Diariamente, a população ao acordar e ver no noticiário matutino das TVs novos casos de incríveis safadezas com o dinheiro público sai de casa para o trabalho com um sentimento de indignação, misturado muitas vezes com um sentimento de impotência, imaginando e pensando o que se pode fazer para mudar este quadro.
Uma parte destas pessoas, de certa forma, já vai anestesiada sem se importar muito, imaginando que como boa parte destes crimes é cometida por ladrões engravatados, na maioria das vezes agentes políticos das mais diversas esferas de poder, os casos ficarão impunes ou empurrados “justiça abaixo” através das “chicanas processuais” promovidas pelos seus caros advogados. Roubar dinheiro público, prejudicar principalmente as pessoas humildes, já submetidas a todas as formas de negação dos seus direitos mais elementares, como educação, saúde, moradia, saneamento, emprego, transporte e segurança pública, tem que nos causar profunda tristeza e extrema indignação.
Neste momento, penso naqueles mais pobres que são presos por roubar uma lata de leite ou uma fruta no supermercado e são jogados em celas sub-humanas, e depois, acabam sendo violentados e arrastados pelas mazelas do sistema prisional brasileiro, que não recebe de maneira nenhuma, salvo exceções, ladrões de “hierarquia superior”. Os nossos magistrados, homens letrados nas leis, respaldam quase sempre este comportamento cínico de punição ao “andar de baixo” e covardemente são complacentes em seus rigores metodológicos do direito na hora de julgar a patifaria dos ladrões de gravata que convivem com eles no “andar de cima”. A justiça brasileira é segregacionista, cara e elitista.
Até quando estas gangues políticas vão conjugar o verbo roubar de todas as formas possíveis, e mesmo assim, vão continuar sendo eleitas para mandatos sucessivos com a cumplicidade de grande parte dos eleitores que aceitam esta vilania de forma passiva e natural? Até quando vamos assistir a este triste espetáculo político sem nenhuma reação, achando que é impossível mudar esta dramática realidade que hoje está nos impactando, mas que se nada for feito inviabilizará o futuro dos nossos filhos e netos?
Um vereador recebe mensalmente, dependendo do tamanho da cidade, entre 6 e 15 mil reais, um prefeito, entre 12 e 28 mil reais, deputados estaduais e federais, entre 25 e 35 mil reais. Governador e Presidente, também perto disso. Salários dignos que permitem aos políticos uma vida confortável, mas pela lógica formal, fiscal, financeira e contábil não permite enriquecer ninguém. Mas o que vemos com mais frequência são pessoas das camadas mais populares e até da classe média, encontrando na atividade política um trampolim para roubar descaradamente o erário público e afrontar a sociedade com uma evolução patrimonial inteiramente incompatível com a renda auferida proveniente dos vencimentos da atividade política. Qualquer semelhança com Cabo Frio não é mera coincidência.
Tenho certeza que quem lê este texto conhece pelo menos um político com este perfil. Muitos, como dito anteriormente, votam nele com uma estranha naturalidade passiva, provocada pela inocência de propósitos, ignorância política, ou o que é pior, pela desprezível cumplicidade com que grande parte da sociedade encara a corrupção em nossa cidade, em nosso estado e em nosso país. Tudo ou quase tudo em nossa vida depende de decisões políticas. Precisamos de agentes políticos que nos representem e não que nos substituam e tomem decisões afastadas das demandas populares.
É preciso continuar buscando alternativas que possam levar a uma ampla renovação dos quadros políticos. Não é fácil, pois não está escrito na testa de ninguém que “este cara vai dar certo”, mas permanecer com “os mesmos” no poder já mostrou que não resolve. É preciso coragem, ousadia e uma certa radicalidade, além de assumir os riscos e as responsabilidades que envolvem um processo de transformação social pela via coletiva e institucional do voto, enquanto a revolução não vem !!
Claudio Leitão é economista, professor de história e pré-candidato a vereador em 2024.