
A Cidade de Cabo Frio, mais precisamente o núcleo urbano que se formou ao longo de 4 séculos, como a 5ª cidade do Brasil a ser criada, é dela que vamos falar:
“O Cabo Frio”, por ser um sítio esplêndido, de uma beleza natural ímpar, tendo condições climáticas e de ocupação favoráveis e estratégicas, desde os nossos indígenas como o povo do Sambaquis, até aos guerreiros Tupinambás, a ocupação humana por aqui é sábia e milenar.
Na “era dos descobrimentos” se inicia na América a partir do século XV uma ocupação territorial devastadora, massacrando os povos originários que aqui viviam. No Brasil ainda hoje há conflitos de terra entre tribos versus posseiros e garimpeiros.
Em Cabo Frio, já no século XVI, os portugueses dominavam o território, mas foram os ciclos econômicos que determinaram o seu desenvolvimento como Município, e cada ciclo deixou edificações e história humana, caracterizando o lugar, com seus desenhos urbanos e manifestações culturais.
Na história recente podemos citar alguns pontos marcantes para acaracterização do território e sua população:
. Localização geográfica estratégica para a ocupação européia;
. Cabo Frio como pólo de desenvolvimento regional nos últimos 4 séculos;
. A Fazenda Campos Novos liderando a produção agrícola do interior do Estado e atendendo até a Capital nos séculos XVIII e XIX;
. A produção salineira nos séculos XIX, XX e XXI, o ouro branco;
. O crescimento do turismo e do veraneio nos séculos XX e XXI;
O Poder Público Municipal ainda não promoveu o potencial turístico doPatrimônio Histórico e Cultural, mas absorveu o interesse imobiliário e comercial de construir as edificações para esse desenvolvimento de cidade de veraneio e de turismo ‘Sol e Praia’.
Ainda há tempo, nem tudo está perdido
Precisamos criar leis que permitam as mudanças de uso e ocupação no território, mas que possam identificar o que a sociedade cabofriense entende o que é importante preservar. Essa legislação hoje não a temos.
Como começar então?
Entendo que é por aqui:
1- Criar um arcabouço legal, que permita a preservação, como reinventar usos, o instituto do tombamento, com leis e normas mais efetivas.
2- Desenvolver um inventário municipal, arquitetônico, artístico e cultural, dos bens materiais e imateriais, tombados ou não.
3- Os Órgãos de Cultura e Patrimônio Municipais, necessitam de mais investimento, melhorias na estrutura administrativa, e principalmente que a sociedade civil apoie e valorize as ações culturais no município, e a Cultura seja valorizada como Desenvolvimento Humano.
4- Mostrar ao cidadão e visitantes a importância de preservar evalorizar o nosso patrimônio cultural.
Na década de 80, tivemos importantes ganhos, com a criação de leis eações do patrimônio no município, com nomes que deixaram um legado de obstinada paixão e trabalho, como a Amena Mayal e Márcio Werneck. Hoje o IMUPAC está em reconstrução, em um novo momento onde acredito que possamos consolidar uma política a evoluir no campo da
Cultura e Patrimônio.
É preciso entender que Cabo Frio teve vários ciclos econômicos que vieram modificando a paisagem da cidade, e como exemplo, numa mesma rua, vemos vários prédios com estilos de época destas mudanças. Para se preservar quase tudo, teríamos que praticamente engessar o centro urbano.
Por que não somos como o exemplo de Paraty?
Simples de entender: Paraty teve um ciclo econômico, o ciclo do ouro, ponto. Que acabou, e o Centro Histórico adormeceu por dois séculos, E quando veio o turismo, estava pronto o cenário de um belo casario colonial.
Cabo Frio, em constantes mudanças de cenário econômico, só criou leis de proteção para o seu Patrimônio Histórico na década de 80, já tudo junto, misturado e autorizado, e com uma legislação urbanística, até hoje, voltada para um modelo de cidade.
Precisamos de um outro olhar.
Cabo Frio, 19 de novembro de 2025.
Sérgio Nogueira
Diretor do IMUPAC