Categorias
Artigo

DITADURA DO PROLETARIADO

Cláudio Leitão (*)

Estava, eu, esse pobre “esquerdopata” em um churrasco neste fim de semana, quando me vi cercado por bolsonaristas que comemoravam a vitória de Trump. Pensei, que furada ter aceitado este convite de um amigo. Preferi não falar nada e apenas ouvir as diatribes dos adeptos do mito. Entretanto, um deles viu na minha perna a tatuagem da foice e do martelo. Pronto, fui descoberto e tive que participar do colóquio.

Disse que o sonho de Trump era ser o “Putin americano”, mas que as instituições norte-americanas não deixariam. Aí piorei tudo, porque eles logo vieram com aquele papo de “ditaduras socialistas assassinas” e levantaram o polêmico conceito da “ditadura do proletariado”. Como percebi que estava diante de empregados de empresas e pequenos comerciantes, fiz um esforço para explicar melhor a história. Ao fim, alguns ficaram me olhando meio desconfiados do que contei. Pedi licença, falei com meu amigo e “piquei minha mula” do tal churrasco que estava até gostoso. A explicação que dei segue abaixo para compartilhar com vocês.

O conceito marxista de “ditadura do proletariado”, ao contrário do que muitos pensam, não tem nenhuma relação com as ditaduras do século XX e XXI. Estes são regimes antidemocráticos, reacionários e quase sempre militarizados. No século XIX, o conceito de ditadura tinha um sentido muito mais próximo de sua origem, na Roma antiga (dictatura). Essa “instituição” constituía um exercício de poder emergencial por um cidadão confiável com propósitos e duração limitada, normalmente no máximo por seis meses. Seu objetivo era preservar o “status quo” republicano do modelo romano.

Na análise marxista, a palavra se recobre de um novo sentido. A ditadura de uma classe não mais para a preservação do “status quo”, mas para a sua transformação, evitando assim uma recondução ao estado anterior desfavorável à classe trabalhadora. Quando se fala em “ditadura do proletariado”, e vale lembrar que proletariado quer dizer assalariado, a imagem que devemos imaginar não são campos de concentração para a classe média ou pelotões de fuzilamento para os ricos, rs, mas um período de transição no qual a condução política da sociedade é fruto da deliberação direta dos trabalhadores.

Um exemplo que se aproxima deste conceito é a Comuna de Paris. Não se permita a aceitar conceitos distorcidos pela extrema direita. Ah, e cuidado com os convites para churrascos !!

(*) Claudio Leitão é economista e professor de história.

Compartilhe este Post com seus amigos:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *