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ANTES DO ANOITECER … MORRO DA GUIA

“(…)
Lá não existe
Felicidade de arranha-céu
Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu
Tem alvorada, tem passarada
Alvorecer
Sinfonia de pardais
Anunciando o anoitecer
E o morro inteiro no fim do dia
Reza uma prece ave Maria
E o morro inteiro no fim do dia
Reza uma prece ave Maria
Ave Maria
Ave
E quando o morro escurece
Elevo a Deus uma prece
Ave Maria”

Herivelto Martins

Tem alvorada, passarada, e a sinfonia de pardais, antes do anoitecer…o Morro da Guia escurece contrastando com os tons de dourado, laranja, rosa, púrpura e azul que só a terra da ressurgência tem. O ressoar dos sinos da matriz não consegue mais parar a cidade que pulsa lá embaixo, de onde, eu, olho pro Morro, olho pro céu, cumprimento os “pescadores afoitos na lagoa que parece um rio”, vejo “as garça dá meia volta”, vejo os carros indo e vindo pela ponte que tem sua inscrição: 1926. Sinto a brisa ou o vento cortante bater no meu rosto, sinto o perfume da maresia…vejo os frades do Convento subindo o Morro para meditar, e “ouço o silêncio” dos séculos que nos antecederam. Vejo Tsumé tomando conta do que ainda nem era cidade, vejo seu Antônio de Gastão contando, cantando e encantando, vejo Dona Otília…troco uma ideia com Wolney enquanto as barcas carregadas de sacas de sal vão e voltam. Sinto o aroma da camaroada de tia Didi, vejo vovô no cartório, mexendo nos papéis. As lamparinas acendem e vou para no casa dos meus bisavós para beijar-lhes a mão e pedir a benção, no caminho, aceno para Scliar que da janela de sua casa, contempla os pés de aroeira carregados no São Bento, e depois coloco umas cadeiras na calçada pra ver o céu estrelado e sentir o vento fresco das noites de janeiro. E mesmo quase tão descrente, elevo, bem baixinho, a Deus, uma singela prece.

Lu Rocha

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