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DITADURA DO PROLETARIADO

Estava, eu, esse pobre “esquerdopata”, na semana passada, a convite de um amigo, em um novo café que estava sendo inaugurado naquele dia no bairro de Braga em Cabo Frio, quando me vi cercado por bolsonaristas que debatiam o tarifaço e a tal Lei Magnistsky. Pensei, que furada ter aceitado este convite de um amigo. Preferi não falar nada e apenas ouvir as diatribes dos adeptos do mito. Entretanto, um deles viu na minha perna a tatuagem da foice e do martelo. Pronto, fui descoberto e tive que participar do colóquio.

Disse, entre outras coisas, que o sonho de Trump era ser o “Putin americano”, ter reeleições sucessivas, mas que as instituições norte-americanas não deixariam. Aí piorei tudo, porque eles logo vieram com aquele papo de “ditaduras socialistas assassinas” e levantaram o polêmico conceito da “ditadura do proletariado”. Como percebi que estava diante de empregados de empresas e pequenos comerciantes, a famosa classe média bolsonarista, resolvi enfrentar o tema e dar a minha visão sobre este imbróglio histórico. Ao fim, alguns ficaram me olhando meio desconfiados do que falei. Pedi licença, falei com meu amigo e “piquei minha mula” do tal café, me prometendo que ali não voltaria nunca mais, rs.

A explicação que dei segue abaixo para compartilhar com vocês. O conceito marxista de “ditadura do proletariado”, ao contrário do que muitos pensam, não tem nenhuma relação com as ditaduras do século XX e XXI. Estes são regimes antidemocráticos, reacionários e quase sempre militarizados. No século XIX, o conceito de ditadura tinha um sentido muito mais próximo de sua origem, na Roma antiga (dictatura). Essa “instituição romana” constituía um exercício de poder emergencial por um cidadão confiável com propósitos e duração limitada, normalmente, no máximo por seis meses. Seu objetivo era preservar o “status quo” republicano do modelo romano.

Na análise marxista, a palavra se recobre de um novo sentido. A ditadura de uma classe não mais para a preservação do “status quo”, mas para a sua transformação, evitando assim uma recondução ao estado anterior desfavorável à classe trabalhadora. Quando se fala em “ditadura do proletariado”, e vale lembrar que proletariado quer dizer assalariado, a imagem que devemos imaginar não são campos de concentração para a classe média alta ou pelotões de fuzilamento para os ricos e milionários, mas um período de transição no qual a condução política da sociedade é fruto da deliberação direta dos trabalhadores. Um exemplo que se aproxima deste conceito é a Comuna de Paris. Falei e parei, pois explicar a Comuna daria outra celeuma.

Digo, não se permitam a aceitar conceitos distorcidos pela extrema direita. Ah, detalhe, tenha cuidado com convites para cafés. Existe um, com um pomposo nome inglês, “Coffee Place”, na Galeria Square Garden, também de nome inglês, no centro de Cabo Frio, frequentado por esquerdistas radicais, que vocês não devem ir por “nada neste mundo”. Além do contrassenso dos nomes em inglês, lá é servido cafés nobres e queijos importados. E o pior, eles vão tentar doutriná-los.  Repito: não vão lá !!

Claudio Leitão é economista e professor de História.

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