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ARARA BÊBADA

Dalton Trevisan

Seria um donzel até ganhar a confiança de sua bela. – Você é loira natural?

– O doutor não vê?

– A fama da loira é de fria. Só que não acredito.

– A loira não é feito a morena.

– A morena é mais carinhosa. Você não é católica, é?

– Sou calvinista.

Calvinista, ai, de rostinho abrasado na mesma hora.

– A religião moderna não faz, assim, da virgindade um cavalo de batalha. A moça, sendo direita, pode ter experiência.
Autorizada pelo pastor e conhecer os prazeres da vida.

– Sabia que os turistas acham uma graça em nosso conceito de virgindade?

– Nunca soube.

– Você é temperamento calmo ou nervoso?

– Sou calma.

– Tem os atributos da nervosa; ainda não sabe que é. Suas medidas são perfeitas. Não é você que joga vôlei?

– É, sim.

– Gostaria de a ter visto de calção. Joga bem?

Sorriso acanhado no canto do lábio. Brinco de fantasia na orelha. Dente miúdo, o da frente escurinho. Mãe do céu, a barra da saia rendada aparecendo.

– O vôlei não deixa a perna musculosa?

– Não, o esforço é com o braço. Bicicleta deixa. Uma colega tem perna assim, de tanto pedalar.

– Moça conhecida?

– Não do senhor.

– Suas formas, pelo que vejo, são ideais. Qual é o manequim?

– Quarenta e quatro em cima. Depois alarga para quarenta e seis.

– De busto?

– Noventa e três.

O herói fechou o olho: Ai, que beleza! Ai, que bom, noventa e três!

– De quadris?

– Pouco mais.

– Noventa e cinco?

– É.

Ó, Deus do céu, noventa e cinco!

Sentadinha, bem composta. Sem cruzar o joelho nem uma vez. Ai, se ela erguesse a saia… só um pouquinho.

– Não é perseguida na rua? Tão apeti… bonitinha. Como é que se defende dos piratas? Ora essa, pirata – é gíria de meu pai.

– O que não sei é a medida da coxa.

A palavra coxa uma laranja inteira na boca.

– De tornozelo é vinte e um.

– Uma perfeição da mulher é a perna. Mais branca do joelho para cima? Baixou os olhos, vermelhinha:

– É.

– Muito mais?

Quem me dera ser mulher – não faria mais que adorar no espelho as minhas prendas.

– Você tem alguma experiência?

– Deus me livre!

Nervosa, afastou o cabelo do olho piscante. Agitado, o peitinho estalava os botões da blusa – não há peso mais doce que um seio maduro na concha da mão.

– Você é fria?

Nem uma é fria se você lhe der três mordidas na nuca.

– É tarde. Preciso ir. Até amanhã, doutor.

Assustei a bichinha, fugiu pela porta aberta. Ai de mim, quem ouve, quem atende o soluço da arara bêbada?

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