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Crônica / Conto

VIAJANDO O SERTÃO

Viajamos, da madrugada de 16 à manhã de 29 de maio, 1307 quilômetros: 837 de automóvel, 40 de auto-de-linha, 38 de trem, 30 de canoa, 2 de rebocador e 360 de hidroavião.

Esse cômputo é a expressão oficial e sisuda, mas não corresponde inteiramente à verdade. Andamos a pé, de cadeirinha, de macaquinho, dentro d’água, na lama (…), saltando de pau em pau (…), carregando maletas, levando companheiros no ombro, livrando os xiquexiques, galopando a cavalo, apostando velocidade nas retas areientas enquanto o Ford empacava, atolado.”

“Falta anotar a fome, o frio das roupas molhadas, a fadiga das caminhadas, a mania obsequiosa do sertanejo oferecer-nos galinha e macarrão em vez de carne-de-sol e coalhada. Tudo se compensava, quando chegávamos aos povoados, às vilas e cidades embandeiradas e cheias de povo, assombrados com a ousadia dos ‘pracianos’.”

“Minha curiosidade acendia-se ao contato dos temas prediletos. Os portões dos cemitérios, todos guardando reminiscências do barroco jesuítico (…); a jornada pelo rio Mossoró, noitinha, numa canoa balouçante, ao palor dum luar hesitante (…), vinte outros assuntos, perdem espaço para registo e saudade.”

“(…) tipos, anedotas, casos, observações (…) a incrível espirituosidade das respostas sertanejas, são dignos de maior demora numa leve e breve série de registos.”

“Por mim, não escreveria nada. Creio que não interessaria a ninguém saber se gostei ou não das terras que visitei. Mas pedidos foram muitos e em várias localidades. Acabei prometendo e as promessas, digam lá o que disserem, cumprem-se …”

Luiz da Câmara Cascudo – 1898/1986.

1934 – A 1ª das 18 crônicas de “Viajando o Sertão”.

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