

Francisco de Assis Ferreira dos Santos — nosso Kiko de Timinho
O nome era grande: Francisco de Assis Ferreira dos Santos. E o coração, maior ainda.
Kiko era da geração que veio antes da minha em Cabo Frio. E que geração bonita… no jeito, no espírito, na forma de viver a cidade. A gente, mais novo, olhava de longe e se encantava com aquele pessoal da praia, das motos, das peladas, das boates e da leveza dos dias que pareciam não ter fim. Kiko estava ali, no meio, sempre com um sorriso calmo, uma presença boa. Era difícil não gostar dele.
Tinha tudo pra ser exibido. Filho do seu Otime, figura gigante da cidade, homem que veio de baixo, trabalhou duro e chegou longe: comerciante, vereador, deputado, prefeito. Mas o Kiko era o oposto disso. Era humildade, era gentileza. Era paz.
Era também marido da Leila, que é dessas pessoas que emanam serenidade, e pai das gêmeas Laís e Isabela, e do Caio — um filho com brilho próprio, carismático e fiel. A mãe, dona Arilda, era carinhosa e firme. E os irmãos, Ermelinda e Dr. Luís Gonzaga, estavam sempre por perto, como irmãos de verdade devem estar.
A vida me aproximou dele quando comecei a namorar Márcia, prima dele. E ali ganhei uma família — e ganhei o Kiko. Foram quase 40 anos de convivência. E não foi qualquer convivência. Foram cafés da tarde com papos sérios e risadas boas, as vezes um charuto, cerveja gelada e cachaça escolhida a dedo. Foram músicas de Chico Buarque — que ele ouvia com alma — e que eu reclamava, só pra provocar. Foram pedaladas, conversas na Passagem, lembranças de futebol de salão, encontros no Bar do Delegado e histórias de moto que ele contava como quem narra poesia.
O Kiko tinha um jeito doce de estar no mundo. Era um pacificador, mas também sabia ser firme quando precisava. E isso nos aproximou ainda mais. Nossa amizade era feita de respeito, de verdade, de carinho. Era feita de presença.
Hoje eu escrevo porque não quero parar de estar com ele. Escrevo porque lembrar é uma forma de abraçar. E porque a saudade também precisa chorar um pouco pra conseguir seguir em frente.
Sei que a galera do bem que já foi está te esperando. Sei que você vai chegar aí com leveza, como quem entra no mar ao entardecer, sem pressa. Pega tua moto, meu irmão, e vai rodar esse céu bonito como você merece.
Aqui, a gente vai continuar lembrando. E quando tocar uma do Chico, vai doer — mas vai ser bom também. Porque é assim que você fica com a gente.
Vai em paz, Francisco. Vai em paz, Kiko.
E espera a gente.
Com carinho e saudade,
Flávio Rosa (Tiziu)