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A POLÍTICA COMO UM FIM EM SI MESMA

Luciana G. Rugani

Às vezes, me pego inferindo conclusões a partir da observação de acontecimentos do dia a dia. E acabo chegando a resultados que, na verdade, não representam uma conclusão final, mas sim um primeiro passo para novas reflexões ou novos debates que possam surgir a partir daí.
Como estamos em ano eleitoral e a política, em geral, já está fervendo, minhas reflexões apontaram que, infelizmente, a política tornou-se um fim em si mesma. E isso porque a política partidária, para muitos, tornou-se carreira, um meio de adquirir prosperidade e obter ascensão pessoal, um negócio. Em razão disso, questões partidárias passaram a ser priorizadas. O mais importante, para esse grande número de políticos, não é mais saber se há alinhamento com os ideais partidários, não é mais saber o que um certo nome representa, se o perfil político será coerente com o planejamento pretendido, ou como foi construída a trajetória de tal nome, ou os meios que foram utilizados para chegar onde chegou. A função política de conciliar os interesses diversos, com foco no máximo de harmonia coletiva e no bem comum, conforme seu significado original, deixou de ser prioridade, sendo substituída pela ampliação de poder a qualquer custo, ainda que essa ampliação de poder possa ser o golpe fatal no próprio êxito de um governo. Para muitos que lidam no meio, as forças políticas e o peso eleitoral passaram a ocupar o primeiro lugar no elenco de prioridades políticas. Eles apoiam aquelas ou aqueles que lhes pareçam ter mais força política e, com essa atitude, demonstram, sem nenhum constrangimento, que o que desejam é apenas estar com os mais fortes para, assim, obter seus ganhos políticos pessoais. Isso é inverter totalmente o sentido da política, é negociar o inegociável. Claro que pensar estratégias, analisar as forças e os pesos eleitorais, isso tudo é importante. Agora, colocar isso em primeiro lugar, deixando de lado a coerência, a análise dos ideais partidários e outros quesitos relevantes que, de fato, poderão fazer a diferença no êxito de um governo, é fazer política por política, é fazer com que os meios sejam fins. Talvez, por isso, tudo pareça parar no tempo e não sair do lugar ou dar um passo pra frente e três pra trás.
É preciso que haja um pensar diferente sobre a política, em todos os níveis, seja municipal ou até em nível de país. É preciso que todos aqueles que se preocupem de fato com a evolução da sociedade reflitam e busquem propagar conscientização e esclarecimento sobre a necessidade de analisar os nomes com mais profundidade e sem afastar o sentido original da política. Observar as atitudes, refletir nas palavras e pensar no que, de fato, um político valoriza e prioriza na trajetória política.
Na atualidade, temos alguns novos líderes, principalmente em nível nacional, que estão se destacando em um fazer política de maneira coerente e alinhada com o fim coletivo. Conquanto em ritmo muito lento, estão surgindo alguns ícones nesse sentido, porém ainda é muito pouco. Infelizmente, de modo geral, a política como um fim em si mesma ainda predomina, fazendo com que muitos municípios persistam nos mesmos erros e prossigam tocando sempre a mesma nota do atraso e do caos nas funções que lhes cabem prestar.

Luciana G. Rugani
Academia de Letras e Artes de Cabo Frio – ALACAF e Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA

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4 respostas em “A POLÍTICA COMO UM FIM EM SI MESMA”

Oi Luciana. Você acertou na mosca! Disse tudo. A política hoje no Brasil está uma vergonha. E não creio que tenha solução. Pior está, pior ficará!

Verdade, Welington! Tá muito complicado. Até porque pra tentar mudar alguma coisa poderia ser por meio de uma reforma política bem feita, uma alteração na legislação que não permitisse tantas brechas e tantas armações. Mas, quem faria essas leis seriam os próprios políticos e a grande maioria deles não deseja mudanças nesse sentido. Ou desejam mudanças que sejam apenas de fachada. Então fica difícil. A única saída então seria partir pra essa conscientização, pra divulgação de textos que provoquem essas reflexões, porém infelizmente há pessoas que estão fanatizadas, outras preferem fingir que nem viram nada porque não querem se expor por diversos motivos ou por simplesmente não se importarem. Mas a gente não pode desistir, nem que falemos para um ou outro somente. Pelo menos assim nossa expressão não fica contida, o “grito” não fica contido na garganta a nos fazer mal, e nossa consciência fica mais leve por fazermos nossa parte. A mudança, se acontecer na maioria, será daqui a séculos…

“A política como um meio em si”, como vc enfatizou, é realmente, uma chaga para a sociedade. Ao invés de focar em um programa para os cidadãos, mira na ascensão pessoal do político.

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