José Facury
A tendência como torcedor seria eu ser flamenguista, por causa do meu velho pai e as cores do Moto Clube, do qual ele foi um dos seus fundadores. Lá, na velha São Luís, dentre os meninos da Rua do Sol, nas peladas, brincadeiras e inúmeros jogos, tínhamos um campeonato de botão, não daqueles de plástico que já vêm com os escudos colados neles, mas os de uso doméstico com os quatros furinhos para entrar a linha nos casacos dos antigos. Eram lindos estes apetrechos …
Os campeonatos disputados na casa de um dos moleques da Praça Deodoro, sobrava um time carioca que ninguém queria: o Botafogo ! Logo logo tratei de catá-los nos guarda roupas e na loja de um parente que vendia babilaques de alfaiates, estes quase sempre surrupiados…
Lixa, cera, parafina, flanela e o escrete estava pronto! Lá ia eu orgulhoso com meu Botafogo no bolso.
Aí, seis a dois no Fluminense no campeonato carioca de 1957 com cinco gols do Paulo Valentim e um de Garrincha, instalou-se o mais novo torcedor alvinegro. Apesar do time de botão sempre muito bem cuidado, não era muito bom nele, nem na pelada que, invariávelmente eu levava a bola, ja que meu pai libanês a vendia juntamente com utensílios de couro. Donde veio o apelido Zé da Síria ou Zé da Mala para diferençar dos outros tantos Zés do bairro. Daí pra frente o armarinho e os casacos dos parentes fizeram o resto até surgir nos anos seguintes o glorioso.
Vindo morar no Rio, o bairro do princípio era o do time e dentre varias idas e vindas vi vitórias grandiosas e derrotas trágicas desse meu time do velho coração meio combalido hoje.
Hoje, diante do privilégio de ter vivido e visto o passado e o presente concluo na reflexão: goleiro, dos muitos que passaram, o John não fica a dever; Nilton Santos era um defensor estiloso e os de hoje nem tanto, mas combatem com o mesmo denodo; Didi, além dos passes na categoria dos meias atuais tinha a “folha seca” em que a bola subia e depois caia dentro do gol num efeito impressionante . No ataque, bem! Igualando-os, somente os valores individuais de um Garrincha, Jairzinho, Amarildo e Zagalo, esnobavam em tantos gols. As retrancas, todas iguais! Antes com a bola de couro pesada e hoje com uma bem mais leve, que favorece um jogo rápido, não sabiam como quebrá-las a não ser com dribles desconcertantes.
Quem nasceu pra plantar belas flores não convive muito bem com os muros e cercas de arames farpados dentre elas…
JFH