SÃO MATHEUS – LUCIANO BARBOSA

    Dunas & Forte São Matheus – LUCIANO BARBOSA.

  • PEQUENAS DOSES

    O novo sistema de estacionamento

    O novo sistema de estacionamento apresentado pela Prefeitura atende a uma antiga reivindicação dos empresários do centro da cidade, reverberadas em algumas reuniões da ACIA ao longo dos últimos anos. O empresariado junto com o poder público precisa criar eventos, que atraiam consumidores para o centro comercial. A mudança nas regras de estacionamento por si só não resolve o problema, que é bem mais profundo.

    Indigência

    Hoje, o comércio do centro atrai muito pouco e não se percebe ações da ACIA e outras associações para mudar esse quadro cinzento. Basta ver o Dia das Mães e o Natal, em total indigência. No Natal, se não houvesse a bela árvore plantada pelo SESC na Praça Porto Rocha, não haveria nada que lembrasse a importância da data. Talvez se animem em finados.

    Conexões

    O Centro possui numerosas atrações, de imenso valor histórico, cultural e religioso. O problema é que esses bens não falam entre si, não são conectadas através de políticas integradas do Turismo/Cultura/Meio ambiente. A conexão seria extremamente benéfica ao comércio e serviços da região.

    Conexões 2

    Essa conexão poderia começar entre duas joias: o Museu de Arte Religiosa e Tradicional (MART), que funciona no prédio do Convento de Nossa Senhora dos Anjos (século XVII) e as exposições de artes plásticas contemporâneas, no Palácio das Águias. Não esquecer, que na Rua Jonas Garcia, antiga Rua da Praia, está uma das entradas do Palácio das Águias, justamente em frente ao terminal aquaviário, que liga o Centro ao Polo de Moda Praia da Gamboa.

    Esbanjamento

    O esbanjamento e irresponsabilidade gerados pela abundância dos royalties do petróleo geraram o deslocamento dos investimentos: tudo se concentrou no poder público municipal. Ora, os “sheiks do petróleo” adoraram, porque puderam ampliar o poder dentro da cidade e até nos municípios, que consideravam satélites. Um deles chegou a sonhar com o governo do estado.

    Choque de realidade

    Um choque de realidade provocado pelo declínio da produção dos poços de petróleo da Bacia de Campos, mostrou aos esbanjadores que o petróleo não é uma fonte energética eterna e inesgotável. Deveriam saber, porque esses dados primários estavam em qualquer livreto de Ciências, no Ensino Fundamental. Não sabiam, porque não interessava saber e tinham raiva de quem sabia. Deu no que deu!

    Um pouco tarde …

    Foi um pouco tarde para a cidade, porque ao aprenderem, se é que realmente aprenderam, já tinham gasto quase todos os royalties com maquiagens e políticas eleitoreiras, sem investimentos fundamentais em infraestrutura. Hoje, com os royalties cada vez mais restritos, o município tem dívidas que ultrapassam 1 bilhão de reais.

    Alternativa é o planejamento

    Cabo Frio agora sofre e busca alternativas para se reinventar sob a ótica econômica e financeira. O pior é que ainda tem que ouvir conselhos dos “sheiks” e “sultões” aposentados pelos tribunais e quem sabe pelos eleitores. Nunca é tarde para repensar e começar a planejar as próximas décadas levando em conta nossos filhos, netos e bisnetos.

    Aniversário & Memória

    Na quarta feira, 14, o prefeito José Bonifácio Ferreira Novellino, estaria completando 80 anos de uma bela história de vida. A missa em sua memória vai ser realizada na Matriz Histórica de Nossa Senhora da Assumpção às 19 horas.

  • BREVE RELATO SOBRE PAULO FREIRE

    No último dia 2 de maio completaram-se 28 anos da morte de Paulo Freire, o educador e filósofo pernambucano, que se vivo fosse, faria 103 anos nesta data. É necessário ressaltar que as muitas fake news bolsonaristas que associam Paulo Freire e seu método de alfabetização as notas do Pisa são simplesmente mentirosas. Nunca o método de Paulo Freire foi adotado pelo governo federal. Só em um curto período de tempo no Rio Grande do Norte, em 1963 e logo a seguir em Pernambuco, tentou-se implantar um plano nacional da educação no curto governo João Goulart.

    Em 1964, meses depois de iniciada a implantação do Plano, o golpe militar extinguiu esse esforço. Freire foi encarcerado como subversivo por 70 dias. Em seguida passou por um breve exílio na Bolívia e trabalhou no Chile por cinco anos para o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação. Ficou no exílio até 1979, onde trabalhou em vários países e publicou a maioria de seus livros.

    Quando o PT venceu as eleições municipais paulistanas de 1988, iniciando-se a gestão de Luiza Erundina (1989-1993), Freire foi nomeado secretário de Educação da cidade de São Paulo. Exerceu esse cargo de 1989 a 1991. Dentre as marcas de sua passagem pela Secretaria Municipal de Educação estão a criação do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), um modelo de programa público de apoio a salas comunitárias de educação de jovens e adultos, aumento do salário dos professores, criação dos Conselhos Escolares para que as comunidades participassem das decisões, entre outras ações. Exerceu o cargo por dois anos. Sua morte ocorreu em 1997.

