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A JOVEMPAN E O DESSERVIÇO AO JORNALISMO

Cláudio Leitão (*)

A JovemPan News é um canal patético. Não pratica jornalismo profissional e a maioria dos seus programas são direcionados ao bolsonarismo mais radical. Um dos seus expoentes, o “comentarista” Roberto Motta, fascista de carteirinha, esta semana disse a seguinte pérola: “Temos sim doutrinação marxista nas escolas públicas…Os alunos desde as primeiras séries deveriam ter aulas sobre a importância da propriedade privada como um direito natural”, e por aí vai em suas sandices de extrema direita.

Vejamos a realidade. Uma parte significativa dessas crianças vão à escola para comer, dada as deficiências alimentares em suas casas. A renda média do brasileiro é de cerca de 2.890,00 reais, segundo o IBGE. Mais de 80% recebem até 3 salários mínimos. A imensa maioria destas pessoas não tem nenhuma condição de adquirir a tal “propriedade privada”. Uma das exceções é quando já recebem uma casa ou um terreno de herança de seus pais ou parentes. Ainda assim, nestes casos há uma discussão de natureza econômica e social se este tipo de bem se caracteriza de fato como “propriedade privada”. Muitos teóricos classificam estes imóveis como “bem social”, inclusive com cláusula de impenhorabilidade judicial.

A outra é quando conseguem com muito esforço, principalmente através da educação, obter uma mobilidade social que os levam a um financiamento habitacional, que aliás, está cada vez mais difícil de obter pelas exigências dos agentes financeiros. Este tipo de discurso da extrema direita nada tem a ver com questões de direitos. O que eles querem é manter privilégios. Pessoas como o tal Motta não usam a saúde pública e nem matriculam seus filhos na escola pública. Também não dependem tanto da segurança pública, pois moram em bairros nobres, em condomínios fechados com segurança privada. Seus filhos não sofrem violência policial.

Esta turba reacionária defende as medidas de exceção que a polícia pratica contra os pobres e negros da periferia em nome do combate à criminalidade. Chamam as intervenções violentas de “efeitos colaterais” inevitáveis. Não suportam programas sociais de combate à pobreza e a desigualdade social. Defendem um sistema carcerário cruel e não acreditam na ressocialização dos detentos, mesmo aqueles condenados a penas leves.

O Ministério Público Federal abriu uma investigação para pedir a cassação da Rádio JovemPan, a emissora líder que é uma concessão pública, que banca a TV de assinatura, que não é, além dos outros meios de comunicação do grupo. A rádio reproduz quase toda a programação da emissora de TV. A acusação é de divulgação de Fake News, desvirtualizar notícias e desinformação proposital. O processo tramita lentamente, enquanto isso eles seguem praticando estes atos diariamente e de forma impune.

O sonho dourado da JovemPan é ser igual a Fox News nos EUA, a emissora mais reacionária e de extrema direita daquele país. O problema é que lá tudo é pago e não tem concessão pública de graça. É outro tipo de legislação e regulação. Aqui no Brasil, as emissoras concessionárias deveriam seguir as leis, além das normas éticas que a própria associação criada por elas define para a regulação de conteúdo, mas não o fazem. E pior, não acontece nada. A JovemPan não pode ser subestimada. Faz explicitamente propaganda de pautas de extrema direita por ganância, grana mesmo, e audiência deste nicho bolsonarista mais radical. A emissora é uma “tempestade” fascista e reacionária que precisa ser detida.  É só aplicar a lei.

(*) Claudio Leitão é economista e professor de história.

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