
Alguns fatos que vivenciamos, ou que observamos, podem gerar reflexões que, aparentemente, nada têm de comum entre si, porém nos permitem analogias que estimulam a construção de um debate crítico.
Certa vez, verifiquei que precisava comprar novas fronhas para nossos travesseiros. Parti para a loja, pensando: “Para comprar algo tão simples, não preciso de mais nenhuma especificação além do tamanho de meu travesseiro. Será rápido, irei apenas escolher as cores, o material e a quantidade que desejo”. Ao chegar na loja, o vendedor me atendeu dizendo: “Ah sim, mostrarei as cores e o material das que tenho aqui. Todas são tamanho padrão, 50cm x 70cm. Seus travesseiros são de que tamanho?”. Respondi a ele que eram 50×70, porém eram travesseiros um pouco “gordinhos”. Ele disse que isso não era relevante, o que importava era saber se o travesseiro também era 50×70.
E assim foi. Escolhi as cores e o material. Comprei duas fronhas, tamanho padrão, 50×70.
Ao chegar em casa, “vesti” os travesseiros. E, durante a noite, o teste final: o travesseiro não estava mais tão confortável como quando estava sem fronha. Algumas dores no pescoço e, no dia seguinte, ao observar o travesseiro gordinho dentro da justa fronha, pensei: “a fronha 50×70, fabricada e vendida para travesseiro de mesma medida, mas considerando, porém, apenas medidas bidimensionais, ignorando completamente a realidade de que o travesseiro possui enchimento. Fabricam a fronha imaginando que o travesseiro seja plano e negando sua forma tridimensional, assim como muitos pensam que a Terra é plana”.
Que tendência seria essa de negar conteúdos táteis, provas robustas, e preferir o simplismo bidimensional e raso? Simplismo esse costumeiramente utilizado em colocações puramente convenientes, que não buscam a verdade e o esclarecimento, mas sim o domínio de consciências desatentas? Sim!! Conveniência!! Essa é a resposta! Certamente, os fabricantes de fronhas em grande escala seguem o padrão bidimensional, sem atentar para pequenas diferenças de altura entre os travesseiros, pois isso permite uma produção mais conveniente e, portanto, menos onerosa.
E assim também para os terraplanistas e todos aqueles que, convenientemente, optam por negar a ciência; por negar a diversidade de gêneros e de raças; aqueles que buscam negar a realidade de que os seres humanos são diversos em suas origens, pois são variadas as nacionalidades e as naturalidades, porém todos pertencem à raça humana, todos são habitantes de um mesmo planeta e, como tal, não devem ter negados os seus direitos humanos. Não cabe negar essa realidade, subir no salto e achar que um país, ou uma raça, ou qualquer que seja a unidade, seja melhor que o todo. Negar as diversidades é conveniente para o ser que, dentro de seu doentio egoísmo, busca apenas o domínio de poder, pois é incapaz de articular convivências salutares e justas com os diferentes. Se são governantes, julgam-se maiores até mesmo que as instituições oficiais, negam a repartição de poderes e põem-se a agir como ignorantes ditadores em suas nações e até mesmo fora delas.
Nada é apenas bidimensional, nenhuma questão pode ser respondida com o simplismo que nega uma observação mais profunda e mais empática da diversidade e do conteúdo multidimensional das subjetividades.
Por fim, sempre é bom lembrar: o travesseiro é tridimensional, cada um tem seu conteúdo e sua quantidade de enchimento.
Luciana G. Rugani
Pensadora, escritora e experimentadora da arte.
2 respostas em “FRONHAS 50CM X 70CM”
Espetacular, grande escritora! E fazendo uma referência que cada um de nós tem seu tamanho, seu enchimento, suas cores, seus sabores, suas dores… Então é humanamente essencial atender, enxergar cada um de um modo de acordo aos seus moldes para que fique bem servido, vivendo assim como ser humano único, como foi criado por Deus!
Parabéns, Luciana! Amei seu texto! Sensacional! Que venham outros brilhantes como este! 👏👏👏🙌🙌🙌❤️❤️❤️🥰🌻🌻🌻
Olá, Maria do Carmo, fico feliz que tenha gostado! Muito obrigada por suas palavras! 😊🌷😘😊