    O método de alfabetização “freiriano” é utilizado em diversos países do mundo e tem cursos sobre ele em Harvard, Oxford, Princeton e em inúmeras outras importantes e destacadas universidades do mundo. Mas no Brasil seu método nunca foi utilizado. Portanto, ele nada tem a ver com a péssima avaliação brasileira no Pisa.

    Paulo Freire é o intelectual brasileiro com maior número de títulos de professor “honoris causa” em universidades pelo mundo, incluindo as conceituadas, Harvard, Oxford e Cambridge. Apesar de todos estes títulos ele não era um “academicista”. Defendia que o saber do mundo precedia o saber acadêmico. Preconizava que se ensina e se aprende ao mesmo tempo no ofício de educar, tendo em vista toda a diversidade de saberes que norteiam o processo educacional.

    Em seu livro Pedagogia do Oprimido, Freire coloca o papel da educação como um ato político, que liberta os indivíduos por meio da consciência crítica, que emerge da educação como prática de liberdade. É preciso ler e conhecer para não falar ou escrever coisas equivocadas e desconectadas com a verdade. Como os críticos bolsonaristas não leem nada, bostejam nas redes sociais, expressando suas mentiras, suas convicções idiotas e seus inconformismos com a grandeza do educador brasileiro. A “práxis freiriana” vive!!

    Claudio Leitão é economista e professor de História.

  • UMA SENHORA

    Dona Quinota não se importava com a aspereza do ano inteiro. Com ela era ali no duro — trabalho, trabalho e mais trabalho. O ordenado das empregadas, na verdade, era uma pouca-vergonha que a polícia devia pôr um paradeiro. Não punha. Vivia metida com a maldita da política. Falta duma boa revolução!… Ah, se ela fosse homem!… Enquanto a revolução não vinha para botar tudo nos eixos, obrigando-a a endireitar as empregadas, fazia de criada — cozinhava, varria, cosia. Encerava a casa também, aos sábados, depois que disseram pelo rádio ser higiênico e muito econômico.

    — Econômico? Então se encera mesmo.

    O marido, que já estava acostumado àquelas resoluções, largou no melhor pedaço o segundo volume de Os Miseráveis, meteu sobre o pijama a gabardine cheirando a gasolina na gola e foi telefonar para a loja de ferragens, pedindo duas latas de cera — da boa, vê lá! — chorando um abatimentozinho na escova e na palha de aço: está ouvindo, Seu Fernandes?

    Estava sempre para tudo que, graças a Deus, era mulher forte. Saíra à mãe, que também o fora, morrendo velha de desastre, desastre doméstico, uma chaleira de água fervendo para o escalda-pé do marido, um coronel reformado, que lhe virou por cima do corpo.

    Nunca se queixava da vida. Não ia à cidade passear, as suas compras eram em regra feitas pelo marido, precisava que a fita fosse muito falada para ela se abalar até ao cinema do bairro, onde cochilava a bom cochilar; contavam-se os domingos em que ia à missa, não fazia visitas, nem recebia. Não reclamava o trabalho que lhe davam os filhos, três desmazelados que andavam na escola pública, Elcio, Élcia e Elcina, respectivamente quinze, quatorze e treze anos, o que atesta bem a força do marido e dá ideia o que seria depois de dez anos de casada, se depois da Elcina não tomasse as devidas precauções.

    — Não se esqueçam de dar lembranças à Dona Margarida — aconselhava na hora da saída, enquanto punha nas bolsas as bananas e o pão com manteiga da merenda. Dona Margarida fora sua amiga no colégio das Irmãs, uma bicha no francês, cearense, um talento! Mandar lembranças para ela equivalia a dizer: Olha que são meus filhos,Margarida; os filhos da tua amiga Quinota…

    E os exames estavam perto, com prêmios de cadernetas da Caixa Econômica dados pelo prefeito, ridicularizados pelos jornais oposicionistas, elogiados pelos do governo — a Folha dizia que era um gesto de Mecenas, mas enfim fartamente anunciados em todos os jornais para incentivo da meninada estudiosa. Ela queria ser mordida por um macaco se não arranjasse três cadernetas para casa. Os filhos é que não faziam fé. Bordava para fora, cuidava do Joli, o bichano para sujar a casa era um desespero, e sobrava tempo ainda para ter ciúmes do marido com as vizinhas, principalmente Dona Consuelo, uma descarada, é certo, mas muito chique, confessava. Chegando o carnaval, tirava a forra.

