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UM NOVO OLHAR PARA A PAISAGEM DE TODO DIA

Luciana G. Rugani

Os moradores de uma cidade costumam se acostumar com as paisagens e com a rotina do dia a dia e acabam se esquecendo de observar detalhes. Os encantos naturais acabam sendo banalizados e a grandiosidade que representam acaba sendo esquecida. Assim percebo, por exemplo, quando observo pessoas que passam pela beira-mar, seja em automóveis ou mesmo a pé, e seguem seu rumo sem um mínimo gesto, nem mesmo um rápido olhar, de admiração ou de gratidão àquela natureza exuberante. Ou quando vejo, no fim de tarde, pessoas que seguem pelas ruas em suas costumeiras impaciências, enquanto, um pouco mais alto, um brilho de sol poente atravessa a folhagem criando um foco mágico. Ou ainda, quando esse foco mágico vem de uma construção antiga em que damos o zoom para uma bela foto.
Essas pequenas observações, quando tornam-se conduta habitual, criam em nós o costume da gratidão e o aprendizado da valoração da natureza e do ambiente urbano em que vivemos. Aprendemos a perceber e a dar valor ao que, de belo, temos.
É lamentável quando ouvimos cidadãos desvalorizando seus espaços ou suas praias, cidadãos que costumam passar anos e anos sem ao menos sentar à beira-mar e observar por alguns minutos, ou anos e anos sem ir à praia de sua cidade. Claro que em toda cidade há problemas, isso é inquestionável. Mas criar o hábito de generalizar o mal, e nem perceber a preciosidade com a qual a vida nos brinda gratuitamente, acaba levando a um sentimento geral de desalento e de silêncio, de uma postura do tipo “a mim pouco importa” perante aqueles que conhecem o valor de nossa região, porém dela querem apenas sugar e explorar para seus próprios interesses.
Há poucos dias, um porto-alegrense, que, pela primeira vez, esteve a trabalho aqui na cidade, foi conhecer a nossa Praia do Forte. Pisou na areia, molhou os pés e disse: “Não acredito!! Água limpa!! Uma praia dessa na cidade e com água limpa!”. Essa fala dele gerou em mim essa reflexão, e eu pensei: “Olha só, ele valoriza algo que, para tantos cabo-frienses que transitam por aí, nem é percebido, tampouco admirado!”.
Em muitas cidades praianas, inclusive em algumas capitais, o banho de mar costuma não ser recomendado em razão de poluição. As praias frequentáveis ficam bem mais afastadas. Por isso, muitos turistas se encantam tanto com nossa região, pois ainda temos, bem perto de nós, praias lindas e frequentáveis. Ainda podemos observar um pôr-do-sol colorido, podemos sentir uma brisa quase que constante e suave, que torna possível uma vida mais saudável. Se não fosse essa brisa, a sensação térmica seria assustadora!
Há aqueles que valorizam positivamente e se encantam, como foi o caso do porto-alegrense que mencionei. Entretanto, há também aqueles que conhecem o valor dos espaços, sejam eles naturais ou urbanos, porém os enxergam com olhos de ambição e ganância, ideias de “acessos exclusivos”, “privatizações”, “especulação”. Esses, quando encontram uma sociedade que pouco valoriza seus espaços, que neles não marca presença, que se acostumou a realizar comparações sempre negativas e até preconceituosas, esses acabam contando com um solo farto para suas ações especulativas e seus propósitos destrutivos. Ao contrário, uma sociedade cujos membros são mais presentes nos espaços naturais, valorizando-os, observando as necessidades e pleiteando-as adequadamente, porém sem falas e sem comparações pejorativas e depreciativas, cujos membros sabem perceber a importância dos pequenos detalhes que fazem toda a diferença em prol de um ambiente mais saudável, certamente a “turma” dos especuladores encontraria uma dificuldade muito maior para se apoderar desse ambiente.
É essencial e urgente que resgatemos, ou que criemos, o hábito de olhar a cidade nossa de todo dia com um olhar mais profundo, empático e consciente.

Luciana G. Rugani
Academia de Letras e Artes de Cabo Frio – ALACAF e Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA

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