
Entro no ônibus às 6:45, como de costume e sento próximo a porta de saída, ao fundo, de onde consigo ver todos os passageiros que entram e saem e observar silenciosamente suas expressões e movimentos durante a viagem.
Uma mulher encosta perto do lugar em que estou sentada. Ela é jovem e está em pé com um menino que parece ter uns oito anos de idade. Recusa um lugar para sentar porque logo vai descer.
Cuidadosa, abraça o menino e ajeita as suas roupas, quase sem perceber, como um hábito. Eles se olham, cúmplices e ela fala alguma coisa em voz baixa ao seu ouvido. O ônibus para logo a seguir, em frente a uma pequena escola municipal.
Ela o empurra delicadamente em direção a porta de saída e ele, senhor de si desce sereno e obediente. Seus olhos procuram os da mãe dentro do ônibus, ágeis. Ela o vê, ele não, mas vai em frente voltando o olhar para procurá-la mais uma vez.
Então o ônibus parte, segue viagem, mas a mãe não desvia o olhar do menino, fixa-se nele até que o perca de vista, calada, certa do dever cumprido.
Eu vejo a cena, me vejo nela, vejo todas as mães nela e meus olhos revelam a emoção daquele momento, tão solene, tão sublime. Cenas de um cotidiano quase invisível.
12 de junho de 2015
Ana Angélica Mello