    As economias acumuladas saíam do Banco Popular juntas com os juros. Não ficava nada. Metia-se numa fantasia de baiana e inundava a capota do automóvel com seus oitenta e cinco quilos honestíssimos. As meninas iam de baianas também, menos saias, mais berloques, e o menino de pierrô, cada ano de uma cor, porque não é para outra coisa que o dono do Tinto! gasta aquele dinheirão em anúncios. Tirava do cabide a casaca do casamento, dezesseis anos por isso (como o tempo corre!), dava um jeito nas manchas: — No automóvel, ninguém repara, meu filho — dizia com um sorriso, ora para a casaca, ora para o marido, que se traduzia: lembras-te? Ele, então, com uma faixa vermelha na cintura, brincos em forma de argola, pendentes das orelhas demasiadas, enfiava na cabeça um turbante de seda branca com pérolas em profusão, e ia em pé, no carro, de rajá diplomata. No terceiro dia, graças a Deus não choveu em nenhum dos três, perguntava para o marido: — Quanto temos ainda?

    Ele remexia a carteira (bolso de casaca é o tipo da coisa encrencada!), fura-bolos trabalhava passado na língua, e cantava a quantia:

    — Duzentos e oitenta.

    — E os oitocentos do automóvel?

    — Já estão fora.

    — Ah! Bem… — Para fazer contas no ar era um assombro: … pode gastar mais cento e cinquenta.

    O resto ficava para gastar depois do carnaval — mas entrava na verba dele — com o fígado do marido, porque depois da pândega (a experiência de Dona Quinota é que falava) Seu Juca tinha rebordosas, vômitos biliosos, uma dor do lado danada, de tanta canseira, tanta serpentina e tanta cerveja gelada.

    Não faz mal. Não fazia não. A vida era aquilo mesmo: três dias — falava. Maspensava: por ano. Podia dizer, mas não dizia. Deixava ficar lá dentro. O “lá dentro” de Dona Quinota era uma coisa complicada, complícadíssima, que ninguém compreendia.

    Só ela mesma e o marido, às vezes. Desciam do automóvel à porta de casa, quando o vizinho veio vindo com o rancho da filharada.

    — Brincaram muito? — fez Seu Adalberto, com um jeito de despeitado. — Assim, assim…

    Dona Quinota dizia aquele “assim-assim” de propósito. Que lhe importava os outros saberem se ela tinha gozado ou não? Quem gozava era ela. Mas gostava de ficar deliciando-se por dentro com a inveja dos vizinhos: assim, assim… Ah! Ah! Ah! Seu Adalberto exultava:

    — E isso mesmo. Faz-se despesas enormes (e Dona Quinota sorria) e não se diverte nada. (Dona Quinota olhava para o céu.) É sempre assim. Pois olhe: nós fomos a pé mesmo. Estivemos ali na Avenida na esquina do Derbi, apreciamos o baile do Clube Naval, muita fantasia rica, muita, vimos perfeitamente as sociedades, tomamos refrescos, brincamos à grande. Não foi? As mocinhas fizeram que sim, humilhadas, mas os guris foram sinceros: — Aquele carro do girassol que rodava, hem, papai! Seu Adalberto corrigiu logo: — Girassol, não, Artur; crisântemo.

    Depois que corrigiu, ficou azul, sem saber ao certo se era crisântemo ou crisantemo — quer ver que eu disse besteira?

    Seu Juca não havia meio de encontrar o raio da chave. Esses bolsos de casaca!…

    — O ano que vem — Dona Quinota falou firme — nós iremos também a pé.

    O marido até se virou. Ficou olhando, espantado. Que diabo é isto? — ia perguntando. Por um triz que não perguntou. Mas ficou assim… Compreendeu?

    Parece… Esta Quinota!…

    Foi quando Seu Adalberto, evidentemente mortificado, se refez e sentenciou como experiente na matéria, apesar de nunca ter entrado num automóvel pelo carnaval: é melhor mesmo.

    A tribo sumiu pela porta do 37. A maçaneta fechou por dentro. Torreco, torreco. Agora foi a chave — duas voltas. O pigarro do seu Adalberto, ainda com o acento do crisântemo a fuzilar-lhe na cabeça, veio até cá fora se misturar com um resto de choro, pandeiro e chocalhos, do bonde que passava mais longe. Passos apressados no fundo da rua. O burro do inglês estava na janela do apartamento fumando para a lua. Dona Quinota ficou olhando-o um pouco, depois cerrou a porta bem e fixou o marido que dava por falta dum brinco: Que cretinos!Seu Juca parou no meio do corredor, cara de ressaca, pernas abertas, o turbante nas mãos e esperou mais. Mas Dona Quinota era hermética. O resto ficou lá dentro onde ninguém ia buscar, porque o marido, o único interessado na ocasião, mais morto do que vivo, preferiu tirar o colarinho e a casaca. Dona Quinota atirou-se na cama escangalhada e feliz, só acordando na quarta-feira de cinzas ao meio-dia.

    Quando o resto da família se levantou, o almoço (feito por ela) já estava na mesa, e Dona Quinota se desesperava porque tinha lido no Jornal do Brasil que foram os Fenianos que pegaram o primeiro prêmio, quando todo mundo viu perfeitamente que só o carro-chefe dos Democráticos…

    Marques Rebelo – 1907/1973.

  • BOCA DA BARRA – CABO FRIO/RJ – LUCIANO BARBOSA

    Boca da Barra – Cabo Frio/RJ – LUCIANO BARBOSA

  • PEQUENAS DOSES

    O Estacionamento

    A proposta de solução para o estacionamento no centro da cidade feita pela Prefeitura teve grande repercussão, na medida em que afeta o cotidiano dos trabalhadores. O próprio prefeito Serginho Azevedo (PL) veio a público explicar o sistema adotado e reconheceu que o governo não se comunicou bem com a sociedade. Agora é colocar em funcionamento, corrigir possíveis problemas e se não der certo buscar novas soluções.

    A Comunicação

    Serginho Azevedo (PL), desde o início, tem se colocado como o principal instrumento de comunicação do seu governo. Não é uma tarefa fácil, porque além de promover e defender o governo trás o desgaste, também em caráter pessoal. É uma ação que mais tarde poderá ser avaliada em sua repercussão política e eleitoral.

    O Esvaziamento

    São vários as razões do esvaziamento econômico/financeiro do centro da cidade, que não pode ser explicado apenas pelas dificuldades de estacionamento. A primeira delas pela falta de representatividade das lideranças locais, que não conseguem produzir projetos de recuperação da área comercial, sem investimentos e clamando única e exclusivamente por uma solução milagrosa do poder público.

    Onde estão os projetos?

    A solução para deter o esvaziamento e levantar a área passa por projetos e eventos conjuntos do poder público em parceria com a iniciativa privada. Vai exigir mudanças no urbanismo, no paisagismo e também na política de eventos, tornando a região do centro novamente atrativa para a população da cidade e visitantes.

    Palácio das Águias e os Eventos

    O Blog acredita que eventos de boa qualidade associados a rápida e simples recuperação paisagística possam ser o ponto de partida para a recuperação do centro da cidade. A programação do Palácio das Águias, centro de artes plásticas, pode se conectar com a área comercial e se tornar o indutor desse processo.

    Atrações Históricas e Culturais

    O centro tem o acesso aquaviário para o polo de moda praia na Gamboa, está praticamente ao lado da Fonte do Itajuru, o Charitas, a Matriz de Nossa Senhora da Assumpção, o Palácio das Águias, o Convento de Nossa senhora dos Anjos (Museu de Arte Religiosa e Tradicional) e a Capela de Nossa Senhora da Guia.

    Conexões

    Todas essas atrações, de imenso valor histórico, cultural e religioso tem que ser conectadas por corredores culturais através de horários de visitação e agências de turismo receptivo. Sem falar na beleza do Canal do Itajuru, que liga a Lagoa de Araruama ao Oceano Atlântico. Com tudo isso, não vale entregar a uma linha de turismo tipicamente predatória.

    Mais do Canhão

    A pesquisadora e historiadora Rose Fernandes, que está publicando, com recursos próprios toda a obra de Teixeira e Sousa, gravou essa semana com o jornalismo da TV Record. Assunto: o badalado canhão que foi sequestrado do Forte São Matheus por estudantes de Nova Friburgo e que acaba de retornar a casa. A matéria vai ao ar nessa segunda-feira às 12 horas.

  • NÃO ESQUEÇAM DE GAZA
  • O VITRAL

    Desde muito, ela sabia que o aniversário, este ano, seria num domingo. Mas só quando faltavam quatro ou seis semanas, começara a ver na coincidência uma promessa de alegrias incomuns e convidara o esposo a tirarem um retrato. Acreditava que este haveria de apreender seu júbilo, do mesmo modo que o da Primeira Comunhão retivera para sempre os cânticos. — Ora… Temos tantos… — respondera o homem. Se tivéssemos filhos… Aí, bem. Mas nós dois! Para que retratos? Dois velhos! A mão esquerda, erguida, com o indicador e o médio afastados, parecia fazer da solidão uma coisa tangível — e ela se reconhecera com tristeza no dedo menor, mais fino e recurvo. Prendera grampos aos cabelos negros, lisos, partidos ao meio, e levantara-se. — Está bem. Você não quer…

    (A voz nasalada, contida, era um velho sinal de desgosto.) — Suas tolices, Matilde… Quando é isso?

    Como se a ideia a envergonhasse, ela inclinara a cabeça:

    — Em setembro — dissera. No dia vinte e quatro. Cai num domingo e eu…

    — Ah! Uma comemoração — interrompera o esposo. Vinte anos de casamento…

    Um retrato ameno e primaveril. Como nós.

    Na véspera do aniversário, ao deitar-se, ela ainda lembrara essas palavras; mas purificara-se da ironia e as repetira em segredo, sentindo-se reconduzida ao estado de espírito que lhe advinha na infância, em noites semelhantes: um oscilar entre a espera de alegrias e o receio de não as obter. Agora, ali estava o domingo, claro e tépido, com réstias de sol no mosaico, no leito, nas paredes, mas não com as alegrias sonhadas, sem o que tudo o mais se tornava inexpressivo.

    — Se você não quiser, eu não faço questão do retrato — disse ela. Foi tolice.

    — O fotógrafo já deve estar esperando. Por que não muda o penteado? Ainda há tempo.

    — Não. Vou assim mesmo.

    Abriu a porta, saíram. Flutuavam raras nuvens brancas; as folhas das aglaias tinham um brilho fosco. Ela deu o braço ao marido e sentiu, com espanto, uma anunciação de alegrias no ar, como se algo em seu íntimo aguardasse aquele gesto. Seguiram. Soprou um vento brusco, uma janela se abriu, o sol flamejou nos vidros. Uma voz forte de mulher principiou a cantar, extinguiu-se, a música de um acordeão despontou indecisa, cresceu. E quando o sino da Matriz começou a vibrar, com uma paz inabalável e sóbria, ela verificou, exultante, que o retrato não ficaria vazio: a insubstancial riqueza daqueles minutos o animaria para sempre.

    — Manhã linda! — murmurou. Hoje eu queria ser menina.

    — Você é.

    A afirmativa podia ser uma censura, mas foi como um descobrimento que Matilde a aceitou. Seu coração bateu forte, ela sentiu-se capaz de rir muito, de extensas caminhadas, e lamentou que o marido, circunspecto, mudo, estivesse alheio à sua exultação. Guardaria, assim, através dos anos, uma alegria solitária, da qual Antônio para sempre estaria ausente. Mas quem poderia assegurar, refletiu, que ele era, não um participante de seu júbilo, mas a causa mesma de tudo o que naquele instante sentia; e que, sem ele, o mundo e suas belezas não teriam sentido?

    Estas perguntas tinham o peso de afirmativas e ela exclamou que se sentia feliz.

    — Aproveite — aconselhou ele. Isso passa.

    — Passa. Mas qualquer coisa disto ficará no retrato. Eu sei. As duas sombras, juntas, resvalavam no muro e na calçada, sobre a qual ressoavam seus passos.

    — Não é possível guardar a mínima alegria — disse ele. Em coisa alguma. Nenhum vitral retém a claridade.

    Cinco meninas apareceram na esquina, os vestidos de cambraia parecendo-lhes comunicar sua leveza, ruidosas, perseguindo-se, entregues à infância e ao domingo, que fluíam com força através delas. Atravessaram a rua, abriram um portão, desapareceram.

    Ela apertou o braço do marido e sorriu, a sentir que um júbilo quase angustioso jorrava de seu íntimo. Compreendera que tudo aquilo era inapreensível: enganara-se ou subestimara o instante ao julgar que poderia guardá-lo. “Que este momento me possua, me ilumine e desapareça — pensava. Eu o vivi. Eu o estou vivendo.”

    Sentia que a luz do sol a trespassava, como a um vitral.

    Osman Lins – 1924/1978.

  • A PIRA DA CORRUPÇÃO

    O Night Club, em São Cristovão, foi dos melhores acontecimentos da noite daquela pequena cidade querendo se transformar em grande: sempre duas bandas de estilos e ritmos diferentes. Lotava os dois andares da casa! Cerveja gelada, batida de limão e cachorro magro acompanhavam aquele “bate-coxa”. Vez por outra, a pedidos, o conjunto lascava o “miudinho”, que é pra quem tem gosto e sabe sambar como Paulinho da Viola e a Velha Guarda da Portela.

    Muito duro, sem jeito deixava pra Babade, “amigo de fé, irmão camarada” a tarefa de fazer as firulas com as garotas e porque não com as coroas bem dispostas. Às vezes era tanta firula, que custava aos dois corrida até o ponto de ônibus mais próximo: fazia parte. Por sorte o motorista conhecia aquela dupla de tantos outros carnavais e noitadas.

    No final da noite, quando ficava sem um tostão, voltavam pra casa a pé ou encontravam aquela carona piedosa e salvadora. Certas madrugadas, não rolava nada, nem carona e sem dinheiro para o ônibus o jeito era sair se arrastando, do clube até a Padaria de Seu Luiz, no centro da cidade. Um estirão! Valia a pena! A generosidade do português garantia no mínimo aquela média de café, com pão e manteiga na chapa. Quando, por sorte, aparecia o saltitante jornalista do único diário da região, a “saideira”, com mais uma e outra cervejinha, era coisa certa.

    Nessa época, o prefeito tinha lançado perto da rodoviária, o Muro do Amor, terreno descampado que tinha uma baita árvore, consultório ao ar livre, onde ele atendia centenas de pessoas diariamente. Hoje é um prédio horrendo, modernoso, entre tantos que aos poucos transformam a cidade em uma miniatura da região metropolitana do Rio de Janeiro.

    A política fervia. A população ainda se chocava com as denúncias de corrupção. Navegando na maré, o prefeito criou a “Pira da Corrupção” e anunciou que ali iria queimar e transformar em cinzas toda a corrupção da cidade. A “pira” propriamente dita era um enorme tacho, grande mesmo, que ficava no centro do terreno.

    Quando no meio da madrugada a dupla viu aquele tacho iluminado, não resistiu à tentação. Pulou o “Muro do Amor”, tinha meio metro de altura, no máximo, juntou o que restava de forças, derrubou a pesada “pira” do pedestal e saiu correndo pela madrugada.

    No dia seguinte, a manchete do único jornal trazia: vândalos derrubaram a “Pira da Corrupção”!

    Manoel Lopes da Guia Neto.

  • PAISAGENS CABOFRIENSES – JOÃO FÉLIX

    Paisagens Cabofrienses – JOÃO FÉLIX.

  • PEQUENAS DOSES

    Patrimônio Histórico

    Enfim desenrolou o mistério da volta do canhão surrupiado ao Forte São Matheus, em Cabo Frio. Desvendadas as vaidades, aqui e acolá, a secular peça de artilharia merece retornar ao seu lugar de guarda da entrada da barra de acesso a Laguna de Araruama através do Canal do Itajuru. Tomara que o seu retorno seja estímulo para o zelo permanente do patrimônio da cidade, parte de nossa história.

    Zelo & Divulgação

    O cuidado permanente na conservação dos patrimônios natural e histórico da cidade e sua correta e ampla divulgação contribuirá e muito para o turismo no município. É preciso dar ao turista a sensação de segurança, organização e limpeza ao visitar os pontos mais atraentes da cidade. O Forte São Matheus é um deles.

    Zelo & Divulgação 2

    O zelo, aliado a criação de eventos de boa qualidade, como os festivais de jazz e blues, em Rio das Ostras e Búzios, direcionado para determinada faixa de público, será capaz de aos poucos descontruir o turismo de massa ou mesmo ordená-lo, com grandes benefícios para a população da cidade como um todo.

    Inspeção

    O secretário de meio ambiente Jailton Dias Nogueira e Davi Barcelos, secretário de turismo, publicaram nas redes sociais da internet a visita de inspeção que realizaram na Ilha do Japonês. A impressão foi a pior possível: muito lixo e desleixo por parte de todos que frequentam o local e dos que ganham dinheiro por conta dessa linda área lagunar. A promessa é de organização de toda a área. Precisa!

    Limpeza urbana

    O prefeito Serginho Azevedo (PL) anunciou nova tecnologia para a coleta de lixo e limpeza da cidade, através da Comsercaf. Novo vídeo mostra os funcionários da autarquia sendo treinados com as novas técnicas e aparelhos. A cidade, em todos os seus bairros está precisando bastante de tecnologia, divulgação correta e também mais educação dos cidadãos-contribuintes.

    Lodo & Estação de Tratamento

    Serginho Azevedo (PL) também anunciou que obteve a licença para a retirada do lodo poluente, na área da Praia do Siqueira. A extração do lodo aliada a aceleração da construção da Estação de Tratamento Terciária será grande ganho não apenas para o bairro, para a Laguna de Araruama e a cidade.

    Folclore Político

    Linguajar janístico – Há duas pérolas entre as mais citadas, entoadas pelo então professor de português e depois presidente do Brasil, Jânio Quadros. Ao ser questionado por uma jovem jornalista “por que fez isso”, respondeu do alto da sua sabedoria: “Fi-lo porque qui-lo”. Noutra vez lhe perguntaram porque bebia tanto: “Se fosse liquido, bebê-lo-ia. Se fosse sólido, comê-lo-ia”. Os maldosos emendavam, “como não é possível comê-lo-á”, um cacófato que fazia referência ao nome da esposa de Jânio: Eloá Quadros.

    Metódico – O ex-vice presidente da República, Marco Maciel era metódico em tudo. Inclusive no casamento. Domingo à noite era sagrado que, depois da missa, seguida de pizza com vinho, era hora de “namorar”. Até que num certo domingo à noite, Maciel recebe um telefonema do ex-ministro chefe, Golbery do Couto e Silva, informando que um avião o aguardava para uma viagem urgente a SP. Maciel vira-se para a esposa, informa que Golbery o havia chamado e sai-se com essa: “Teje namorada!”

    Revista O Cruzeiro – O velho Assis Chateaubriand, dono dos diários Associados e da Revista O Cruzeiro, era um craque do ponto de vista editorial. Certa feita pediu a um dos seus fotógrafos que conseguisse uma foto do ex-presidente Juscelino Kubitscheck de “robe de chambre”, fazendo a barba. JK topou a brincadeira e virou capa da revista. Hoje, certamente nossas editorias fotográficas são todas muito menos audaciosas!

    O Amigo da Onça – Péricles

  • DANÇA DOS VODUNS

    As vezes me pergunto se os amigos que nos deixaram tem alguma visão, pensamento, ilusão, distinção, noção do que se passa com os amigos que aqui ficaram… O mundo já não é o mesmo que foi… Quem foi esquecido? Quem ainda será? Não acredito em nada que eu não possa saber… Certa vez Darcy disse a Oscar que só ele, que fez sua obra em concreto, iria perdurar mais de mil anos na memória do mundo… O que importa isso para quem já foi? Não sei o que vem depois da memória do ver, do ser, do nada.Sei o que eu vivi… No Maranhão, na Casa das Minas, pude presenciar a dança dos que já partiram… Estavam cobertos, dos pés a cabeça, de belíssimos mistérios indecifráveis… Lembrei-me dos amigos… Salve Nunes Pereira!

