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REFLEXÕES

Fernando Chagas (*)

Cabo Frio é uma cidade que permite muitas reflexões acerca da dinâmica política, especialmente em tempos de eleição. Ao me deparar com Jânio, Alair e Marquinho, adversários políticos históricos, mantendo juntos uma conversa civilizada sobre a política de nossa cidade, me lembro de Hannah Arendt, filósofa política do século XX. Ela diria que o verdadeiro poder político não reside no uso legítimo da força, mas emerge quando indivíduos distintos colaboram e chegam a um consenso, mesmo com pontos de vista divergentes e até muitas vezes antagônicos.

O interessante é que, nesses encontros raros e incomuns, pelo menos quando publicizados, pode-se até dizer em voz de senso comum que eles sempre foram iguais, ou no jargão popular “farinha do mesmo saco”, mas não são, porque guardam diferenças marcantes entre si. Chama também a atenção que as decisões políticas nesses momentos excepcionais de encontros inusitados são moldadas pelo tempo; ou seja, os resultados não aparecem de imediato, sobretudo para a maioria da população.

Mas, para aqueles que têm disposição para viver esse tempo, que transita sempre entre o amargor da derrota e a esperança da vitória, ele permite a reflexão e possíveis mudanças no caminho em busca desse poder político e seus benefícios. Weber, sociólogo alemão, diria que esses três bons moços possuem a vocação para a política e sabem bem como articulá-la.

A vitória de José Bonifácio em 2020 foi um tipo de “soft power” político — um poder baseado no diálogo civilizado e na colaboração com seus adversários históricos — que, mesmo momentâneo, permitiu a manutenção de uma certa hegemonia do poder local, espantando a ameaça de fora.
Cabe agora esperar e ver se a história irá se repetir.

(*) Fernando Chagas é músico e produtor cultural.

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