BLOG DO TOTONHO

  • JOSÉ BONIFÁCIO

    José Bonifácio Ferreira Novellino – 14/05 – Aniversário.

  • PEQUENAS DOSES

    Luiz Antônio Nogueira da Guia.

    Os Bento

    Vanderlei Bento é o candidato da família para se acomodar nas confortáveis poltronas do Plenário Oswaldo Rodrigues. Os Bento não costumam perder eleição para o legislativo cabofriense. O “chefe do clã”, o patriarca Silas, mesmo numa quarta suplência conseguiu assumir o mandato, na Assembleia Legislativa (ALERJ). Sorte ou capacidade de articulação política?

    Migração

    O vereador Davi Souza migrou do PDT, do qual foi líder do governo na Câmara, para o conservador PP, da base de apoio do deputado Serginho Azevedo (PL). O vereador é conhecido por gastar muita sola de sapato e acredita que a mudança de partido político não vai atrapalhar suas chances de reeleição.

    Complicações na Federação

    A ocupação da Federação Brasil da Esperança (PT/PC do B e PV) pelo grupo da prefeita Magdala Furtado, que transitou do Podemos ao PL e daí para o PV, é no mínimo complicada. Inicialmente, porque a população não reconhece na prefeita e seu grupo o perfil progressista dos partidos que formam a Federação. Segundo, porque a maior parte do PT, especialmente seu Diretório Municipal, que até aqui não aceita politicamente o grupo da prefeita.

    A Intervenção!

    A Federação, em nível estadual, interveio formalmente nos três partidos, PT/PC do B e PV, em Cabo Frio. De fato porém a intervenção se deu no PT, que resiste a presença do “Grupo Magdala”. O PV e o PC do B há muito estavam juntos no apoio a prefeita, basta ver as edições do Diário Oficial e os personagens, que hoje ocupam cargos no governo.

    O Instrumento

    O Diário Oficial é um forte instrumento de dissuasão muito utilizado pelo atual governo. Quem conhece a política local sabe que o grupo de Magdala só se mantém em Cabo Frio, porque aparelha a prefeitura e tem o Diário Oficial como forte instrumento político e eleitoral. Caso saia da Prefeitura desaparece rapidamente do cenário cabofriense. Talvez migre para Barra de São João ou tente mais uma vez o movimento separatista.

    Maioria sólida?

    A candidatura do deputado Serginho Azevedo (PL) conta com cerca de 11 partidos para enfrentar o processo eleitoral e trabalha integrado majoritária/proporcional. O objetivo não é apenas ganhar a Prefeitura, em 6 de outubro, mas eleger maioria sólida na Câmara de Vereadores para não ficar refém de maiorias segmentadas por questões de interesse imediato.

    O Triunvirato

    Átila Motta, Roberto de Jesus e Leo Mendes formam um trio, que, praticamente monopoliza as ações políticas do Palácio Tiradentes, voltadas para a eleição para a Câmara de Vereadores. Nesse campo, Roberto de Jesus conta diretamente com a secretaria de governo, o que não é pouco, mas Leo Mendes se aproximou do ex-prefeito Marquinho Mendes. Átila Motta esperneou, mas teve que se contentar com o PC do B. É comunista de carteirinha?

    Como fica?

    Em toda essa arquitetura política cabe uma pergunta pra lá de singela. Caso o ex-prefeito Marquinho Mendes (MDB) consiga se candidatar a prefeito, com quem o vereador Leo Mendes (também no MDB) vai ficar? Afinal, Magdala e Marquinho se enfrentariam nas urnas e seria uma baita “saia justa” ou essa arquitetura é furada, sem qualquer possibilidade de existir?

    Bloco Progressista

    Conversas colhidas em diferentes setores da opinião pública cabofriense indicam que pela primeira vez em muitos anos o chamado “Bloco Progressista” e nele está incluído o PDT, pode eleger dois vereadores. A última vez que isso aconteceu foi em 1992 com a eleição de Beto Nogueira (PSB) e Alfredo Barreto (PT). Caso aconteça pode, eventualmente, dar um sacode na Câmara.

    Hegemonia Conservadora

    A eleição, efetivamente, deve manter a hegemonia da presença conservadora, na Câmara. O que muitos observadores da política local avaliam é que mesmo conservador o legislativo comece a debater os grandes temas que a cidade precisa ver discutir. Afinal, não dá mais para os vereadores ficarem atuando apenas em cima de interesses pequenos, de categorias e não da sociedade como um todo.

  • FUTUROS AMANTES

    Chico Buarque

    Não se afobe, não
    Que nada é pra já
    O amor não tem pressa
    Ele pode esperar em silêncio
    Num fundo de armário
    Na posta-restante
    Milênios, milênios
    No ar

    E quem sabe, então
    O Rio será
    Alguma cidade submersa
    Os escafandristas virão
    Explorar sua casa
    Seu quarto, suas coisas
    Sua alma, desvãos

    Sábios em vão
    Tentarão decifrar
    O eco de antigas palavras
    Fragmentos de cartas, poemas
    Mentiras, retratos
    Vestígios de estranha civilização

    Não se afobe, não
    Que nada é pra já
    Amores serão sempre amáveis
    Futuros amantes, quiçá
    Se amarão sem saber
    Com o amor que eu um dia
    Deixei pra você

  • O BATIZADO DA VACA

    Chico Anysio: 1931/2012.

    O lugar era tão bonito, o clima tão bom, as flores tão rosas e as vacas tão bovinas, que o chefe da família achou que valeria a pena comprar ali uma fazenda.

    Consultou a família que, de pronto, foi contra. Isto colaborou demais para que o chefe da família entrasse, imediatamente, em conversações com o proprietário de uma, que se queria desfazer da fazenda, por achar que ela estava num lugar que não era lá essas coisas, o clima era idiota, as flores não fugiam daquela variedade: rosas, rosas, rosas, e as vacas, coitadas, eram simplesmente bovinas — numa total falta de imaginação. Vá-se querer que as vacas tenham isso!

    O negócio foi fechado por um dinheiro grande, e a família tomou posse da propriedade dois dias depois, data que coincidia com a véspera do fim das férias.

    A fazenda ficava num vale e era separada em duas partes por um córrego como o que só corre na infância dos escritores. Tinha matas e vacas, rosas e charcos, galinhas e caseiros.

    — Uma idiotice, comprar essa fazenda — vaticinou a esposa, numa contrariedade de quem faz doze pontos.

    — Comprar terra sempre é bom negócio ­vibrou o chefe da família, puxando o ar, a encher o peito com um cheiro de estrume que vinha do estábulo. — Olhe em volta. Até onde a vista alcança, tudo é nosso. Está vendo o abacateiro? É nosso; Aquele caqui-chocolate? É nosso. A carreira de jabuticabeiras? Nossa. O mato, a casa, a cocheira, o estábulo, o caminho, tudo é nosso. Esse céu, que cobre a fazenda, é o único pedaço de céu que é nosso, porque 0 da cidade é do governo. Aqui, mandamos nós, porque aqui tudo é nosso!

    — Pra quê? — sintetizou a mulher, numa pergunta de esposa.

    — Ora — explicou admiravelmente o chefe da família —, para ser nosso. Nossa terra, nosso chão, nosso cantinho, nossas rosas! — e pegou numa, furando o dedo.

    Durante o curativo no dedo magoado um dos trabalhadores da fazenda aproximou-se com uma notícia muito importante: a fazenda acabava de crescer de valor pelo nascimento de uma bezerrinha.

    Viu? — comentou, vitorioso, o chefe da família, batendo nas costas da esposa, de modo a fazê-la cuspir a primeira jabuticaba que tentava comer. – Nasceu uma vaquinha!

    A notícia correu para os demais da família ao mesmo tempo em que, para os pais, corriam os filhos, estes, sim, felizes, ao saber do nascimento da novilha.

    — É menino ou menina? — perguntou um menino que, de tão longos cabelos, nem se sabia se era menino ou menina.

    – Não é assim que se fala, menino – esclareceu o pai. – A pergunta é: bezerra ou bezerro? É uma bezerrinha.

    — Vamos ver? Vamos ver? gritavam os filhos a sugestão lógica das crianças que nunca viram vaca a não ser nos desenhos das latas de leite em pó. .

    Foram. A vaca não deixou que se aproximassem da cria, que ficou sendo observada a distância pela família encantada e pelo caseiro indiferente e até um pouco irritado por haver uma vaca a mais no seu mundo.

    — Quem é o pai? – perguntou a moça mais taluda.

    —Um boi desses – errou 0 pai.

    — Um touro! — corrigiu o caseiro, sabedor ele de que o boi é um touro que já era; boi é um touro que perdeu os documentos.

    – Pois é — emendou o pai na mesma veemência —, um tourão danado desses. Olha a carinha dela. Os olhinhos ainda estão fechados.

    — Vamos batizar! – gritou um menino.

    — Boa idéia – concordou 0 chefe da família. — Quem vai escolher o nome?

    — Eu. Eu. Eu. Eu — disseram, um a cada vez, os quatro filhos do casal.

    E começou a discussão sobre o nome a ser posto na recém-nascida que, indiferente a tudo, mamava na mãe, provando, assim, que ela (a mãe) não era tão vaca quanto julgavam.

    — Aretha Franklin!

    — Janis Joplin.

    — Jimi Hendrix — sugeriu o mais velho —, porque, até que me provem o contrário, essa vaquinha é touro; deixa levantar que vocês vão ver.

    — É fêmea, que o caseiro viu — afirmou o pai, voltando-se para o caseiro, na indagação do que já afirmara: — O senhor não viu?

    — Vi. É fêmea.

    E tome de gritar nome: Califórnia, Disneylândia, Erva Maldita, Otorrinolaringologia… Havia os nomes sugeridos a sério e os de gozação. Todos os que citei eram os a sério. Finalmente, o bom senso ajudou a solucionar o impasse. Foi a esposa quem sugeriu o nome que lhe pareceu o mais indicado para a novilhazinha que mamava no seio vaquerno: Long Island.

    — Desculpe — desculpou-se o caseiro por não entender.

    — Long Island — repetiu a mulher com uma naturalidade de quem fala “mococa”.

    — A senhora podia escrever? — pediu o caseiro, confessando-se incapaz de decorar aquilo.

    Arranjaram uma pequena tábua onde, com um prego, o chefe de família escreveu: LONG ISLAND, tabuazinha que, com o auxílio de um arame, ficou presa no pescoço da novilha para que ninguém, na fazenda, esquecesse que aquela jovem bovina atendia pelo nome de Long Island, nome que fica muito bem para parque de diversões, mas que não é dos mais adequados para quem cara de Mimosa, Formosa, Maravilha ou Vaquinha — modo, inclusive, que melhor ajuda o reconhecimento da peça.

    Acabadas as férias, a família voltou à sua poluição metropolitana e só pôde retornar à fazenda dois anos depois.

    Tudo continuava como dantes, com exceção de uma coisinha em pior estado, uma das quais o geral.

    — Caseiro! — chamou o chefe de família, que não sabia que o caseiro tinha nome: José Caseiro da Silva.

    — Pronto, doutor — obedeceu o caseiro meia hora depois, com a presteza de
    um favor bancários.

    — Como vai a novilha?

    — Está uma vaca! — elogiou o caseiro de um modo que soou ofensa aos ouvidos da família.

    — Já dá leite? — perguntou um dos filhos.

    — Dá, né? respondeu o caseiro estranhando a pergunta, pelo fato de saber (ele é acostumado, porque vive ali) que as vacas não dão outra coisa senão leite.

    — Pois eu quero beber um copo de leite da novilha — ordenou a esposa do chefe, madrinha de batismo da vaquinha.