    José Sette de Barros é cineasta e artista plástico.

  • POR UM PÉ DE FEIJÃO

    Nunca mais haverá no mundo um ano tão bom. Pode até haver anos melhores, mas jamais será a mesma coisa. Parecia que a terra (á nossa terra, feinha, cheia de altos e baixos, esconsos, areia, pedregulho e massapê) estava explodindo em beleza. E nós todos acordávamos cantando, muito antes do sol raiar, passávamos o dia trabalhando e cantando e logo depois do pôr-do-sol desmaiávamos em qualquer canto e adormecíamos, contentes da vida.

    Até me esqueci da escola, a coisa que mais gostava. Todos se esqueceram de tudo. Agora dava gosto trabalhar.

    Os pés de milho cresciam desembestados, lançavam pendões e espigas imensas. Os pés de feijão explodiam as vagens do nosso sustento, num abrir e fechar de olhos. Toda a plantação parecia nos compreender, parecia compartilhar de um destino comum, uma festa comum, feito gente. O mundo era verde. Que mais podíamos desejar?

    E assim foi até a hora de arrancar o feijão e empilhá-lo numa seva tão grande que nós, os meninos, pensávamos que ia tocar nas nuvens. Nossos braços seriam bastantes para bater todo aquele feijão? Papai disse que só íamos ter trabalho daí a uma semana e aí é que ia ser o grande pagode. Era quando a gente ia bater o feijão e iria medi-lo, para saber o resultado exato de toda aquela bonança. Não faltou quem fizesse suas apostas: uns diziam que ia dar trinta sacos, outros achavam que era cinqüenta, outros falavam em oitenta.

    No dia seguinte voltei para a escola. Pelo caminho também fazia os meus cálculos. Para mim, todos estavam enganados. Ia ser cem sacos. Daí para mais. Era só o que eu pensava, enquanto explicava à professora por que havia faltado tanto tempo. Ela disse que assim eu ia perder o ano e eu lhe disse que foi assim que ganhei um ano. E quando deu meio-dia e a professora disse que podíamos ir, saí correndo. Corri até ficar com as tripas saindo pela boca, a língua parecendo que ia se arrastar pelo chão. Para quem vem da rua, há uma ladeira muito comprida e só no fim começa a cerca que separa o nosso pasto da estrada. E foi logo ali, bem no comecinho da cerca, que eu vi a maior desgraça do mundo: o feijão havia desaparecido. Em seu lugar, o que havia era uma nuvem preta, subindo do chão para o céu, como um arroto de Satanás na cara de Deus. Dentro da fumaça, uma língua de fogo devorava todo o nosso feijão.

    Durante uma eternidade, só se falou nisso: que Deus põe e o diabo dispõe.

    E eu vi os olhos da minha mãe ficarem muito esquisitos, vi minha mãe arrancando os cabelos com a mesma força com que antes havia arrancado os pés de feijão:

    – Quem será que foi o desgraçado que fez uma coisa dessas? Que infeliz pode ter sido?

    E vi os meninos conversarem só com os pensamentos e vi o sofrimento se enrugar na cara chamuscada do meu pai, ele que não dizia nada e de vez em quando levantava o chapéu e coçava a cabeça. E vi a cara de boi capado dos trabalhadores e minha mãe falando, falando, falando e eu achando que era melhor se ela calasse a boca.

    À tardinha os meninos saíram para o terreiro e ficaram por ali mesmo, jogados, como uns pintos molhados. A voz da minha mãe continuava balançando as telhas do avarandado. Sentado em seu banco de sempre, meu pai era um mudo. Isso nos atormentava um bocado.

    Fui o primeiro a ter coragem de ir até lá. Como a gente podia ver lá de cima, da porta da casa, não havia sobrado nada. Um vento leve soprava as cinzas e era tudo. Quando voltei, papai estava falando.

    – Ainda temos um feijãozinho-de-corda no quintal das bananeiras, não temos? Ainda temos o quintal das bananeiras, não temos? Ainda temos o milho para quebrar, despalhar, bater e encher o paiol, não temos? Como se diz, Deus tira os anéis, mas deixa os dedos.

    E disse mais:

    – Agora não se pensa mais nisso, não se fala mais nisso. Acabou. Então eu pensei: O velho está certo.

    Eu já sabia que quando as chuvas voltassem, lá estaria ele, plantando um novo pé de feijão.

    Antônio Torres

  • OUTONO DE FOTOGRAFIAS – CABO FRIO/RJ – JOÃO FÉLIX

    Outono de Fotografias – Cabo Frio/RJ – JOÃO FÉLIX.

  • PEQUENAS DOSES

    Resgate & Restauração

    1 – O canhão, do século XVII, que foi levado, em 1953, do Forte São Matheus, por um grupo de estudantes de Friburgo, finalmente volta a Cabo Frio. O resgate foi articulado através de uma série de contatos desenvolvidos pelo vice-prefeito Miguel Alencar (União Progressista).

