
Alguém pode explicar por que os bancos das praças são colocados fora da área de sombra das árvores, que são poucas? Alguma explicação botânica? Talvez a necessidade de martírio pessoal numa época de aquecimento global? Será a forma que as autoridades encontraram para disseminar a vitamina D, sem investimentos na saúde pública, em profunda penúria?
Ora, ora, tudo é possível, inclusive a falta de traquejo de arquitetos e engenheiros, tão habituados a desenhar e construir shoppings e áreas de lazer fechadas em prédios para a alta classe média. Na histórica praça da minha cidade, mais uma vez reformada, erraram até nas medidas dos bancos. Não há cristão que por ali se abolete com conforto. O piso, esse então, basta a chuva para torná-lo o paraíso das clínicas ortopédicas, que se disseminaram na cidade. O que dizem mesmo sobre a relação dos ortopedistas com os livros?
É só espichar o olhar pra cima e se dar conta que os conceitos arquitetônicos levam muito pouco em consideração a realidade local como a incidência de sol, luminosidade, ventos e tantas outras características. Por acaso Cabo Frio não foi uma terra de salinas? O desconhecimento é tal que o obelisco inaugurado para comemorar os 300 anos de fundação, junto a rosa dos ventos estão ambos fora do lugar: a cada reforma continuam passeando, são nômades.
O colonialismo cultural cobra seu preço.Torna a cidade mais quente e a conta de luz salgada, quando bastava respeitar a natureza, mulher cheia de sábios caprichos, a quem devemos procurar agradar sob pena de rebeliões e infortúnios.
O desrespeito, percebido em todos os cantos das orlas das praias e do centro histórico, espalha cafonice, embora atraia a pretensa elite, a empinar o nariz pelos “falsos brilhantes” dos prédios com fachadas espelhadas e nomes pomposos. Não faltam edifícios com nomes plantados em inglês e francês, quando boa parte da clientela mal sabe falar e escrever na própria língua.
Manoel Lopes da Guia Neto.