Cláudio Peres Leitão (*)
O mundo está apreensivo e estupefato com o conflito entre Israel, Hamas, Hezbollah e até o Irã por tabela. É difícil até adjetivar este conflito, guerra não é. Existe uma enorme desproporção de forças. O Hamas e o Hezbollah não são Estados. São grupos extremistas islâmicos, que governam precariamente, a Faixa de Gaza com a Lei da Sharia no caso do Hamas, e o sul do Líbano, além de participar do parlamento libanês como partido político, no caso do Hesbollah. Ambos são apoiados pelo Irã.
Na resposta a estas agressões, Israel retalia para atingir o Hamas e o Hesbollah, mas sempre de forma desproporcional, massacrando a população civil palestina e libanesa, impondo restrições das condições de vida e morte por bombardeios contínuos. Tais medidas já foram condenados pela ONU nesta e em outras oportunidades anteriores.
A questão nada tem a ver com religião. É incrível como tem pessoas evangélicas que acham isso. O conflito é territorial. Israel há mais de 70 anos vem invadindo e ocupando terras palestinas descumprindo Convenções Internacionais, oprimindo e segregando o povo palestino. Isso é fato inegável. O mundo silencia para isso. O apoio incondicional dos EUA ao estado judeu é fundamental para essa inação dos organismos internacionais.
Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo. Vive controlada pelo exército israelense e em constante crise humanitária. Depende para a sua sobrevivência de ajuda internacional, principalmente em comida e remédios. Israel controla tudo que entra e sai de Gaza há décadas.
País nenhum, inclusive os EUA, quando atacado por grupos terroristas, respondem a isso e “caçam” terroristas com ataque e mortes a população civil. A imprensa brasileira em sua maioria, ao retratar o conflito, mostra um claro favorecimento a Israel em sua linha editorial. Fatos históricos são omitidos e a violência praticada contra mulheres e crianças palestinas e libanesas são minimizadas. É uma vergonha.
Israel pratica um apartheid interno contra a população árabe-israelense que mora em Israel, reduzindo seus direitos de cidadania quando comparado aos judeus. Isso precisa ser dito para o mundo. A extrema direita hoje no poder em Israel foi avisada pelo serviço secreto egípcio que o Hamas preparava uma grande ação armada contra o país. Netanyahu ignorou os avisos de propósito, segundo fontes jornalísticas árabes, exatamente para forçar o conflito, entretanto, calculou mal o tamanho da catástrofe e as repercussões.
O objetivo é ocupar Gaza e forçar a saída dos palestinos. Ele já disse em entrevistas que a resposta israelense seria devastadora e “transformaria Gaza num deserto”. O sentimento que move estes sionistas é de vingança contra todo um povo. O premier israelense precisa da guerra para permanecer no poder. Qualquer atentado terrorista deve ser condenado por todos, mas um Estado estabelecido não pode responder com práticas iguais.
Grupos terroristas são marginais a leis internacionais e ao bom senso da civilização, mas um estado estabelecido não é. Tem que seguir a Lei e as Convenções Internacionais. Israel comete claramente crimes de guerra em Gaza e no Líbano. Isso é outro fato incontestável. O “direito de defesa israelense” não lhe dá direito de matar palestinos e libaneses inocentes. O problema destes radicais sionistas é que eles acham que todo palestino é culpado por existir o Hamas e todo libanês por existir o Hezbollah.
Na década de 90, tanto os EUA quanto o próprio Israel ajudaram a fortalecer o Hamas para enfrentar o Fatah/OLP, outro grupo islâmico que governa a Cisjordânia e abandonou a luta armada. O quadro no Oriente Médio sempre foi complexo e não dá para ser retratado num pequeno texto, mas recomendo a todos não se informarem apenas pela mídia tradicional. Leiam outros autores e procurem também ver e ouvir as mídias alternativas.
A guerra é uma estupidez e contraria a lógica humana, já dizia Neruda.
(*) Claudio Leitão é economista e professor de história.