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Crônica / Conto

NÃO VOU PARA HOSPITAL…

José Sette de Barros (*)

Estava filmando em Barbacena meu último filme com o Grupo de Teatro Ponto de Partida quando fui acometido por uma febre que me fazia suar a noite molhando toda a minha roupa. Comentei o fato e logo me disseram que chamariam um médico conhecido, eu disse que não era necessário. Eles insistiram dizendo que uma pessoa do grupo estava com Covid e que eu poderia ter me infectado… Quando cheguei para trabalhar lá estava ele me esperando… Fui então para uma sala onde fui examinado… Ele queria que eu fosse para o hospital para fazer outros exames. Eu disse que não iria e para justificar minha recusa contei-lhe a minha história:
– Sou filho de médico, eu ia estudar medicina, mas desisti, pois em verdade queria fazer era cinema. Com 14 anos já havia escrito um roteiro sobre Belo Horizonte que intitulei “Cidade Sem Mar”. Quando ainda era criança, fui internado em um hospital por uma dor aguda do lado direito do meu corpo, meu pai com uma junta de médicos amigos me levaram a uma mesa de operação e arrancaram meu apêndice, depois minhas amídalas, que diziam que eram as fontes das minhas infecções persistentes. Em 1968, com 20 anos, sofri um desastre de carro onde fraturei 4 vértebras de minha coluna, fui para o hospital e o médico me engessou. Os médicos, amigos do meu pai, retiraram o gesso para que eu pudesse dormir. Em 1970, perseguido pela ditadura, fui para Europa. Lá, sobre a influência do Yin e do Yang, parei de comer carne e me sentia bem. Nunca mais comi os pobres animais. Na volta ao Brasil, fui internado com fortes dores causada por 4 pedras no rim. Expeli todas elas. Não podia mas ouvir falar em hospital. Tenho horror de junta médica. Sou a favor do médico de família que vai a sua casa ver o que você tem. O médico ouvindo minha história deu uma boa risada e disse que entendia o que eu queria dizer. Ele então me receitou um poderoso antibiótico e disse que podia continuar o meu trabalho. Nesta noite dormi bem, embora suasse a noite toda, me sentia melhor.
Passaram 50 anos e nunca mais tive nada de grave. Só agora quando vou fazer 77 anos é que a tal Covid me pegou. Achei que ia morrer. Não tenho medo da morte. Hoje, depois de duas semanas na cama, é que começo a me sentir melhor. O jovem médico que me atendeu ainda não me deu alta, quer fazer mais exames… Disse para ele que não vou para o hospital… Que horror!

(*) José Sette de Barros é Cineasta e Artista Plástico.

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