Paulo Cotias
O tipo de político necessário aos tempos atuais é diferente do modelo tradicional. Até então, sempre nos deparamos com personagens que se apresentam como salvadores, como figuras paternais ou maternais, ou ainda como articuladores. Isso quando não surgem figuras autoritárias e perigosamente narcisistas. É claro que, atualmente, essas figuras ainda são prevalentes. Afinal, a preocupação peremptória destes é, primeiro, o próprio benefício e a acomodação familiar, passando para a quitação dos compromissos usando os recursos públicos para financiadores monetários e fiadores eleitorais e, por fim, o da alocação nas estruturas públicas dos apoiadores locais.
Nesse modelo, a única mudança possível e propagada como novidade, é a que traz a certeza de que novas caras vão ocupar cargos, funções, prebendas ou obter alguma vantagem que, em função de outro grupo estar ainda no poder, não se pode ter. Ou seja, para fins sociais, o atendimento aos direitos fundamentais dos cidadãos, as promessas e obrigações do estado democrático por meio dos seus governos constituídos, são questões tratadas de três modos: manutenção precária do que já se arrasta, mudança de nome para velhas propostas ou a simples degradação. E, para todas, elas, as equipes de marketing e os pendurados em estado de precariedade nas generosas folhas de pagamento se encarregam de propagar com ferocidade a distopia que insistem em ser real.
Portanto, políticos assim não são necessários para municípios, estados ou para o país. São necessários apenas para seus núcleos. E qual seria o perfil necessário?
É claro que o político necessário se coloque nas disputas eleitorais com certa capacidade de articulação. No entanto, ela precisa estar centrada mais em alinhamento de projetos do que nas acomodações do empreguismo. Precisa desenvolver a capacidade de dialogar com eficiência, mas demarcando claramente o seu lugar, ou seja, conversar com todos não significa ceder ou comprometer-se cinicamente com o que aparecer pela frente em troca do apoio. Até porque, como não existe almoço gratuito e a fatura será cobrada. Pode parecer utópico, mas o político necessário precisa não ser corrupto. Hoje é simples para todos (menos para as autoridades) que o enriquecimento de vasta classe política é visivelmente incompatível e inexplicável sob qualquer ponto de vista da decência ou das relações de trabalho convencionais (inclusive o próprio trabalho político). Mesmo que usem largamente os artifícios de ocultação patrimonial, tudo é absurdamente notório.
Precisamos de políticos que mantenham o carisma necessário, mas que não façam da sua imagem a plataforma. Ou seja, de políticos inteligentes. Usando a inteligência, saberá escolher inteligentes e capazes. Fazendo isso, pode se permitir trabalhar com dados. Dados, são a matéria-prima da política que o mundo precisa na atualidade. Sem eles, não há como fazer nenhum plano de governo factível, muito menos, fazer acontecer. É nisso que temos que pensar.
Paulo Cotias é Professor, historiador, psicanalista e escritor.
Uma resposta em “O POLÍTICO NECESSÁRIO”
Trouxe verdades! O politico atua em benefício próprio e do seu núcleo, que vai perpetua-lo no poder e ao mesmo tempo ser beneficiado por questões que não deveriam ser moeda de troca e sim obrigação do poder público, como emprego, saúde, educação, saneamento, moradia, lazer… uma perfeita simbiose, um paradigma difícil de ser quebrado.