
EPITÁFIO
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Autor – Sérgio Britto
Não é que Antônio finalmente se apercebeu da finitude? Não pelos vincos no rosto ou o andar moroso, mas pelas palavras que se entranhavam na poesia das canções, que lhe acompanhavam e nos livros de Manoel de Barros, com os quais se abraçava.
A princípio se assustou. Virar poeira nas ruas em meio a uma rajada do sudoeste tão comum aqui por essas bandas, não lhe agradava. Muito menos assim de uma hora pra outra, criar dificuldades nas entrelinhas dos textos.
Lembrou então da poesia de “Epitáfio”, com os “Titãs” e entendeu que a vida não se completa nunca e que apesar de ter navegado pelas águas agitadas das paixões e dos amores, o homem quer sempre mais e mais, porque ele é infinito em sua finitude.