Cláudio Leitão (*)
Este texto foi produzido a partir de um outro texto do meu amigo, Professor de Língua Portuguesa, ativista político e ambiental, “cabra de esquerda raiz”, Edson Amaro de Souza. Versa de forma sarcástica e bem humorada sobre a luta de classes e a caracterização equivocada que a extrema direita brasileira dá ao fato. O novo texto reforça também o protesto contra essa onda discriminatória que querem imputar aos professores das escolas públicas de fazer “doutrinação ensinando marxismo e luta de classes nas escolas”, como se o marxismo fosse um grande delírio criado por um judeu ateu maluco para semear a discórdia.
Se eles fossem honestos admitiriam que Marx não inventou a luta de classes. Ele apenas estudou e escreveu sobre ela. Spartacus e Crixus não eram “filiados ao Partido Comunista de Roma”, mas lideraram os escravos que desejavam lutar por liberdade e não aceitavam mais a cruel servidão a que eram submetidos. Avançando, no século XIV, quando a burguesia começava a colocar suas “manguinhas de fora”, Boccaccio escreveu o “Decameron”, apontando as virtudes dos burgueses e os vícios da nobreza e do clero. Entre as linhas de suas histórias de amor e safadeza se vê um projeto de poder e exploração das camadas mais pobres.
Lutero teve sucesso em sua revolta contra a Igreja porque a burguesia viu em sua teologia dissidente a possibilidade de se contrapor ao clero e à nobreza. E na mesma época, “hereges” que radicalizaram em sua interpretação do Evangelho se revoltaram e quiseram extinguir a propriedade privada. Não eram comunistas, mas sim, anabatistas. E Engels, parceiro de Marx, escreveu sobre eles no século XIX.
A Revolução Cubana ainda não tinha acontecido quando Zumbi dos Palmares liderou a resistência dos negros. O PSTU não participou da Revolução Francesa. O PSOL não participou da Independência dos Estados Unidos. Ambos foram movimentos contra a monarquia. Inclusive, na Revolução Francesa o povo quis radicalizar muito mais do que o PCO, PSTU e a UP já ousaram propor até hoje. A Abolição da escravidão no Brasil não foi uma gentileza da princesa Isabel. Foi, novamente, luta de classes, até com uma certa ajuda de liberais.
A teoria da luta de classes está longe de ser uma fantasia ou uma invenção da esquerda internacional “exportada para o Brasil”. Ela existe desde que o mundo se organizou em sociedade e se iniciou os processos exploratórios de uma classe sobre outra, visando a acumulação de lucros e capital. A produção de riqueza jamais contemplou a todos os povos e classes sociais com igualdade, muito pelo contrário. Uma rápida leitura da história humana no planeta mostra isso com uma clareza indiscutível.
Portanto companheiros, Marx nada mais fez do que alongar em milhares de páginas o que Shakespeare demonstrou no primeiro ato de “Coriolano”. Que tal a leitura de Shakespeare?
Claudio Leitão é economista, professor de história e pré-candidato a vereador pelo PSOL.