    2 – Ainda não foi anunciado pelas autoridades municipais a restauração das históricas peças de artilharia, que se encontram em péssimo estado no interior do Forte São Matheus. Já o Parque do Itajuru está bem cuidado, mas não a Fonte, que é a razão de existir do próprio parque: o estado é lastimável e aguarda restauração prometida há muitos anos.

    O Conclave

    Começou o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice da Igreja Católica, mantendo a tradição do Vaticano, 133 cardeais vão escolher o novo líder. Os vaticanistas consultados pela mídia esperam que o escolhido mantenha os avanços do Papa Francisco e exerça o diálogo com amplos setores da Igreja.

    Ressurgência

    A mostra coletiva Ressurgência, no Palácio das Águias, nasce como um espaço de sublimação e expansão da potência criativa local, trazendo à superfície a produção artística da região reunindo obras de 21 artistas de Cabo Frio e da Região dos Lagos. A exposição reúne diferentes propostas
    e linguagens, propondo um mergulho nas possibilidades de construção de memória, regionalidade e pertencimento, dando visibilidade a trajetórias que nutrem, recriam, subvertem e expandem o presente.

    A Conferir!

    O governo estadual, leia-se Cláudio Castro (PL) está devendo a população do Estado do Rio os oito centros de tecnologia e inovação, que deveriam estar prontos em julho de 2023, inclusive o Centro Tecnológico José Bonifácio, em Cabo Frio. As obras estão dentro do PAC/RJ. com custo superior a 170 milhões, após os aditivos. A Construtora Metropolitana garante que tudo fica pronto e entregue a população no final de 2025. A conferir!

    Folclore Político

    Pé de valsa – O ex-presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, o JK, além de hábil político era exímio dançarino. E com isso, ia trazendo alegria e intranquilidade nas cidades por onde passava. Por ele as moças suspiravam. Por ele, os maridos renegavam os votos. Coisas da política. E dona Sarah, coitada, que inventou o primeiro comitê feminino para ajudá-lo em suas campanhas, vivia “alquebrada”, tal era o peso da sua infelicidade!

    A camisa de JK – Duro e querendo ir a um baile, o ex-presidente Juscelino Kubitschek inventou de vender uma camisa para arrumar dinheiro para as entradas. Lavou, passou, embrulhou bonito e conseguiu a grana. Dia seguinte foi procurado pelo comprador, que reclamou do prejuízo: a camisa tinha rasgado todinha. Ao que JK lhe perguntou: “Mas fez o que a noite inteira com a camisa?” Ao que o comprador lhe respondeu: “Dancei samba, maxixe, mambo, tango e o escambau”. Irritado, JK lhe disse: “Mas meu amigo, essa é uma camisa de tecido fino… só pode dançar valsa!”. Deu as costas e nunca mais falou com o interlocutor.

    Itamar Franco – O caso mais vexatório ocorreu com o ex-presidente Itamar Franco, num dos seus dias de presidente. Ele foi passar o carnaval no Rio de Janeiro, recebeu camarote especial, bebeu, brincou a vontade a até arrumou uma namorada para aqueles dias. Lilian Ramos. Apareceram juntos, fotografados de baixo para cima pelos fotógrafos dos jornais brasileiros e internacionais. Que no dia seguinte estamparam as fotos do presidente “alegre”! E a acompanhante “sem calcinha”. Foi um vexame. O assessor de imprensa pediu demissão.

    Dona Eloá e a vassoura — Uma das imagens mais marcantes das campanhas eleitorais foi exibida na campanha eleitoral para presidente da república desenvolvida por Jânio Quadros. Na ocasião, por sugestão de sua esposa, Da. Eloá Quadros, foram usadas vassouras como símbolos da campanha. Todo mundo tinha uma em casa. Custo zero. E tema infalível: “Varrer a corrupção”. Deu no que deu.

    Observação – O último comício da campanha de Jânio Quadros na eleição de 1960, que o elegeu Presidente da República, foi realizado na Praça Porto Rocha, no centro de Cabo Frio. Na ocasião foi feita farta distribuição das “vassourinhas”, que iriam “varrer a corrupção” no Brasil.

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192 respostas em “BLOG DO TOTONHO”

Parabéns Totonho pela volta do seu blog! Análises sempre coerentes e precisas sobre a política e assuntos relevantes de nossa região! 👏👏👏

Saudades da Praia da Barra, sem carros, sem barracas e sem pedras soltas. Abraço e sucesso nesse retorno, já é a primeira coisa que faço quando ligo o computador.

Concordo plenamente com a primeira colocação sobre a falecida lembrança do sal. Podia- se ter um parque com um trenzinho mostrando como funcionavam as salinas .Seria,sem dúvida , uma atração turística rentável.

Sobre um monumento pra resgate da memória do sal em nossa cultura e economia sugeri já há algum tempo em transformar o antigo monstrengo da finda Praça das Águas num Memorial às Salinas. Mas ninguém parece ter interesse sendo melhor pro governo transformar aquele espaço numa horta, jardim ou oca indígena.

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