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O LUTO E O SONO

O luto é uma experiência profunda e dolorosa. A perda de alguém querido nos coloca diante de um vazio difícil de preencher, mobilizando emoções intensas que afetam não apenas nossa mente, mas também nosso corpo. Um dos impactos mais comuns é a dificuldade para dormir. Algumas pessoas enfrentam insônia, enquanto outras têm um sono fragmentado, podendo apresentar quadros de ansiedade e angústia.

O sono é um momento de fundamental importância para o nosso organismo e, obviamente, para o funcionamento saudável da nossa psiquê. Na vivência de uma experiência de luto, geralmente durante o dia, estamos ocupados com nossas atividades, distraindo-nos da dor, mas à noite, quando o silêncio e muitas vezes a solidão se instalam, as emoções podem vir à tona com mais intensidade.

Assim, episódios de insônia podem surgir como um reflexo da dificuldade em elaborar a perda, gerando ansiedade e angústia pela ausência de quem depositamos afetos profundos. Por outro lado, em alguns casos, o sono pode se tornar um refúgio, levando a um desejo de dormir mais para escapar da realidade.

Cada pessoa vive o luto de maneira única, mas compreender o que está por trás das dificuldades para dormir pode ajudar a lidar melhor com esse momento.

A psicanálise entende o luto como um processo de elaboração da perda. Nosso psiquismo precisa assimilar a ausência, reorganizando-se emocionalmente para seguir em frente. No entanto, esse processo pode ser doloroso e gerar inseguranças e fragilidades.

À noite, em especial, sentimentos reprimidos podem emergir ao longo das etapas de preparação para a tentativa do sono. E, sem convite e às vezes inesperadamente, somos surpreendidos por sentimentos de culpa, saudade, raiva ou até mesmo questões não resolvidas com quem partiu, acelerando nosso pensamento, gerando sensações físicas inadequada, impedindo, assim, o relaxamento necessário para dormir.

Por isso, o sono durante o luto pode se tornar um campo de batalha entre a necessidade de descanso e a força das emoções inconscientes que buscam ser reconhecidas ou elaboradas. Por isso, embora o luto precise seguir seu curso natural, algumas estratégias podem ajudar a tornar o sono mais tranquilo:

1. Buscar suporte emocional

A escuta psicanalítica, por exemplo, pode ajudar a dar sentido à perda e aliviar os sintomas do luto, incluindo os distúrbios do sono. Conversar sobre a dor permite que ela seja processada com mais suavidade. Mas, cuidado! O luto é um momento no qual tendemos a estar mais fragilizados, o que pode nos expor a todo o tipo de charlatanismo. Procure uma terapia e um terapeuta que saiba como lidar profissional e eticamente com o seu processo.

 2. Criar um ritual noturno

Antes de dormir, você pode experimentar escrever em um caderno ou diário sobre os sentimentos que está sentido no momento. Fazer uma leitura leve pode ajudar no processo de relaxamento também. Evite o estímulo de telas e o excesso de hidratação ou bebidas e comidas que atrapalhem a fisiologia do sono.

3. Permitir-se sentir

Evitar ou reprimir a dor pode intensificá-la. Se for o caso, permita-se chorar, lembrar e falar sobre a pessoa que partiu. Converse com o seu terapeuta sobre essa parte da elaboração do luto e como ela ajuda a reduzir a ansiedade noturna.

4. Trabalhar o desapego simbólico

Manter objetos, roupas ou hábitos ligados a quem partiu pode ser reconfortante no início, mas com o tempo, é importante ressignificar essas lembranças para que a ausência siga seu curso natural para a saudade elaborada.

5. Técnicas de relaxamento

Respiração profunda, orações ou até mesmo um banho morno antes de dormir podem ajudar a acalmar o sistema nervoso e preparar o corpo para o descanso.

Dormir bem durante o luto não significa esquecer quem partiu, mas sim permitir que a mente e o corpo descansem para seguir o processo natural da perda. O luto tem seu próprio tempo e ritmo, e cada pessoa o vivencia de maneira singular. Olhar para essas questões com acolhimento pode ser o primeiro passo para um descanso mais tranquilo.

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Paulo Cotias é Psicanalista e Escritor.

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