Cláudio Leitão
No último 18 de março comemoramos 153 anos da Comuna. Em 18 de março de 1871 ela foi instalada e se constituiu num dos períodos mais gloriosos da História. Serão dois poucos meses de existência apenas, mas dois meses onde a humanidade conheceu o mais avançado modelo de sociedade livre, democrática e igualitária.
Modelo contra o qual a burguesia não hesita em expor seu caráter genocida de classe pela forma como a reprime e a liquida. Foi uma experiência revolucionária de onde Marx retira e divulga aprendizado concreto sobre os processos a serem seguidos pelas lutas revolucionárias posteriores.
A Comuna, humanista e generosa, coloca para fora de Paris o governo traidor de Thiers, que segue para Versailles onde já está instalada Assembleia Nacional, majoritariamente reacionária, eleita pouco antes com os votos das províncias conservadoras. A Comuna não o persegue, se submetendo à lógica defensiva de manutenção de domínios e na construção de seu modelo original de Estado, onde os proletários tinham hegemonia absoluta.
As observações de Marx em relação a Comuna, servem para o que a esquerda no Brasil e no mundo, hoje vivem. O defensivismo marcante que pauta os movimentos de composição com supostos setores dissidentes das classes dominantes, alinhadas com a essência privatista e antissocial do governo passado, só resultaram em recomposição desses segmentos classistas. Uma recomposição que, com métodos mais palatáveis, vai manter o mesmo caráter anti-povo e pró-grande capital que desejavam ver instalado com a eleição de Bolsonaro.
Eles não mudam sua perversidade interna e subalternidade externa. As forças de esquerda é que não podem continuar cometendo os erros de acomodação “melhorista”, conciliando com as ilusões do identitarismo, do empreendedorismo e da “inclusão”.
O maior legado que a Comuna deixou é de coragem e consciência de classe. A luta deve prosseguir mesmo diante no novo governo Lula em que também estão presentes estas forças reacionárias.
Claudio Leitão é economista e professor de história.