DISTOPIA & UTOPIA

Luciana G. Rugani

Divagando entre distopia e utopia e tendo como cenário as tantas incongruências que se manifestam na atualidade, tive a ideia de buscar palavras iniciadas pelo som de “d” e de “u”, respectivamente, para caracterizar situações de distopia e de utopia.
Falando sobre distopia, descrevo resumidamente o panorama de certa parte da sociedade que se deixa levar pelas artimanhas negacionistas atuais. Nega-se tudo, desde direitos até verdades científicas. O que antes era óbvio e não precisava ser dito, hoje é preciso que se diga e, ainda assim, muitos ouvidos fecham-se à realidade. Negam notícias reais e embasadas, negam apurações, provas incontestes, negam hoje o que falaram ontem, e, paradoxalmente, acreditam que a Terra é plana, que a vacina mata e que o comprovado bandido é mito. Negam direitos pois acreditam que direitos humanos e direitos trabalhistas são pedras no caminho. Negam o Estado que não se mistura com nenhuma religião, negam as religiões de outros, na triste ilusão de que suas próprias crenças são a única verdade. Negam a unidade e a universalidade, pregam a divisão, a destruição, o ódio, o despeito e o desrespeito, levando a uma total demolição da sociedade. Ao seguir dessa maneira, o resultado será profundo desequilíbrio social e generalizado desalento.
Mas, nem tudo está perdido. Temos opções! Podemos escolher o que parece ser, dentro desse panorama, uma completa utopia que, no entanto, é possível. Basta abrir os olhos e enxergar com mais consciência, mergulhar, ao invés de apenas nadar no raso, buscar compreender a realidade e as forças que nela atuam e não simplesmente sair por aí acreditando em qualquer mensagem aterrorizante de whatsapp. Neste outro caminho, ao qual chamarei “utopia”, a união de esforços está presente, o respeito, a sacralidade do outro, o tratar com urbanidade, tendo, por princípio, a unidade, o que nos levará ao “Ubuntu” que, no idioma sul-africano, significa, resumidamente, a “humanidade para todos”. Cada um, com sua própria singularidade, somado a outros e todos optando por viver conforme essa “utopia”, a voz será uníssona no grito de harmonia e o ululante será a universalidade de direitos e a consciência de que somos unidade, o que levará a uma inequívoca fartura de humanidade!

Distopia

Divisão,
Despeito,
Desrespeito,
Destruição,
Demolição.

Desatino,
Derradeiro destino:
Desequilíbrio.
Desumano desfecho:
Desalento.

Utopia

União,
Unção,
Urbanidade,
Unidade,
Ubuntu.

Uníssono,
Ululante:
Universalidade.
Unívoca uberdade:
hUmanidade.

Luciana G. Rugani
Academia de Letras e Artes de Cabo Frio – ALACAF e Academia de Letras de São Pedro da Aldeia – ALSPA