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A CRISE DO INDIVIDUALISMO

Luciana G. Rugani (*)

Imagine uma casa em que residem pessoas de diferentes estilos, hábitos e concepções de vida. Se houver a predominância do individualismo, essa casa acabará sendo destruída e ali será um ambiente no qual viver acabará tornando-se impossível. A qualidade de vida irá, aos poucos, diminuindo, cada um fará a reforma do seu quarto da forma que quiser, sem se preocupar com a capacidade total da casa, os hábitos de um acabarão infernizando a paz do outro e, em consequência, do conjunto. De igual maneira, observemos o perfeito funcionamento de uma colônia de abelhas, ou de formigas. Ampliemos nosso olhar para a harmonia e para a milimetricamente calculada perfeição do universo, onde os planetas e satélites, cada um na sua singularidade, se movimentam e interagem suas forças de forma perfeitamente equilibrada. E não paremos por aí, observemos também o organismo humano, inteligentemente organizado.
Do micro ao macrocosmo, as leis naturais são as mesmas, portanto, por meio da mera observação, podemos auferir conhecimento de grande utilidade na busca de soluções para nossos problemas atuais, os quais sempre decorrem de algum tipo de desequilíbrio. Na atualidade, temos catástrofes ambientais, como a do Rio Grande do Sul; em Minas Gerais, temos cidades em que já ocorreu rompimento de barragens e outras com alto risco de rompimento; temos desabamentos nas regiões serranas; avanço do mar em regiões litorâneas, e por aí vai. Há muito tempo, o planeta dá sinais de que o limite para exploração sem critérios e sem visão holística foi ultrapassado. Sabemos que o planeta é um organismo vivo, em constante transformação, assim como tudo na natureza. Em razão disso, ele tem seus ciclos de retenção e expansão, e assim acontece, por exemplo, com seus rios e mares. Contudo, a frequente intervenção humana com foco apenas no lucro momentâneo, sem estudos adequados, sem respeito aos limites naturais e, principalmente, com predomínio do individualismo que exclui, que segrega e que dá as costas à empatia social, acelera e agrava os eventos cíclicos da natureza, além dos danos intrínsecos às atividades executadas. Na saúde, quando o individualismo impera, percebemos que há o agravamento de epidemias e pandemias. Na epidemia de dengue, por exemplo, um dos fatores que mais agrava a questão é a falta de hábito de se pensar coletivamente o ambiente. O individualismo de alguém, por exemplo, não se importar com o descarte adequado dos entulhos de obra que executa, ou de não dispensar, à área comum, o mesmo cuidado que dedica à sua área privativa. A pandemia de covid-19 agravou-se em razão do individualismo de tantos que não se preocuparam em conter a transmissão e não pensaram a doença de maneira empática. Na economia, o capital, como “mão invisível” organizadora da sociedade, mostrou-se incapaz. A visão liberal, alicerçada no individualismo e desconectada da dura realidade das diferenças sociais, agrava problemas que, na realidade, são de todos.
Ao observar e analisar os fatos de maneira mais profunda e real, veremos que todos os problemas atuais possuem, como agravante, alguma forma de desequilíbrio entre o pensar coletivo e o pensar individual. O planeta, a natureza e a vida, em sua integralidade, gritam que o individualismo está em crise. Olhar um local, ou uma região, de maneira desconectada do todo, ter o lucro e a valorização como mentores, pouco importando os impactos social e ambiental, com desrespeito ao direito coletivo e ao uso equilibrado do espaço, contribuindo para o agravamento das desigualdades sociais, sem minimizá-las por meio da organização do espaço para uso de todos, é acelerar o caminho para o caos e contribuir para tornar a vida cada vez mais impossível no planeta.

(*) Luciana G. Rugani
Academia de Letras e Artes de Cabo Frio – ALACAF e
Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA
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5 respostas em “A CRISE DO INDIVIDUALISMO”

Parabéns Luciana, seu raciocínio sobre o equilíbrio dinâmico da natureza , do universo é fato que lidamos todo o tempo e até em nós mesmos . A Terra está avisando que continuará seu passeio pela galáxia sem, é claro, a espécie Homo Sapiens Sapiens.

O presente artigo certamente é mais que uma brilhante reflexão, é uma profecia que nos alerta sobre eventos de um futuro próximo, prelúdio de um tempo sombrio e catastrófico se continuarmos a caminhar mantendo esse comportamento egóico. Parabéns Luciana 👏🏻👏🏻👏🏻

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