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Pequenas Doses

SEM TEMPO DE NOVO EM UM DIA SEM TEMPO

José Sette de Barros (*)

Acordei hoje pensando sobre a minha existência neste mundo.

Tudo que fiz, vejo agora, para muitos, nada valeu.

Poucos foram os que me entenderam.

Qual foi minha contribuição para um mundo melhor?

Só hoje vejo que não fui lutar no Araguaia, achava cedo para encarar a morte, assim nada fiz, me exilei em Londres, Adriano morreu no sertão, em vão… Destas histórias, nada deixo, só me sobram algumas lembranças.

De que vale os filmes, as poesias, as pinturas, as histórias de um simples mortal?

Nada vezes nada neste mundo louco que finda.

Sempre fui e morrerei sendo contra o capital…

Hoje estou novamente sem dinheiro e não quero mais depender de ninguém.

Todo ser humano, principalmente um artista, deveria ter neste mundo alguma coisa que o sustentasse.

As vezes penso em me refugiar, em jejum, em algum buraco, em alguma de nossas cavernas pré-históricas, para alcançar o nirvana e falar com os deuses.

Mas o que isso importa? Isso é loucura!

Escrevo sem saber ser o que afirmo, por puro espírito de desabafo ou desilusão, passei a vida como uma sombra de um objeto luminoso sendo desapercebido.

A quem isso possa interessar? Aos que torcem por minha derrota, deixo meu legado e meu desprezo. Deixo os meus ossos.

Fiz o que se podia fazer na força e na flor de minha existência.

Removi as montanhas, atravessei os mares, lutei contra os dragões…

Passasse o tempo em um sopro, onde os terríveis ventos de inverno e as permanentes tempestades de verão não teriam compreendido o meu devenir, nem eu conseguiria entender como permaneço vivo.

Nunca fui derrotado, pois sempre respondi aos canalhas com a minha vitória.

Hoje envelhecido e lento, nos movimentos do corpo, não consigo mais lutar.

Na minha cabeça, os meus pensamentos criativos, no afã de ir mais distante, fervem.

Que contradição: um lento, contemplativo, e outro rápido demais, explosivo.

Assim a loucura pouca é bobagem…

Quero ainda acreditar que em um novo ano venha existir novamente, alguém que possa transformar esse país de analfabetos culturais que veneram o bezerro de ouro, em um novo mundo, em novos signos modernistas, em novas revoluções. Eu continuo aqui, com fé, existindo e esperando, esperando, esperando, esperando…

(*) José Sette de Barros é Cineasta & Artista Plástico.

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