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VAI AÍ UM DORFLEX?

André, Luiz e Hildézia, companheiros no antigo ICHF (Instituto de Ciências Humanas e Filosofia), da UFF (Universidade Federal Fluminense), confraternizando alguns “séculos” depois.

Dia desses um colega dos tempos de faculdade, e isso significa que ele está na casa dos setenta, falava das perdas com as quais temos de conviver com o envelhecimento.

Bem humorado, mas inconformado, enumerava a quantidade de remédios para controle de diabetes e hipertensão, que é obrigado a carregar pra sair de casa. A maior parte deles com horários pré-determinados o obrigando a um rígido controle, que muitas vezes quase o impede de se divertir. Quase, porque o velho companheiro de militância política e dos intermináveis estudos sobre o Código de Hamurábi, nunca relegou a segundo plano as grandes noitadas no Bar do Oswaldo, ali pelas bandas de São Domingos, em Niterói.

Discutia horas sobre a conjuntura política, a censura, que se abatia sobre todas as formas de manifestação artística e as possibilidades da redemocratização, que nos mobilizava ainda como sonho. Lá pelas tantas, depois de “milhões” de cervejas, subia na cadeira e dizia, como ninguém Fernando Pessoa, sob o olhar embevecido das garotas mais “cabeças” da universidade. Era a glória!

Com a cabeça branca, a glória transformou-se em tímida e recatada lembrança, contida na mochila recheada de remédios, bugigangas e outras traquitanas.

Vai aí um dorflex?

  • Manoel Lopes da Guia Neto.
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