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POPULISMO – CONCEITO E PRECONCEITO

Segundo o filósofo italiano Bifo Berardi, a palavra populismo, muito usada nestes tempos pela mídia tradicional significa uma fraude. Não explica coisa nenhuma. Ele vai mais fundo para diagnosticar os desencontros presentes na visão dos “iluminados da grande mídia” dizendo que esta é uma palavra sem conceito e que exala preconceito. A massificação deste conceito se deu por iniciativa de autores neoliberais. Particularmente, eu concordo com a visão de Bifo, pois sempre achei que populismo é uma palavra desencaixada.

É sempre um tema polêmico, mas é a minha opinião e é óbvio que respeito opiniões contrárias. Tentam caracterizar como populistas todos aqueles agentes políticos que defendem ações que possam beneficiar de alguma forma os desvalidos e os mais pobres, sob o argumento de que eles atacam o orçamento público na defesa de seus interesses eleitorais. Esta também é uma visão clássica dos “economistas do mercado”.

A mídia burguesa faz, e faz muito bem, com que as pessoas acreditem que qualquer programa de governo que apresente propostas para atacar as mazelas sociais produzidas por décadas de governos neoliberais é “populismo”. Para esta mídia “algo bom em economia” é tudo que atende aos ditames do mercado. Associam essas medidas de caráter social ao socialismo, irresponsabilidade fiscal e privilégios as minorias. Desta forma, tornou-se um pecado capital discutir soluções para a preservação e ampliação dos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários.

Defender estas políticas que são redutoras da sistêmica desigualdade social no país para estes críticos neoliberais é fazer demagogia. É estimular o déficit público e alimentar o processo inflacionário. Sendo assim, para que não haja tais efeitos na economia, o melhor e mais “racional” para os ricos é viverem de renda e para os pobres viverem de “brisa” ou ao “deus dará”.

Eleições burguesas são e sempre serão uma armadilha para os trabalhadores e para os mais pobres. Retratam um modelo onde está presente um estratagema muito bem pensado pelos marqueteiros de plantão que transformam seus bonecos ventríloquos em doces personagens de contos de fadas. Transformam o candidato em produto para “consumo eleitoral”. Para não parecer populista, muitas vezes certos segmentos da esquerda modificam seus discursos e se apresentam o mais palatável possível para agradar aos eleitores, principalmente os da classe média. Isso não surte efeito, não convence, porque todos são bonzinhos em campanha eleitoral, inclusive a direita mais reacionária.

Falar a verdade para as massas sem rodeios pode não resultar em muitos votos para candidaturas pobres em recursos midiáticos, entretanto, mesmo sem ilusões eleitorais, é preciso plantar a semente de um novo modelo de sociedade mais igualitário na mente dos trabalhadores e dos mais pobres. É fundamental dialogar e mostrar que as massas trabalhadoras e populares precisam ser assumir protagonistas da mudança. Antes de falar de populismo precisamos, hoje, discutir melhor qual é o papel do Estado na sociedade. Desde sua criação o “Estado” tem donos e estes nunca foram os trabalhadores e as camadas populares. Os do “andar de cima” lutam para manter privilégios, enquanto os do “andar de baixo” lutam por direitos elementares.

Claudio Leitão é economista e professor de história.

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