
Uma das coisas que mais aprecio nas casas são as janelas e aprecio ainda mais quando estão abertas deixando entrar a claridade do dia, os sons e cheiros trazidos no vento, o
barulho da vida pulsando lá fora. Acredito mesmo que exista uma estreita relaçãoentre as janelas de uma casa e os seus habitantes. Existem casas sombriamente fechadas, úmidas, mofadas, quase inóspitas, cujas janelas não se abrem à luz do sol, suas paredes parecem muros que aprisionam e a pouca luz de seu interior as cores e os contornos. Assim como essas casas cerradas, seus donos parecem guardar
segredos, como se escondessem nelas uma parte de si mesmos que não desejassem revelar. São pessoas resistentes a mudanças, presas ao passado, guardiãs de um sonho velho e inconcebido, cujos armários estão cheios de fantasias, cada uma para o personagem que lhe convenha. Sem perceber, suas vidas tornam-se obscuras, suas ideias perdem a lucidez, seus sonhos perdem a cor, seu hálito, o frescor e tudo nelas
cheira a mofo. Sim, pessoas também mofam!
Por outro lado, os habitantes dessas casas abertas parecem convidar a vida para dentro de si, mudam as coisas de lugar, apreciam a luz que vem de fora, do sol, da lua, do outro! Não costumam acumular coisas inúteis, doam, repartem, abrem espaço para o novo, criam, crescem refletindo na vida o que são no coração, no âmago. São pessoas desassombradas, desmascaradas por si mesmas, que não apreciam a parcialidade, não tiram vantagem dos que estendem a mão em seu auxílio, não abusam da sorte, não se alimentam das guerras cotidianas que geram ódio e separações, antes, são pacificadoras, generosas, agradecidas, o tipo de gente que tem cheiro de flor, de casa limpa, cujo coração é um abrigo, um lar. Todos nós somos seres em movimento na vida, em processo, inacabados, e isso nos possibilita uma infinidade de coisas; é uma dádiva poder decidir se seremos
masmorras sombrias ou uma iluminada casa aberta!
Ana Angélica Tavares de Mello