Categorias
Pequenas Doses

OS DEBATES SOCIAIS

Luciana G. Rugani

Pessoas que dialogam respeitosamente constroem relações firmes e saudáveis. Uma população que utiliza o debate respeitoso e democrático como instrumento de compartilhamento de informações constrói uma sociedade mais cidadã e menos vulnerável à desinformação.
O Brasil, um país que, segundo pesquisa do Instituto da Democracia, publicada no ano passado, possui 20% de sua população acreditando que a Terra é plana, infelizmente ainda caminha muito devagar em relação aos debates sociais. Grande parcela da população simplesmente não se interessa por debater temas sociais e confunde “Política” com “política partidária”. Muitos dizem não se interessar por política, evitam qualquer tipo de debate social e acabam estipulando regras de convivência que determinam o silêncio, em relação a assuntos políticos, em seus grupos sociais. Em anos eleitorais, esses assuntos acabam sendo mais debatidos, porém, ainda assim, com restrições ou de maneira menos crítica, menos sensata e, lamentavelmente, mais apaixonada.
Quando falo “Política”, com “P” maiúsculo, refiro-me à constante busca pela harmonização dos mais diversos interesses existentes, sempre com foco no bem comum. E essa Política, todos nós a exercemos em nosso cotidiano, seja em círculos mais restritos, como em nossa família ou em nossa vizinhança, seja em nível mais amplo, como em um país ou entre nações. Por isso, todo debate social é também um debate político.
Na Grécia antiga, os temas eram levados para discussão na “pólis”, que eram as comunidades urbanas compostas por cidadãos, sendo esses, conforme definido pela lei da época, os homens livres que adquiriam maior idade. Na pólis, aconteciam os debates sobre os problemas sociais da época e suas possíveis soluções, daí surgiu o termo “Política”.
É fato, portanto, que todo debate social é também um debate político. Defender esse ou aquele político não é um debate político-social, e sim político-partidário. Parece algo óbvio e simples, porém nunca o óbvio precisou tanto ser reafirmado como nos dias atuais! O debate social discute sobre os problemas de uma sociedade, busca a propositura de sugestões e o elucidamento dos cidadãos. E são muito necessários tais debates, pois eles permitem analisar, um exemplo hipotetico, por que uma região propensa a inundações tem reserva pífia de recursos para a prevenção de enchentes, enquanto outra região, com risco quase zero de alagamentos, verba polpuda é direcionada para o mesmo fim. Os debates sociais também nos possibilitam uma ampliação de visão sobre a importância da ação do poder público para alavancar determinado setor econômico e nos propicia o aprendizado de que é essencial a nossa persistência e a nossa resistência em prol de alguma causa, porém nossa atitude cidadã não deve ser motivo para embasar a ideia de falência de sistemas públicos. Os debates sociais nos esclarecem com verdade, com ciência, estudo e pesquisa, ao contrário dos debates partidários que, muitas vezes, acontecem sem nenhum embasamento real, muito pelo contrário, frequentemente acontece sobre falsos pilares e desinformação.
E, já que estamos em ano de eleições municipais, é importante dizer que os debates sociais nos ajudam a enxergar a verdade por trás dos slogans e das frases prontas das campanhas eleitorais e a escolher qual o projeto de cidade que desejamos. Ao promoverem mais esclarecimento, os debates sociais nos ajudam a escolher entre modelos que repetem velhos erros e hábitos crônicos, danosos para a sociedade, e modelos que rompem com esse velho padrão, trazendo uma proposta de administração mais ética e consoante com os princípios constitucionais administrativos. Os debates abrem caminho para maior esclarecimento, porém a determinação de cada cidadão de mudar em si o que deseja mudar na sociedade, ou seja, de deixar de lado a visão da política como meio de obter vantagens pessoais, é essencial para que a sociedade possa avançar. Somente com mais consciência social, adquirida pelo conhecimento e pela mudança dos velhos e danosos hábitos sociais, uma sociedade pode avançar, exigir mais respeito por parte de seus governantes e parar de sofrer sempre com os mesmos problemas.

Luciana G. Rugani
Academia de Letras e Artes de Cabo Frio – ALACAF e
Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA

Compartilhe este Post com seus amigos:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *