
Encantamento
Foi de repente que a avistei, enquanto olhava distraída por entre as árvores domeu jardim, naquela madrugada insone. Eram mais de duas horas da manhã e soprava um vento leve e refrescante enchendo a noite com o inebriante farfalhar das folhas que iam e vinham ao sabor daquela silenciosa canção.
E ali estava ela, altiva e serena, dançando na rua diante dos meus olhos curiosos e enternecidos. Parecia entender a canção do vento e, solidária, soltava-se, enquanto a luz da rua a iluminava com cores difusas que iam e vinham como num sonho. Seus movimentos eram hora lentos e ritmados, hora tensos e cheios de vigor. Nada a perturbava. Ao longe, às vezes, um barulho de carro.
No céu, uma meia lua tímida, enevoada, parecia sorrir, singela. Poucas e pequenas estrelas completavam o cenário daquele palco nu. Éramos eu, ela e o silêncio, ali, naquela comunhão estranha, num encontro inusitado, numa
cumplicidade secreta, num encantamento quase infantil.
Permaneci em silêncio, olhando aquela imponente palmeira envergar e voltar a subir, numa dança lúdica, quase sensual, numa linguagem peculiar das coisas inexplicáveis. Um
momento apenas, naquela noite comum de verão e fui dormir um pouco mais feliz.
Ana Angélica Tavares de Mello
24/12/2016

