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A TAL REPRESENTAÇÃO PARLAMENTAR

Na minha avaliação este é o pior Congresso já eleito pela população brasileira. Além disso, também acho que o mesmo vem acontecendo nas assembleias legislativas e nas câmaras de vereadores pelo país afora. A cada eleição piora o nível, afastando a representação do que é de fato o perfil do eleitor. Os atos e atitudes que assistimos diuturnamente, a maioria mostrada pelas mídias, sejam elas as oficiais ou redes sociais, afirmam isso. Poucos e raros representantes estão lá defendendo o interesse do povo trabalhador e as causas populares. A “democracia eleita” não emana do povo. Fica fácil constatar este fato.

O que entristece ainda mais é que estes pilantras federais, estaduais e municipais se repetem a cada eleição. São reeleitos ou substituídos por personas iguais. Eles não sentam nestas “macias poltronas” apenas por vontade própria e alguns são muito bem votados. Não pretendo estabelecer culpas ou responsabilidades iguais aos eleitores, até porque sabemos que há uma grande estratificação na sociedade brasileira que difere um eleitor do outro. São fatores educacionais, sociais, econômicos, além de outros que envolve um complexo processo de formação da cidadania.

Há também as interferências indevidas nas eleições patrocinadas pela grande mídia e pelos agentes econômicos. Apesar de termos uma extensa legislação eleitoral, existem inúmeras brechas e situações inalcançáveis no processo, uma delas é a falta de capacidade de uma fiscalização mais efetiva. Tudo isso influencia no resultado final. Estamos ainda muito longe de termos no legislativo, em qualquer esfera de poder, uma representação que de fato reflita a sociedade e o povo brasileiro. E pior, tenho dúvidas se um dia alcançaremos este resultado. O Brasil é uma democracia de massa, de caráter liberal e burguesa, que reflete de forma clara a desigualdade social que existe no país.

Um outro fator que interfere fortemente no processo eleitoral é a religião, principalmente nas últimas décadas. Não que não houvesse antes, pois desde o período feudal na Europa, passando pela criação dos Estados Nacionais, a religião esteve sempre junto com a política e as esferas de poder, sendo inclusive uma delas. Mas particularmente no Brasil, após o processo de redemocratização, setores religiosos, passaram a interferir diretamente, indicando candidatos e demonizando outros. Neste campo incluem-se principalmente católicos e evangélicos. As denominações do segmento evangélico neopentecostal são sem dúvida as mais atuantes. Há pastores que em seus cultos falam mais de política e costumes do que de Jesus e sua obra.

Usando como exemplo desta “desrepresentação” a atual composição da Câmara de Deputados com 513 membros, temos a seguinte estratificação: São 138 empresários, representando mais de 1/4 do total, o que não tem correspondência na população. Apenas 29 são professores e 26 são servidores públicos, o que mostra a sub-representação da classe trabalhadora. Cerca de 50 se declaram profissionais liberais. São 436 homens e 77 mulheres. Fato que também não reflete o quadro populacional. Do todo, 25% se declaram negros ou pardos e 75% são brancos. Novamente, não tem correspondência com o perfil populacional. Temos apenas uma deputada indígena.

Isso mostra que o eleitor ao votar não busca representar sua classe social e seu segmento econômico no parlamento nacional. O mesmo se repete nas assembleias legislativas nos estados e nas câmaras municipais. Isso mostra porque a pauta destes caras, na maioria das vezes, não representa a maioria da população formada por trabalhadores e pessoas humildes. O salário médio no Brasil se situa em torno de dois salários mínimos. A análise deste fenômeno é complexa e não cabe num texto rápido para ser lido na net. O tema precisa de um compêndio extenso e detalhado, rs !

Agora, se não melhorarmos nosso sistema educacional, se a nossa consciência política permanecer muito baixa, se o nível de consciência cidadã não avançar, se o eleitor não entender que pautas econômicas, sociais e populares devem estar acima das pautas identitárias e de costumes na escolha parlamentar em todas as esferas, nada mudará e a representação seguirá em desacordo com o povo. E pior, as nossas demandas, desejos e necessidades jamais serão atingidas !!

Claudio Leitão é economista e professor de história.

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