    E o caseiro, sem que a família ouvisse, comandou a um seu auxiliar que tirasse um pouco de leite da vaca “Tabuleta”.

  • BRUMAS

    Evangelos Pagalidis

  • PONTO DE VISTA

    Octávio Perelló (*)

    JANIO MENDES

    Com cinco mandatos de vereador e um e meio de deputado estadual, além de ter sido secretário de Administração e de Saúde de Cabo Frio, de Fazenda, em Búzios e diretor financeiro da ALERJ, Janio Mendes refaz o dever de casa na tentativa de retorno ao poder legislativo municipal. Em recente conversa afiada falou com franqueza dos altos e baixos da política e garantiu que está gastando sola de sapato para ir ao eleitor, abrir conversa e pedir voto.

    …APOSTAS

    Entre observadores políticos de plantão às apostas são de que, se se eleger junto com o prefeito que apoiar, este terá um aliado experiente como poucos no rito legislativo para construir “pontes”, mas caso seja outro o chefe do execitivo, este certamente irá lidar com a oposição consistente de Janio que, concorde-se ou não com ele, sabe como fazer os ecos do plenário Osvaldo Rodrigues chegarem às ruas.

    .. AÇÃO PREDATÓRIA

    Não é à toa, e isto não é nenhuma novidade, que a ação predatória para assediar candidatos e esvaziar nominatas que podem eleger potenciais opositores tem o PDT como um dos alvos preferenciais. Candidatos do partido têm recebido ofertas para enfraquer a legenda e tentar inviabilizar a eleição de Janio Mendes.

    EXPOSIÇÃO NAS RUAS

    É muito baixa ainda a exposição dos pré-candidatos a prefeito nas ruas de Cabo Frio (há quem diga que é medo de desgaste). No entanto, nas redes sociais as agendas já estão cheias para pelo menos dois deles, a prefeita Magdala Furtado (PV) e Serginho Azevedo (PL). Reuniões, almoços, abraços, sorrisos-ostentação, nada escapa às lentes dos intrépidos marqueteiros digitais. No entanto, reparem bem, nenhum aplicativo tem sido capaz de fazer com que os olhares angariem mais simpatias do que as já estão comprometidas até o momento.

    …MEDIÇÃO DE FORÇAS

    De um lado o deputado estadual Serginho Azevedo busca capitalizar as ações do Governo do Estado em Cabo Frio e de outro a prefeita Magdala Furtado anuncia novos investimentos do PAC do Governo Federal. Será que o eleitor pensará na possibilidade de manter cada um nos cargos em que estão lutando por melhorias para o município?

    TRAGÉDIA NO RIO GRANDE DO SUL

    A maior tragédia do país pode ter proporções ainda maiores. O momento é de caos e insegurança, com o colapso de todo o ciclo produtivo do estado e dificuldades operacionais para conter as enchentes. Com o ciclone extratropical anunciado para hoje o que está difícil pode se tornar insustentável. Com o desespero que se instaura, avizinha-se o banditismo nos ataques e saques a cargas. As equipes de salvamento têm encontrado condições das mais adversas. É hora de união e das Forças Armadas darem o seu melhor em planejamento e ações táticas apoiando o trabalho árduo da Defesa Civil, Polícia Federal e voluntários.

    • Jornalista /Produtor de conteúdo
  • PEQUENAS DOSES

    Luiz Antônio Nogueira da Guia.

    Questão de comportamento 1

    Apesar de manter a secretaria de comunicação social turbinada, divulgando inauguração de até meio metro de asfalto e festa de aniversário de potentados da prefeitura, a candidatura da prefeita a reeleição não consegue decolar na simpatia do público. Muita gente acredita que foi o comportamento dela, bastante questionável, durante a doença do prefeito José Bonifácio (PDT).

