
Numa noite quente, mexendo em papéis quase perdidos…
“NOITE FRIA“
Quando a gente chega em casa e sente aquela angústia de ter passado uma noite em vão, andando pelas ruas e bares à procura de uma aventura ou de alguém com quem curtir a noite, e vê bem à sua frente uma folha em branco, perdida em meio a um quarto meio bagunçado, se tem aquela vontade de escrever, umas verdades, de botar pra fora a energia não consumida nesta noite, em forma escrita, com poesia sem ser poesia, como desabafo, ou apenas vontade de escrever . . .
Bebo um gole de café da tarde . . .
Tarde demais para ainda estar quente.
Como aquela morena que não digo o nome, e tem gosto de mar, gosta de mar, gosta de me amar, eu de amá-la, de senti-la, as coxas em minhas coxas, seu corpo sobre o meu corpo, sob meu corpo, envolvendo o meu corpo.
Na noite fria, com lua de clarear.
Noite com esta, de vento ventania, de lua de luar, mas… não sinto o seu cabelo em meus olhos, em meu rosto, não vejo a lua em seus olhos a brilhar.
Morena que não achei seu rumo, que não chamei seu nome, que perdi seu rosto, que me perdi.
Olhos grandes que querem dizer muito mais do que a boca diz, boca com lábios carnudos, o narizinho gelado da noite fria.
E aqui fico, neste quarto, sozinho, com a caneta na mão, com frio, puto da vida de não a ter encontrado.
Mas amanhã…
Amanhã na praia, no Lido, no sol, no mar que hoje estava como os olhos dela.
Estará lá.
E o encontro é fatal como o raio de sol a queimar os seus seios, a sua carne gostosa de apertar.
E o seu sorriso . . . vai sempre me encantar.
Sim, mais vale a certeza de um novo encontrar, do que o lamento e a solidão de uma noite vazia, noite fria, que vai enchendo as linhas, que vai enchendo o saco. Que vou dormir.
Sérgio Nogueira é arquiteto e urbanista.
Nos anos 80 em Cabo Frio

