
O pobre de direita está preocupado com a segurança pública no país. Ele inclusive, acha que só ele está preocupado. Ele acha que combater facção ou organização criminosa é fazer operação policial no morro, matar uns bandidos “bagrinhos” e prender o “chefe da facção”, normalmente um preto ou pardo de bermuda e sem camisa. Enquanto isso, seus representantes no parlamento fazem de tudo para afrouxar a legislação que pode colocar atrás das grades os verdadeiros chefes de facção que usam terno e gravata. Querem, inclusive, dificultar a PF de apreender seus bens conseguidos com operações financeiras ilegais. Querem também retirar recursos do orçamento da PF para dificultar operações que prejudiquem seus “possíveis sócios”.
Este é o retrato do PL AntiFacção, relatado pelo deputado Guilherme Derrite (PP/SP) e aprovado na Câmara dos Deputados. Do outro lado assistimos a operação da PF que prendeu o presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, por fraudes financeiras acima de 12 bilhões de reais. A operação mostrou o envolvimento de diversas figuras políticas de proa no cenário nacional, como os governadores Claudio Castro do RJ e Ibaneis Rocha do DF. Tem também o senador Ciro Nogueira (PP/PI) e o deputado Arthur Lira (PP/AL). Todos já envolvidos em outros escândalos de corrupção com a grana pública.
O desgovernador Claudio Castro de forma irresponsável e altamente suspeita autorizou investimentos de mais de 1 bilhão de reais no Banco Master, mesmo com parecer contrário do TCE. Estes recursos são do fundo do RioPrevidência e da venda da CEDAE, dinheiro do servidor público do estado. Já o desgovernador Ibaneis teria determinado a compra do Banco Master pelo BRB, banco administrado pelo governo do Distrito Federal. A operação só não foi concretizada porque o Banco Central impediu.
Quando você analisa o currículo de projetos e ações destes políticos idolatrados pelos pobres de direita não se encontra nada que beneficie o pobre de maneira geral, nem o de direita e nem o de esquerda. Estes representantes da pilantragem política nacional seguem sendo votados eleições após eleições pelo tal pobre de direita. Os votados pelo pobre de esquerda, por outro lado, seguem diuturnamente lutando contra eles para impediram a aprovação de projetos escrotos como este do tal Capitão Derrite, que aliás foi expulso do BOPE paulista por seguidas operações violentas contra os bandidos pobres e pretos da periferia de São Paulo. Mas como vocês podem ver com os bandidos engravatados da Faria Lima ele parece uma tchutchuca!!
Há algum tempo atrás, um destes pobres de direita me questionou no Facebook por uma postagem que fiz criticando a operação policial no Complexo do Alemão que matou mais de 100 pessoas, incluindo policiais. Um dos argumentos era de que eu deveria ter vergonha de defender bandidos de facção criminosa. Eu duvido que este rapaz, jovem inclusive, tenha algum tipo de argumento para condenar os bandidos de facção engravatados. Desculpe, mas na verdade, eu percebo no pobre de direita até uma ponta de inveja em relação a estes “caras bem sucedidos na vida”, inclusive na vida política. Queriam ser como eles!!
Para o pobre de direita corrupto é só o PT e seus políticos, além claro, de outros de esquerda que ocasionalmente apoiam o PT em algum projeto, porém sem perder a capacidade crítica para condenar quando não concordam. O pobre de direita nunca examina as informações por inteiro, inclusive considerando outras fontes. Prefere as informações fragmentadas, geralmente oriundas dos grupos de zap das bolhas destes políticos de extrema direita. Nunca consegue formar uma consciência crítica mais racional. Não conhece a história política do país, mas quer falar com autoridade e conhecimento de causa nas redes sociais, inclusive contestando de forma mal educada aqueles que não são do seu espectro político e não comungam com sua visão de mundo.
A recente prisão de Bolsonaro é outro exemplo do comportamento distópico do pobre de direita. Todas as evidências de violação da tornozeleira eletrônica estão colocadas, mas ele prefere outras versões divulgadas pelo “zap do tiozão”. Quando aceita a violação busca a desculpa ridícula da defesa do mito de araque que ele estava em alucinação e paranoia. Eu acho que Bolsonaro a vida toda esteve em surto. Embora muitas vezes este surto fosse de cinismo, oportunismo político e desfaçatez. Isso foi passado aos filhos por exemplo e também por DNA.
Podia escrever muito mais. Isso daria laudas e laudas de elucubrações filosóficas, sociológicas e antropológicas, mas confesso que ando cansado e desesperançoso com os rumos políticos do país. Recomendo que leiam o livro do sociólogo Jessé Souza, intitulado “O pobre de direita: A vingança dos bastardos”. É uma aula e garanto que ele está muito mais preparado do que eu para abordar o tema. Não precisa nem comprar, o livro está disponível gratuitamente na internet.
Desejo uma boa leitura !!
Claudio Leitão é Economista e professor de História.
Uma resposta em “A DISTOPIA DO POBRE DE DIREITA”
Excelente! Parabéns!!
Tema abordado com total clareza, objetividade e verdade. Aproveito para reforçar a indicação do livro “O Pobre de Direita”, do sociólogo e escritor Jesse Souza.