    Questão de comportamento 2

    A então vice-prefeita participou da campanha de 2020 filiada ao Podemos, mas logo rompeu com José Bonifácio (PDT) e migrou para o PL, fazendo oposição ferrenha ao prefeito. Com o falecimento de José Bonifácio, assumiu a prefeitura, demitiu quase todo o pessoal ligado ao ex-prefeito, mudou radicalmente o sentido da administração e se lançou candidata a reeleição.

    Questão de comportamento 3

    Como a prefeita pode imaginar que o grupo ligado a José Bonifácio vai apoiá-la em seu projeto pessoal de receber um mandato popular de quatro anos? Muita pretensão! No momento, a arrecadação de apoio político a prefeita marcha de comum acordo com o Diário Oficial. Basta ter a paciência, ler e conferir. Fora do DO a prefeita não tem nenhum apoio político-eleitoral.

    A busca pela legenda

    Ao se lançar candidata a reeleição a prefeita bateu de frente com um problemaço: estava filiada ao PL, espaço ocupado pelo deputado Serginho Azevedo. Que fazer? Procurar outra legenda, que concordasse em receber uma candidata com poucas chances de vitória. Pois é, a prefeita bateu em muitas portas, inclusive do Republicanos, mas só acabou conseguindo acomodação no PV, penetrando assim na Federação Brasil da Esperança (PT/PC do B/PV).

    A prefeita e a crise no PT

    A entrada da prefeita no PV, contou com a benção de alguns “barões” do PT como Lindbergh Farias e outros, mas não conseguiu o apoio do PT de Cabo Frio. O diretório local a rejeita e mantém seu apoio ao professor Rafael Peçanha, que foi obrigado a migrar para a Federação PSOL/REDE. Ainda não se sabe qual o fim dessa confusão forjada de cima pra baixo: há quem aposte na possibilidade de intervenção através da direção nacional.

    Estrutura afiada

    Estrutura bem afiada tem sido a característica da pré-campanha de Serginho Azevedo (PL), que está investindo pesado no 2º Distrito. O encontro com as mulheres em Tamoios, surpreendeu os neófitos em eleições, em Cabo Frio, reuniu cerca de mil mulheres das mais variadas expressões sociais O candidato falou pouco, mas ouviu inúmeras reivindicações, muitas bastante difíceis de atender.

    A relação com o governador

    Serginho Azevedo (PL) é o líder do governo na Assembleia Legislativa (ALERJ). Há quem diga que a relação próxima entre Serginho Azevedo e o governador Cláudio Castro, ambos do PL, pode atrapalhá-lo, na medida em que o estado enfrenta séria crise econômica e o MPF pediu a cassação da chapa eleita, em 2022.

    Falta definição

    Até o momento ainda não existe definição da relação entre MDB e PDT, em Cabo Frio. A princípio os dois partidos estão coligados, sob a liderança do ex-prefeito Marquinho Mendes e do ex-deputado Janio Mendes. Por incrível que pareça ambos “namoram” o governo da prefeita Magdala Furtado, hoje filiada ao PV e que reclama a liderança na Federação Brasil da Esperança (PT/PC do B/PV).

    As divergências

    A Federação Brasil da Esperança, formada pelo PT, PC do B e PV, através das redes sociais convocou para reunião nesta segunda-feira, 13, às 17 horas, no Palace Fest, na Rua Governador Valadares, 611, São Cristóvão. Segundo a nota, no encontro estará presente a prefeita serão apresentados os pré-candidatos a Câmara. Também em nota, a presidência do PT de Cabo Frio, leia-se Ricardo Cardoso, não reconhece o encontro.

    Maria Joaquina

    O professor Rafael Peçanha (REDE), candidato da Federação PSOL/REDE, fez expressiva reunião em Maria Joaquina, dando partida a sua campanha, anteriormente interrompida por questões partidárias. Maria Joaquina é um bairro de Cabo Frio com relação umbilical com Búzios e sofre muito com o desleixo das autoridades cabofrienses.

  • APÓLOGO BRASILEIRO SEM VÉU DE ALEGORIA

    Alcântara Machado (1901/1935)

    O trenzinho recebeu em Maguari o pessoal do matadouro e tocou para
    Belém. Já era noite. Só se sentia o cheiro doce do sangue. As manchas na
    roupa dos passageiros ninguém via porque não havia luz. De vez em
    quando passava uma fagulha que a chaminé da locomotiva botava. E os
    vagões no escuro.
    Trem misterioso. Noite fora noite dentro. O chefe vinha recolher os bilhetes de cigarro na boca. Chegava a passagem bem perto da ponta acesa e dava uma chupada para fazer mais luz. Via mal e mal a data e ia guardando no bolso. Havia sempre uns que gritavam:

    • Vá pisar no inferno!
      Ele pedia perdão (ou não pedia) e continuava seu caminho. Os vagões
      sacolejando.
      O trenzinho seguia danado para Belém porque o maquinista não tinha
      jantado até aquela hora. Os que não dormiam aproveitando a escuridão
      conversavam e até gesticulavam por força do hábito brasileiro. Ou então cantavam, assobiavam. Só as mulheres se encolhiam com medo de algum desrespeito.
      Noite sem lua nem nada. Os fósforos é que alumiavam um instante as caras cansadas e a pretidão feia caía de novo. Ninguém estranhava. Era assim mesmo todos os dias. O pessoal do matadouro já estava acostumado.
      Parecia trem de carga o trem de Maguari.
      Porém aconteceu que no dia 6 de maio viajava no penúltimo banco do lado direito do segundo vagão um cego de óculos azuis. Cego baiano das margens do Verde de Baixo. Flautista de profissão dera um concerto em Bragança. Parara em Maguari. Voltava para Belém com setenta e quatrocentos no bolso. O taioca guia dele só dava uma folga no bocejo para cuspir.
      Baiano velho estava contente. Primeiro deu uma cotovelada no secretário e puxou conversa. Puxou à toa porque não veio nada. Então principiou a assobiar. Assobiou uma valsa (dessas que vão subindo, vão subindo e depois descendo, vêm descendo), uma polca, um pedaço do Trovador.
      Ficou quieto uns tempos. De repente deu uma coisa nele. Perguntou para o rapaz:
    • O jornal não dá nada sobre a sucessão presidencial?
      O rapaz respondeu:
    • Não sei: nós estamos no escuro.
    • No escuro?
    • É.
      Ficou matutando calado. Claríssimo que não compreendia bem. Perguntou de novo:
    • Não tem luz?
      Bocejo.
    • Não tem. Cuspada.
      Matutou mais um pouco. Perguntou de novo:
    • O vagão está no escuro?
    • Está.
      De tanta indignação bateu com o porrete no soalho. E principiou a grita dele assim:
    • Não pode ser! Estrada relaxada! Que é que faz que não acende? Não se
      pode viver sem luz! A luz é necessária! A luz é o maior dom da natureza!
      Luz! Luz! Luz!
      E a luz não foi feita. Continuou berrando:
    • Luz! Luz! Luz!
      Só a escuridão respondia.
      Baiano velho estava fulo. Urrava. Vozes perguntaram dentro da noite:
    • Que é que há?
      Baiano velho trovejou:
    • Não tem luz!
      Vozes concordaram:
    • Pois não tem mesmo.
      Foi preciso explicar que era um desaforo. Homem não é bicho. Viver nas trevas é cuspir no progresso da humanidade. Depois a gente tem a
      obrigação de reagir contra os exploradores do povo. No preço da passagem está incluída a luz. O governo não toma providências? Não toma? A turba ignara fará valer seus direitos sem ele. Contra ele se necessário. Brasileiro é bom, é amigo da paz, é tudo quanto quiserem: mas bobo não. Chega um dia e a coisa pega fogo.
      Todos gritavam discutindo com calor e palavrões. Um mulato propôs que se matasse o chefe do trem. Mas João Virgulino lembrou:
    • Ele é pobre como a gente.
      Outro sugeriu uma grande passeata em Belém com banda de música e
