Categorias
Artigo

O COMPLEXO MECANISMO DO VOTO

Desde que surgiu a figura do “marqueteiro” e do marketing político, vários analistas, cientistas políticos e sociais se debruçam em estudos para compreender o mecanismo mental do voto e o comportamento do eleitor. Estes estudos fragmentam o eleitor em várias faixas e variáveis: idade, sexo, etnia, escolaridade, renda, localidade, religião, além de muitas outras.

A partir destes parâmetros procuram estabelecer estratégias de convencimento e orientar os pretensos candidatos a obter o melhor desempenho possível. Embora os dados sobre estas variáveis estejam disponíveis para todos, estes analistas muitas vezes chegam a conclusões e estratégias diferentes. As orientações aos candidatos muitas vezes são bem-sucedidas, mas muitas vezes também fracassam.

Isso mostra que mesmo com muita informação o tal “mecanismo do voto” é extremamente complexo e permeado por inúmeros fatores imponderáveis. O poder econômico também “fala muito alto” nestas estratégias, afinal estamos numa democracia liberal e de massas, um processo democrático burguês, em que infelizmente, não é o povo que está no poder, e sim, o grande capital. Isso explica em parte o que vemos hoje na maioria dos cargos executivos e legislativos pelo país a fora.

Uma pesquisa rápida mostra que quem investe mais dinheiro tem muito mais chances de se eleger. A famosa compra de voto continua acontecendo em larga escala nas brechas da falta de estrutura da justiça eleitoral em fiscalizar este crime. Pega-se o candidato e transforma o mesmo em um “produto de consumo político”. Infelizmente para a população isso tem funcionado. O corrupto processado vira um candidato honesto, o fascista vira um democrata, o empresário milionário vira um homem do povo, e por aí vai. O que espanta muitas vezes é que esta manipulação está “na cara” do eleitor, mas ele não percebe ou finge não perceber quando recebe uma vantagem econômica qualquer. E assim “segue o baile” distorcendo por completo o processo democrático da escolha pelo voto.

Participei de três eleições para prefeito e uma para vereador e como não pratico o tal “modelo do sucesso eleitoral” preconizado pelos marqueteiros e analistas políticos não venci nenhuma. Confesso isso sem qualquer vergonha ou sentimento de fracasso. Sem falsa modéstia, me acho preparado para exercer um cargo público eletivo, mas não sou um enganador e nem concordaria em vencer uma eleição assim e perder a independência para exercer o mandato, porque é o que acontece na grande maioria dos casos em que o candidato vence nestas condições.

Estes exemplos assistimos eleição após eleição. Muitos destes analistas, céticos, dizemque será sempre assim e que não há saída dentro deste contexto conjuntural da democracia burguesa. Já outros confessam que seguem tentando, mas que não acharam ainda a resposta ideal. Eu estou com esses. Confesso que também não sei a resposta.

Claudio Leitão é economista e professor de história.

Compartilhe este Post com seus amigos:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *