
Passeando e pensando pelas ruas de uma cidadezinha perdida no sul do atlântico, encontro-me com Reis de Minas, um velho amigo, um ser solitário que habita uma casinha pequenina no alto de um morro e há muito tempo não o via.Estava com a aparência maltratada e já não conseguia andar direito. Sentou-se no banco da praça e me perguntou se poderia levá-lo para casa. Morava numa casinha simples, afastada, de onde podia se ver o mar. Homem de cultura e saber ilibado, que cansado da devassidão de desairosos conflitos de seus contemporâneos, isolou-se no paraíso ensolarado que ainda existia no Brasil oculto para viver em paz com sua gata e seus livros espalhados pela sala da casa de um quarto. Poucos livros restavam na biblioteca desalinhada, o resto se espalhava por toda a casa. Entramos e ele foi logo se assentar na surrada bergère. Esticou as pernas e me mostrou o livro que estava relendo, dizendo-me que este era seu único divertimento aos 72 anos de idade. – Alguns desses livros novos alnda tento ler e outros,mais antigos, estou relendo ao mesmo tempo que cozinho o meu arroz, minha comida diária…dizia-me ele: – Oswald de Andrade é o meu ator preferido… Ator! Exclamei. Sim! Ele me respondeu com sua voz forte, está aqui, sempre ao meu lado representando seus personagens, me orientando, me fazendo entender que a alegria é a prova dos nove, embora sei que é difícil ser alegre com as notícias deste mundo insano. Vou a cidade e volto o mais depressa possível, fico depressivo, pois não suporto mais tanta mediocridade… Andando e me levando, segurando o meu braço, lentamente pela casa, pegou, em lugares diferentes, uns cinco livros de autores contemporâneos que me disse serem fundamentais pra entender a barbárie em que vivemos. Os franceses “Inventores dos Conceitos Selvagens” Deleuze e Guattari, Sartre, Artaud e o brasileiro Darcy Ribeiro, e me deu todos de presente e disse-me, abraçando-me carinhosamente, que agora queria ficar sozinho.

José Sette de Barros é cineasta e artista plástico.