Thiago de Mello – 1926/2022.
Cresci menino com Deus.
Minha mãe acho que foi
quem Deus pôs dentro de mim.
Dentro de mim, mas não meu.
Não foi um amigo de infância.
Não me deixava à vontade
(nem nos banhos escondidos
na fundura do meu rio).
Não me deixava ser eu,
ser livre: sua presença
– uma lâmina suspensa
constante na minha vida –
me dava um grande temor.
Não me envergonho em dizer
que nunca lhe tive amor.
Por isso (suponho) foi
que um dia acordei sem Deus
(um dia quando os meus olhos
já conheciam o assombro).
Deus se perdeu. Não me achei
sozinho, me vi comigo.
(Talvez por isso eu carregue
esse ar de criança perdida.)
Contudo, dele restou
no chão triste da minha alma,
entre doce e dolorida,
mágoa que sabe a saudade.
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