      discursos.
    • Foguetes também?
    • Foguetes também.
    • Be-le-za!
      Mas João Virgulino observou:
    • Isso custa dinheiro.
    • Que é que se vai fazer então?
      Ninguém sabia. Isto é: João Virgulino sabia. Magarefe-chefe do matadouro de Maguari, tirou a faca da cinta e começou a esquartejar o banco de palhinha. Com todas as regras do ofício. Cortou um pedaço, jogou pela janela e disse:
    • Dois quilos de lombo!
      Cortou outro e disse:
    • Quilo e meio de toicinho!
      Todos os passageiros magarefes e auxiliares imitaram o chefe. Os instintos carniceiros se satisfizeram plenamente. A indignação virou alegria. Era cortar e jogar pelas janelas. Parecia um serviço organizado. Ordens partiam de todos os lados. Com piadas, risadas, gargalhadas.
    • Quantas reses, Zé Bento?
    • Eu estou na quarta, Zé Bento!
      Baiano velho quando percebeu a história pulou de contente. O chefe do trem correu quase que chorando.
    • Que é isso? Que é isso? É por causa da luz?
      Baiano velho respondeu:
    • É por causa das trevas!
      O chefe do trem suplicava:
    • Calma! Calma! Eu arranjo umas velinhas.
      João Virgulino percorria os vagões apalpando os bancos.
    • Aqui ainda tem uns três quilos de coxão mole!
      O chefe do trem foi para o cubículo dele e se fechou por dentro rezando. Belém já estava perto. Dos bancos só restava a armação de ferro. Os passageiros de pé contavam façanhas. Baiano velho tocava a marcha de sua lavra chamada Às armas cidadãos! O taioquinha embrulhava no jornal a faca surrupiada na confusão.
      Tocando a sineta o trem de Maguari fungou na estação de Belém. Em dois tempos os vagões se esvaziaram. O último a sair foi o chefe muito pálido.
      Belém vibrou com a história. Os jornais afixaram cartazes. Era assim o
      titulo de um: Os passageiros no trem de Maguari amotinaram-se jogando os assentos ao leito da estrada. Mas foi substituído porque se prestava a interpretações que feriam de frente o decoro das famílias. Diante do Teatro da Paz houve um conflito sangrento entre populares.
      Dada a queixa à polícia foi iniciado o inquérito para apurar as
      responsabilidades. Perante grande número de advogados, representantes da imprensa, curiosos e pessoas gradas, o delegado ouviu vários passageiros.
      Todos se mantiveram na negativa menos um que se declarou protestante e trazia um exemplar da Bíblia no bolso. O delegado perguntou:
    • Qual a causa verdadeira do motim?
      O homem respondeu:
    • A causa verdadeira do motim foi a falta de luz nos vagões.
      O delegado olhou firme nos olhos do passageiro e continuou:
    • Quem encabeçou o movimento?
      Em meio da ansiosa expectativa dos presentes o homem revelou:
    • Quem encabeçou o movimento foi um cego!
      Quis jurar sobre a Bíblia mas foi imediatamente recolhido ao xadrez porque com a autoridade não se brinca.
  • BEM-TE-VI NO QUINTAL

    Valéria Nogueira


161 respostas em “BLOG DO TOTONHO”

Bom dia, Totonho!
Ver Cabo Frio de longe por suas lente é enxergar um pouco melhor a realidade.
Agradeço pelo retorno!
Fco Póvoas

Boas falas e boas letradas. Agora é hora do saber, o melhor da informação.
Viva a volta do Blog do Totonho!
Salve, o velho Tonhão!

Minha alegria é imensa, Totonho!
Já que não posso ir à Cabo Frio, tu trazes Cabo Frio para mim através do teu blog, tão apreciado por mim desde sempre! Obrigada!

O retorno do Blog do Totonho e a certeza que teremos uma revista recheada de bom humor, poesias, contos, crônicas, provações políticas e memórias infindáveis deste aprazível recanto do país! Como senti falta dele na onda nefasta que nos abateu por quatro anos…

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