
Tudo no modelo capitalista de produção tem preço e é transformado em mercadoria, inclusive a mão de obra do trabalhador. Toda mercadoria precisa ter um prazo de validade, pois a obsolescência dos produtos é condição para produção de novos itens para retroalimentar o sistema. A democracia em seu sentido pleno pressupõe que todos devem participar do contexto sociopolítico com igualdade de condições.
Em sua definição literal, democracia representa o poder popular ou o governo do povo. Entretanto, hoje no mundo, não existe um só país capitalista governado pelo poder popular. Nenhum mesmo. O que existe, na verdade, é uma democracia deformada, que muitos filósofos e sociólogos chamam de “democracia burguesa”, que com base no poder econômico de uma elite política e financeira governa os tais países capitalistas que se dizem “democráticos” apenas porque tem eleições. Neste modelo até o voto vira mercadoria e é cooptado ou mesmo comprado por quem é “escolhido” pelo tal Mercado para governar.
O modelo “democrático capitalista” acumula poder e riqueza, que entretanto, são divididos de forma desigual nas camadas da sociedade. Isso é um contexto planetário. As regras são ditadas pelo Sr. Mercado que não tem nenhum compromisso solidário de prestar contas a um suposto poder democrático que emanaria do povo. A democracia política sempre “bate de frente” com a democracia econômica.
É um dilema que no momento não tem solução. A desigualdade entre povos e países tende a continuar se agravando dentro desta lógica. Existem analistas que, infelizmente, traçam um futuro ainda mais sombrio, dizendo que a miséria e a fome em alguns cantos do mundo irão se alastrar com mais intensidade. Isso tudo sem falar no modo predatório que o meio ambiente vem sendo submetido dentro deste modelo de produção. Os recursos naturais do planeta não são infinitos.
Logo, tomando por base um raciocínio filosófico, penso que toda prática humana que possa ser convertida em mercadoria, e por consequência, em acumulação de riqueza, e estas, deixam de ser acessíveis por inteiro ao povo, obviamente deixam de ser plenamente democráticas. Para que o capitalismo pudesse ser verdadeiramente democrático tudo em sua essência teria que ser “desmercantilizado”. Porém, esta “desmercantilização” em sua própria definição e essência seria o fim do capitalismo.
E tem ainda as guerras, em que países democráticos e capitalistas invadem e pilham outros países democráticos e capitalistas, além de outros nem tão democráticos e nem tanto capitalistas. Mas este tema daria laudas e laudas. Fica para a próxima !!
Claudio Leitão é economista e professor de História.