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TURISMO DE MASSA

Estamos na primavera, apesar da onda de calor pelo país, e daqui a pouco vamos entrar no verão. A opção feita pelos últimos prefeitos, principalmente Alair e Marquinhos, por um “turismo de massa” passa por um esgotamento na infraestrutura da cidade que não acompanhou a evolução com o aumento constante do número de visitantes. Este modelo já há algum tempo é questionada por alguns segmentos empresariais e por grande parte da população em função dos transtornos que causam.

A pasta do Turismo nestes governos, ao longo de mais de três décadas, raramente foi ocupada por um técnico ou um especialista na área. Nunca houve um projeto integrado e nem uma avaliação sobre as “perdas e ganhos” para a cidade deste modelo e seus impactos na vida do morador. Coloco abaixo algumas questões que na minha modesta opinião precisam ser avaliadas por um estudo técnico de viabilidade.

Por exemplo, a renda gerada e apropriada pelos comerciantes, hoteleiros e demais segmentos empresariais não são públicos e sim privadas, assim sendo, este ganho empresarial se transforma em impostos para o município? Quanto?  Gera quantos empregos de carteira assinada? Os gastos públicos na limpeza da cidade, em pessoal e maquinário mobilizados para tais tarefas, além de maiores investimentos na saúde devido ao aumento da demanda, compensam o retorno em impostos e em imagem para a cidade?

São questionamentos sem respostas. Não há nenhuma avaliação ao final da temporada. Mais da metade da população da cidade vive na informalidade, logo, esta opção pelo turismo massificado permite gerar emprego sem qualificação e de baixa remuneração para estas pessoas. É uma artimanha política pragmática que gera votos e aceitação, mas não tem um caráter duradouro. Não há um controle efetivo do número de trabalhadores autônomos. Existem escolhas por critérios políticos e não de necessidades reais para as pessoas exercerem o direito ao trabalho. Nunca houve um projeto integrado de qualificação profissional para melhorar a empregabilidade e a renda destas pessoas.

No verão todo este quadro de desorganização fica ainda mais evidente. Será que a população está feliz com tal quadro? O turista com este perfil pode até estar, mas a população não está e a mídia e as redes sociais constantemente revelam toda esta insatisfação. Alair no passado chegou a pedir ao morador para andar a pé e deixar os carros só para os visitantes, como se o verão fosse apenas para eles. O governo é eleito para governar prioritariamente para a população da cidade e ela nunca é consultada nas decisões políticas.  Participação popular na administração pública não é e nunca foi o forte “destes caras”.

Ao longo dos anos os valores gastos com shows milionários, hoje muito menos, porque a “vaca gorda do petróleo secou”, são a prova cabal desta irresponsabilidade. Foram milhões de reais gastos sem nenhuma transparência numa cidade que sempre atravessou sérios problemas na saúde, educação, transporte, saneamento e habitação popular. São escolhas feitas sob encomenda para gerar este perfil turístico e fazer a manutenção daquela velha política “pão e circo” que seduz uma parcela significativa da população, que não percebe que o benefício fugaz de uma renda extra neste período não compensa as agruras que vai no resto do ano em todas estas áreas de políticas públicas tão essenciais.

Por que não valorizar mais os artistas locais? Por que não descentralizar mais os locais para shows, abrindo possibilidades de uma variação maior de ritmos e estilos? Por que não implantar um projeto semelhantes às lonas culturais que demandam uma estrutura bem menor e mais barata e nem por isso menos divertida? Porque não temos um calendário turístico e o aproveitamento integral de todas as potencialidades de nossas belezas naturais na criação de novas modalidades turísticas?

É preciso construir um projeto de turismo que possa diversificar as opções e também o perfil dos turistas. Abrir possibilidades a todos. Não estou sugerindo uma política segregacionista e impeditiva do turismo mais massificado, mas é preciso buscar uma conciliação também com os interesses e as necessidades dos moradores. Falta interesse público, criatividade e ação. O problema é que “eles” têm uma necessidade enorme de se mostrarem “grandes realizadores” com o ego suplantando os interesses públicos e coletivos.

Claudio Leitão é economista e professor de história.

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