Leonardo Sakamoto (*)
Desde a redemocratização, o Brasil não vive uma eleição tão tensa. Em 2018, os ânimos se armaram; em 2022, eleitores foram mortos por eleitores. Mas, em 2024, facções criminosas estão se dedicando a atingir o poder de uma forma nunca vista. E isso deveria ser motivo de pânico. Afinal, se acham que a vida é ruim com políticos que agem como criminosos, imagine com criminosos que agem como políticos.
A expansão das milícias e do crime organizado na política não é novidade, basta ver a barafunda na qual se tornou o estado do Rio de Janeiro. A política já está contaminada por milícias e facções, mas a questão agora é outra: a entrada forte do crime no comando de municípios e de suas Câmara dos Vereadores pode representar o fim do período de política pacificada no Brasil.
Em São Paulo, a cúpula do PRTB, partido de Pablo Marçal, se orgulha da relação com o PCC – que, por sua vez, usou empresas de transporte urbano para lavar dinheiro na gestão Ricardo Nunes, segundo o Ministério Público. Em João Pessoa, líderes da Nova Okaida são pegos em conversas promíscuas com a gestão do prefeito Cícero Lucena, candidato à reeleição, discutindo suas demandas políticas para ajudar no pleito. O Comando Vermelho ajuda a eleger políticos em Arraial do Cabo para garantir estrutura de lavagem de dinheiro, de acordo com o MP-RJ. Em Manaus, o mesmo CV determina quais candidatos a prefeito e a vereador podem fazer campanha eleitoral em comunidades, além de onde e quando. E, para adentrar em seus territórios, há um preço a ser pago pelas campanhas.
Quem acha que o fundo do poço é um grupo político tentar um golpe de Estado ao perder a eleição, como o bolsonarismo entre o segundo turno de 2022 e 8 de janeiro do ano passado, precisa urgentemente rever seus conceitos. Sim, no fundo do poço há um alçapão que nos leva muito mais fundo, talvez em direção a um narcoestado. E a infiltração que vivemos até agora não é nada se comparada com o que deve vir.
(*) UOL