Um tema sobre o qual todos precisamos refletir de maneira mais profunda é o envelhecimento.
A nossa sociedade vive uma espécie de “culto à juventude” e quando vivenciamos alguma circunstância difícil, em relação a pessoas idosas, essa realidade torna-se ainda mais contundente. Tudo está organizado como se nunca fôssemos envelhecer e dentro de uma quase invisibilidade da pessoa idosa, chegando, em muitas situações, ao abominável etarismo, que é o preconceito em razão da idade. A começar por questões como mobilidade urbana e acessibilidade, que muitas vezes são esquecidas no dia a dia de uma cidade. Em relação a trabalho, há preconceito em relação a idosos, tanto para admissão como também durante a rotina de trabalho de uma empresa. E nem preciso mencionar como os governos, em especial os neoliberais, costumam tratar os idosos aposentados, haja vista a fatídica reforma da previdência aprovada em 2019!
As propagandas utilizam modelos jovens, ignorando que, por exemplo, o Dia das Mães e o Dia da Mulher também são das mulheres idosas. Tenho observado isso há algum tempo. No Dia das Mães, sinto falta de propagandas que exaltem o amor de uma mãe idosa. No Dia da Mulher, gostaria de ver propagandas exaltando a beleza de uma mulher idosa que teve a sabedoria de encarar o tempo como aliado, ao invés de algoz. E, além da preferência por modelos jovens, é intensa e repetida a transmissão de conteúdos com a mensagem ilusória de que a mulher não pode envelhecer e que, portanto, tem que se submeter a infindáveis procedimentos estéticos e manter-se sempre jovem, não importando as difíceis condições de vida de grande parte das mulheres brasileiras.
Por que costuma ser muito mais difícil contratar um cuidador de idosos do que uma babá ou uma faxineira? Em uma sociedade como a nossa, que está envelhecendo, deveria haver mais informações sobre cursos de cuidadores e sobre a profissão de cuidador, e não era pra ser tão mais difícil encontrar esse profissional do que uma faxineira ou uma babá.
Não vemos, por parte do poder público em geral, uma política pública dinâmica e moderna que busque preparar a sociedade para o envelhecimento, que se preocupe em promover e facilitar moradias tipo “cohousing” para que, os idosos que assim desejem, possam manter suas interações sociais e suas redes de apoio mútuo.
Em geral, não percebemos muita preocupação com a adequação do mobiliário urbano para as condições dos idosos, e vemos sinais luminosos para pedestres com tempo extremamente reduzido para a travessia, além de escassez de passeios com largura e em condições adequadas para uma caminhada segura.
Uma sociedade em que a preocupação central é o capital, o lucro, onde as pessoas ainda suscitam algum interesse quando possuem certa força produtiva e onde o envelhecimento é desprezado e ignorado é uma sociedade fadada à destruição, uma sociedade que esqueceu de si mesma e esqueceu seu dever de garantir um mínimo de vida digna para todos, inclusive para a população idosa, que também pode muito contribuir com sua experiência de vida. E os resultados nocivos dessa sociedade extremamente capitalista que ignora o envelhecimento é o que vemos hoje: consumismo exagerado, promoção de uma vaidade que extrapola o limite da normalidade, aumento de casos de depressão e solidão, desprezo com a preservação de nossa história e descaso com questões fundamentais para a população idosa.
É preciso pensar neste tema, refletir sobre ele como algo real, sem mergulhar na ilusão de ser possível conter o tempo. Identificar as principais necessidades e promover soluções, abraçando e aceitando essa etapa da vida com carinho, ao invés de ignorá-la ou de tentar, dela, fugir.
Luciana G. Rugani
5 respostas em “ENVELHECIMENTO”
Exatamente, cara amiga. A ausência de políticas públicas de inclusão e de adaptação para idosos praticamente inexiste. A cultura tbm está voltada a esse esquecimento em relação às necessidades dessa população que tem crescido muito no nosso país.
Luciana, parabéns pelo texto
Belo texto 👏 👏 👏
BELO TEXTO 👏 👏 👏
Transformar o ser humano, jesus também tentou. Conseguiu ? Mas vamos seguindo lutando e tentando. Adorei o texto, excelente.