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NOTA OFICIAL: UM OUTRO GLOBO REPÓRTER É POSSÍVEL

Sobre a última reportagem exibida pelo Globo Repórter a respeito da Laguna de Araruama, entendemos o conteúdo como tendencioso, pois destacou apenas as belezas naturais da região, que a própria natureza busca preservar, já que esses locais nunca foram impactados de forma significativa pelo lançamento diário de esgoto.
No entanto, essas amostras contrastam com os recentes Boletins de Balneabilidade das praias da Região dos Lagos (novembro de 2025) divulgados pelo INEA, que comprovam a poluição gerada pelo esgoto não tratado. Essa realidade compromete o turismo e gera riscos graves à saúde pública, ao meio ambiente e à economia regional.
Diversas praias da laguna estão em estado crítico devido a esgoto mal tratado, com altos índices de contaminação por coliformes fecais e Escherichia coli, deixando clara a necessidade urgente de ações. Ao final deste documento, estão disponíveis os índices detalhados.
Lembramos que, recentemente, foram disponibilizados pela Prolagos recursos para ações paliativas na laguna de Araruama, contemplando as regiões de São Pedro da Aldeia (Camerum e Mossoró) e Cabo Frio (Praia do Siqueira e Palmeiras).
Essas medidas tiveram como metas construir decks de acesso ao espelho d’água e facilitar a remoção de algas na enseada da laguna por pescadores, o que, sob o ponto de vista técnico, como impacto positivo, é desprezível. Um enxugar de gelo caro: o volume de nutrientes que alimentam as algas continua sendo lançado diariamente na laguna, especialmente em locais de péssima hidrodinâmica, tornando qualquer ação de remoção apenas paliativa e de efeito mínimo e limitado.
Como sociedade civil de utilidade pública, por várias ocasiões, a ONG buscou transparência sobre essas e outras ações e recebeu respostas negativas por parte da diretoria executiva do Consórcio Lagos São João.
Diante disso, questionamos por que essa situação não foi devidamente abordada, principalmente considerando que tais ações parecem desconectadas da realidade local e não apresentam efetividade prática.
Por outro lado, com apoio dos “doutores em saneamento “, prefeitos da região, as Concessionárias adotaram a questionada captação em “tempo seco” , que permanece em um cenário de indefinição há décadas, sem objetividade, responsabilidades claras ou prazos definidos para o seu encerramento. Cabe às Concessionárias e às prefeituras agirem, porém essa discussão nunca foi de fato travada ou esclarecida. A quem interessa isso?
Além disso, conforme previsto para uma atividade potencialmente poluidora (Lei nº 6.938/1981 – Política Nacional do Meio Ambiente), devem ser realizados estudos técnicos detalhados para a atividade de dragagem, como é o caso à remoção do lodo da enseada da Praia do Siqueira que está por acontecer.
Mas até o momento, não foram apresentados documentos que contemplem o impacto ambiental, o plano de dragagem, a viabilidade ambiental dos meios físico e biótico, os planos de amostragem e monitoramento, bem como informações essenciais sobre as características e o volume do lodo, além do destino dado ao material retirado.
Com base em nossa preocupação e percepção dia a dia no local, recentemente a ONG realizou e custeou uma análise do lodo da Praia do Siqueira, com o objetivo de identificar suas características físico-químicas e biológicas.
Fomos surpreendidos pelos resultados, que indicam riscos à saúde pública, com níveis de chumbo acima do limite permitido, além da presença de Coliformes Totais, Escherichia Coli, nutrientes, óleos e graxas, em desacordo com as resoluções Conama 430 e 454/2012. Relatório da Análise pode ser solicitado pelo e-mail: ongnossalagoa@gmail.com. Foi apenas uma amostragem, mas indica que pesquisar é preciso sob pena de lidarmos com um lodo desconhecido e seus impactos.
O problema da ineficiência no tratamento de esgoto, que afeta as áreas há mais de 25 anos, aumentado pela permissividade da gestão consorciada, foi completamente ignorado na reportagem do Globo Reporter. Esse desafio é muito mais grave e complicado do que meras campanhas de propaganda e marketing.
Além disso, não foi garantido o direito ao contraditório, nem foi dado espaço para técnicos que poderiam esclarecer a situação real da Praia do Siqueira e de outras áreas da laguna que ainda sofrem com as mazelas do esgoto.
Concessionárias, governo, veículos de comunicação e outros envolvidos possuem interesses próprios que influenciam a forma como a realidade é apresentada. Essa situação acontece desde o passado até os dias atuais.
A luta pela conservação e saneamento adequado continua. Estamos no jogo e não vamos parar!
Devemos intensificar a atenção e a mobilização nos locais como Camerum, Siqueira, Ponte dos Leites, Boqueirão, Palmeiras, Baixo Grande, Hospício, Mossoró, Areal, entre outras.
Expressamos nossa indignação por meio da seguinte citação do filme, [“Tropa de Elite” (2007)]: “E mesmo assim, o sistema continuava de pé. O sistema entrega a mão pra salvar o braço. O sistema se reorganiza, articula novos interesses. Cria novas lideranças. Enquanto as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai resistir. Quem financia e sustenta tudo isso? E custa caro, diga-se de passagem”.
Os relatórios do Inea indicam que altos índices de coliformes fecais e Escherichia Coli tornam muitas praias impróprias para banho:

  • Saquarema: 22% das praias, incluindo Itaúna e Boqueirão
  • Araruama: 33%, como Areal, Centro, Pontinha, Iguabinha e Gavião
  • Iguaba Grande: 60% contaminadas
  • Cabo Frio: 22% contaminadas (Siqueira e Palmeiras)
  • São Pedro da Aldeia: 67%, incluindo Linda, Centro, Pitória, Sol e Balneário
  • Búzios: 14% fora dos padrões
    Diante desse cenário, questionamos: como explicar tais índices?
    Exigimos transparência e espaço de resposta.
  • Associação Socioambiental Nossa Lagoa Viva
    Integridade, Trabalho e Transparência
    Diretor Técnico: Juarez Lopez
    Presidente: Marcos Valério de Oliveira

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